PCP e BE receiam "amarras" do Eurogrupo a Centeno, PS tranquilo

por Lusa
Yves Herman - Reuters

Os eurodeputados do PCP e BE admitiram hoje receio de que a ação do ministro das Finanças, Mário Centeno, seja constrangida pela sua nova condição de presidente do Eurogrupo, enquanto o PS acredita que esses receios desaparecerão.

No final da primeira comparência de Centeno perante a Comissão de Assuntos Económicos do Parlamento Europeu desde a sua eleição, no mês passado, para a presidência do fórum de ministros das Finanças da zona euro, Miguel Viegas (PCP) e Marisa Matias (BE) admitiram recear que o ministro das Finanças fique sob a influência do Eurogrupo e "amarrado à `lengalenga`" do cumprimento das regras.

Já deputado Pedro Silva Pereira, do PS, disse acreditar que a ação de Mário Centeno à frente do Eurogrupo proporcionará um "terreno de muito maior convergência com os partidos à esquerda", que apoiam o Governo socialista na Assembleia da República, "do que porventura neste momento se antecipa".

Para Miguel Viegas, "a ideia que perpassa é que Mário Centeno está completamente amarrado àquilo que é a lengalenga habitual acerca do euro, das regras, da responsabilidade, da necessidade de cumprir tudo aquilo que está determinado nas recomendações por países".

"Portanto, nós saímos daqui profundamente receosos de que esta trajetória de recuperação que foi iniciada na sequência das eleições de 2015 possa de certa maneira estar em causa. Nós temos um período de crescimento económico que decorre de uma conjuntura favorável que tem permitido algum alívio. Agora o que tememos é que, na fase descendente do ciclo, que fatalmente terá que vir aí, o caráter perverso das regras do euro venha novamente ao de cima e que, nesse momento, o ministro não esteja em condições, face às responsabilidades que detém no Eurogrupo, de fazer frente e bater o pé às instituições da UE", declarou.

Para Maria Matias, "há uma diferença entre o que é ser ministro das Finanças português e ser presidente do Eurogrupo, e obviamente que ser presidente do Eurogrupo tem constrangimentos na abordagem dos problemas que não se tem enquanto ministro das Finanças".

"Isso é compreensível, e é aliás uma das razões pelas quais nós tivemos reservas em relação a esta nomeação, porque creio que limita a ação de Mário Centeno mais do que libertá-lo. Seja como for, eu creio que apesar de tudo há aqui alguma autoridade de alguém que conseguiu no país, com políticas contracíclicas e obviamente com o acordo maioritário parlamentar à esquerda, fazer exatamente aquilo que o Eurogrupo não permitiria, e portanto agora vamos ver o que é que vai ganhar: se é a influência de Mário Centeno no Eurogrupo, se é a influência do Eurogrupo em Mário Centeno", completou.

Pedro Silva Pereira disse não achar "nada estranho" as reticências de PCP e Bloco, pois "são conhecidas as divergências entre o Partido Socialista e o Governo e a agenda europeia dos partidos à esquerda que no parlamento português apoiam o Governo".

"Essas divergências são conhecidas, passam muito pela temática europeia, mas eu creio que o ministro das Finanças será na prática, enquanto presidente do Eurogrupo, um promotor de políticas que são políticas de promoção da coesão, e eu acho que isso vai ser um terreno de muito maior convergência com os partidos à esquerda do que porventura neste momento se antecipa", disse.

Já o outro deputado português a intervir na comissão parlamentar de Assuntos Económicos, o social-democrata José Manuel Fernandes, disse que não ficou propriamente desapontado com a "estreia" no "diálogo económico", mas gostaria que Centeno tivesse explicado como é que pode garantir a convergência no espaço do euro, designadamente a de Portugal, atendendo a que as previsões de Bruxelas apontam para um crescimento em 2018 abaixo da média europeia.

"Não vou dizer desapontado. Portugal precisa de crescer acima da média da UE ou pelo menos acompanhar essa média, nós não podemos é divergir, e é preciso que se explique por que é que em 2018, segundo as previsões da UE, Portugal vai crescer metade da Irlanda, vai crescer menos que Chipre ou Grécia, tudo Estados-membros que estiveram também com processos de ajustamento, e é preciso que o presidente do Eurogrupo diga o que é que pretende para que haja a convergência em que ele tanto insiste e bem", declarou.

Na sua condição de presidente do Eurogrupo, Mário Centeno encontra-se em Bruxelas desde segunda-feira, tendo presidido nesse dia aos trabalhos do fórum de ministros das Finanças da zona euro, participando no dia seguinte num debate sobre o "semestre europeu" no Parlamento Europeu, onde regressou hoje para o seu primeiro "diálogo económico" com os deputados da comissão de assuntos económicos.

 

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