Pobreza toca uma em cada dez famílias inquiridas pela DECO

por RTP
Rafael Marchante, Reuters

São já 12 por cento as famílias portuguesas que vivem em situação de “pobreza real”. De acordo com um estudo da DECO, realizado também em Espanha, Itália e Bélgica, trata-se de agregados que não têm já condições para pagar renda da casa, contas de água e luz, crédito automóvel e tratamentos médicos essenciais. Outro dado do estudo assente em inquéritos recolhidos em abril e maio deste ano revela que 38 por cento das famílias apresentam todos os meses saldos negativos que rondam os 300 euros. É um número que contrasta com os números avançados pelo Banco de Portugal, que estimava para abril um aumento em 276 milhões de euros dos depósitos, face ao mês anterior. Um facto não deixa dúvidas: 70 por cento dos inquiridos considerava a meio de 2013 que a sua vida “piorou bastante ao longo do último ano”.

O estudo da DECO - visando conhecer os hábitos e as dificuldades das famílias com despesas básicas (prestação da casa, alimentação, cuidados de saúde e educação) e analisar o impacto da conjuntura económico na qualidade de vida - publicado na revista Proteste de novembro, está inserido numa investigação mais alargada que incluiu outros três países da União Europeia: Espanha, Itália e Bélgica, o que permite, para lá dos resultados nacionais parciais, fazer a comparação entre os parceiros europeus.

Foram enviados questionários por correio e e-mail a uma amostra aleatória da população. Em abril e maio foram recolhidos 2230 inquéritos válidos.


E é aqui que percebemos Portugal como o parceiro mais fragilizado em termos de rendimento. Com os seus 1428 euros, Portugal apresenta o mais baixo rendimento médio mensal por agregado, contrastando com a Bélgica, que apresenta a melhor média, nos 2819 euros.

Conclui o estudo da DECO que a “pobreza real” (onde há a incapacidade para fazer face às contas de água e luz, renda da casa, crédito automóvel e tratamentos médicos essenciais) já chegou a 12 por cento dos lares portugueses. Na Bélgica apenas quatro por cento dos agregados vive nesta situação, mas os inquéritos apontam para os 15 por cento em Espanha.

Trata-se ainda assim de números muito conservadores quando vistos à lupa das considerações em Outubro do ano passado do presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza. O padre Agostinho Moreira temia na altura que o Orçamento do Estado então aprovado para 2013 viesse a deixar Portugal com “mais de três milhões de pobres”.
Um terço das famílias com mil euros por mês
No estudo, a DECO aponta um terço das famílias portuguesas a viver com menos de mil euros mensais. Um em cada quatro lares vive com mais de 1750 euros. Em termos individuais, estima a DECO que “o valor médio mensal disponível para cada membro do agregado é inferior a 350 euros em 30 por cento dos casos”.
Conclui o estudo que “uma semana de férias fora de casa é uma ideia proibida para quase metade das famílias”.
O poder de compra caiu para a maioria das famílias, com 70 por cento dos inquiridos a admitir ter visto “piorar bastante” a sua situação financeira no último ano. O lazer e o entretenimento foram as atividades que levaram os primeiros cortes.

Outro facto que emerge dos números deste estudo é o fosso entre os extremos socioeconómicos: “5% da população mais rica ganha, em média, 12 vezes mais do que os 5% da população mais pobre”. Outra assimetria verifica-se em termos administrativos, com a geografia a ditar diferenças acentuadas: Lisboa e Vale do Tejo é a região com mais elevado rendimento per capita; o Norte (15 por cento) e o Alentejo (16 por cento) são as regiões com pobreza mais acentuada.
Mais 300 euros negativos a cada mês
Os portugueses temem que a situação em que vivem possa levá-los à perda de casa e carro por impossibilidade de pagamento, assim como o abandono escolar ou impedimento de prosseguir um curso superior.

O estudo assinala ainda que a debilidade financeira em que se encontram as famílias portuguesas resulta na incapacidade de chegarem ao fim do mês com o dinheiro contado. Facto que leva a que “38 por cento das famílias portuguesas cheguem ao fim do mês com um saldo negativo de cerca de 300 euros”.

É um dado que parece entrar em contradição com números que surgiram ao longo deste ano dando conta de um maior aforro por parte dos portugueses. Depois de um aumento da taxa de poupança das famílias portuguesas em 2012, o Banco de Portugal assinalava que em abril os depósitos dos agregados aumentaram 276 milhões de euros face a Março, para um total de 131,2 mil milhões, no terceiro mês consecutivo de crescimento.
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