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"Pequena turbulência". Governo britânico recua no corte de impostos a contribuintes mais ricos

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Toby Melville - Reuters

O governo de Liz Truss abandonou os planos de redução do imposto sobre o rendimento para os contribuintes mais ricos após uma revolta por parte dos conservadores em relação à medida e uma reacção dos mercados financeiros. O ministro das Finanças admitiu que o seu mini-orçamento causou uma "pequena turbulência", mas defendeu os cortes de impostos, argumentando que aumentariam o crescimento económico.

No Twitter, o ministro das Finanças do Reino Unido, Kwasi Kwarteng, anunciou esta segunda-feira que não vai eliminar o escalão superior de 45% do imposto sobre os rendimentos dos contribuintes mais bem pagos.

Kwarteng argumentou que a decisão de cortar os impostos aos contribuintes com rendimentos superiores a 150 mil libras (171 mil euros) “tornou-se uma distração da nossa missão primordial de enfrentar os desafios que afetam o nosso país”.


O recuo surge perante um número crescente de deputados do Partido Conservador que se opõem à medida anunciada há apenas dez dias, incluída num “mini-orçamento”, e que ameaçava um chumbo no parlamento.

“Percebemos e ouvimos”, escreveu o ministro no Twitter, acrescentando que a decisão foi tomada com "humildade e contrição", depois de alguns deputados terem reagido com revolta às sugestões de que as despesas públicas e sociais poderiam ser cortadas para financiar os cortes de impostos aos mais ricos.

A decisão de Kwarteng foi anunciada um dia depois de a primeira-ministra britânica, Liz Truss, ter defendido a medida numa entrevista à BBC. Truss reconheceu que deveria ter "preparado melhor o terreno" antes de anunciar os cortes de impostos na semana passada, mas defendeu a urgência de tomar essas mesmas medidas. O pacote de estímulo que inclui 45 mil milhões de libras (51 mil milhões de euros) em cortes fiscais fez com que a libra caísse para um mínimo histórico na semana passada e fez subir os juros da dívida soberana.

O Banco de Inglaterra foi forçado a intervir no mercado obrigacionista e o receio de uma subida acentuada das taxas de juro fez com que os bancos suspendessem a venda de produtos de crédito à habitação mais baratos, causando incerteza no setor imobiliário.

Ainda assim, em conferência de imprensa, o ministro das Finanças negou que o “mini-orçamento” tivesse sido um erro, insistindo que parte da turbulência sentida nos mercados financeiros foi provocada por fatores internacionais.
Ministro admite ter causado “uma pequena turbulência”
Num discurso durante a conferência anual do Partido Conservador, esta segunda-feira, Kwarteng admitiu que o seu mini-orçamento "causou um pouco de turbulência". "Eu entendo. Estamos a ouvir”, reiterou.

O ministro das Finanças voltou ainda assim a defender os cortes de impostos, argumentando que aumentariam o crescimento económico - e, por sua vez, proporcionariam salários mais altos e dinheiro para financiar serviços públicos.

Kwarteng anunciou ainda que publicará detalhes "em breve" sobre como planeia reduzir a dívida pública a médio prazo.

"Hoje enfrentamos novos desafios e, ao lidar com esses desafios, agiremos de maneira fiscalmente sustentável e responsável", disse Kwarteng. "É por isso que, em breve, publicaremos um plano fiscal de médio prazo, definindo a nossa abordagem de forma mais completa”, explicou.
Governo “destruiu a sua credibilidade económica”
O corte de impostos a contribuintes mais ricos gerou uma onda de contestação ao governo britânico, nomeadamente entre alguns deputados do próprio Partido Conservador.

A ministra sombra do Partido Trabalhista, Rachel Reeves, disse que o governo "destruiu a sua credibilidade económica e prejudicou a confiança na economia britânica". “Os conservadores precisam de reverter toda a sua estratégia económica”, defendeu.


“Esta reviravolta humilhante chega tarde demais para os milhões que veem as suas taxas de hipoteca disparar por causa deste orçamento fracassado”, disse Ed Davey, o líder liberal democrata, citado por The Guardian. “Os conservadores devem agora, a bem do país, cancelar a sua conferência e convocar o Parlamento para resolver esta desordem”, acrescentou.

Kwarteng recusou comentar se a sua credibilidade enquanto ministro das Finanças foi prejudicada, dizendo apenas estar “100% focado no plano de crescimento”.

O ministro recusa demitir-se, mas garante que irá assumir a responsabilidade pela medida. “Eu disse que ouvi. Eu percebo a reação. Falei com muitas pessoas em todo o país. Falei com eleitores. Falei com deputados e vereadores e outras pessoas do nosso sistema político. Mas o mais importante é que ouvi os eleitores”, afirmou.

c/agências
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