Portugal e Gâmbia apostados em reforçar relações após primeira visita oficial a Lisboa

por Lusa

Os ministros dos Negócios Estrangeiros de Portugal e da Gâmbia assumiram hoje a aposta no reforço da cooperação entre os dois países, após a primeira visita oficial de um chefe da diplomacia de Banjul a Lisboa.

"Esta primeira visita oficial de um ministro dos Negócios Estrangeiros da Gâmbia a Portugal representa um primeiro passo numa relação em progresso. Estamos a inaugurar uma nova era para fortalecer e melhorar as nossas relações bilaterais", disse o ministro de Estado e Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva.

O chefe da diplomacia portuguesa falava em conferência de imprensa, no Palácio das Necessidades, em Lisboa, após ter recebido o seu homologo da Gâmbia, Mamadu Tangara.

Portugal é representado em Banjul pelo embaixador português em Dacar, no Senegal, e a Gâmbia tem em Portugal um cônsul honorário, e os dois países não tem planos para num futuro próximo aumentar o nível de representação diplomática mútua.

"Temos de melhorar as nossas relações económicas que estão a um nível muito baixo, mas podem crescer. Trocámos informações sobre as nossas economias para ver como podemos cooperar", adiantou Santos Silva.

O ministro português agradeceu também a participação da Gâmbia, enquanto membro da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO), no "bem-sucedido processo de estabilização da Guiné-Bissau".

Por seu lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Gâmbia considerou esta visita a Lisboa "como uma clara demonstração do compromisso com uma relação mais ambiciosa".

Mamadu Tangara está em Portugal para a cerimónia de lançamento, na sexta-feira, do Atlantic Centre, nos Açores, projeto que a Gâmbia decidiu integrar a pedido de Portugal.

O centro visa promover o reforço da capacidade multilateral de defesa no Atlântico.

"É um centro muito importante porque a condição `sine qua non` para o desenvolvimento é a paz e a estabilidade e estamos todos empenhados nesse caminho", disse Tangara.

"Não há muito tempo, a pirataria para nós era um problema muito distante, mas está a aproximar-se cada vez mais. Por isso, é importante projetarmo-nos para o futuro. O centro terá um grande alcance no combate ao tráfico humano e ao terrorismo", acrescentou.

O ministro Santos Silva assinalou que um dos objetivos principais do centro é acolher a cooperação em matéria de segurança marítima, com especial foco na região do Golfo da Guiné, assolada por ataques de piratas.

"É muito importante que vários países africanos se juntem aos parceiros europeus e americanos para tentar criar uma plataforma para a nossa cooperação multilateral", disse Augusto Santos Silva.

Na conferência de imprensa, Augusto Santos Silva destacou ainda um projeto de cooperação cofinanciado pela União Europeia e que o instituto Camões está a desenvolver, em parceria com a Alemanha e a Bélgica, desde 2018, na Gâmbia.

O projeto "Building a Future -- Make it in The Gambia" visa contribuir para o desenvolvimento económico do país e para melhorar as perspetivas de futuro da população jovem, através da promoção de emprego e de oportunidades para a reintegração de migrantes.

"A Gâmbia não se desenvolve sem os seus jovens e temos de criar oportunidades para eles. Não podemos impedir as pessoas de sonhar e a migração faz parte da história humana, mas a forma como está a acontecer em África é desoladora", referiu o ministro gambiano.

"Estamos a perder os nossos jovens, estão a morrer a tentar cruzar o Mediterrâneo para a Europa. Por isso, acho que o projeto é um passo na direção certa e juntos podemos pelo menos minimizar as migrações irregulares", acrescentou.

O chefe da diplomacia portuguesa elogiou ainda a Gâmbia pelo processo de transição e de reformas em curso no país desde a chegado ao poder do Presidente Adama Barrow em 2017, nomeadamente pela criação da Comissão de Verdade e Reconciliação.

A Gâmbia é um dos países mais pequenos de África e tem gozado de longos períodos de estabilidade desde a independência do Reino Unido em 1965.

Localizado na África Ocidental, o país é rodeado pelo Senegal.

O Presidente Yahya Jammeh, que chegou ao poder depois de um golpe de Estado sem derramamento de sangue em 1994, governou de forma autoritária durante 22 anos.

O seu governo chegou ao fim em 2016, quando foi derrotado num resultado eleitoral surpreendente pelo principal candidato da oposição, Adama Barrow.

Jammeh deixou o cargo após a mediação dos países vizinhos e a ameaça de intervenção armada.

O turismo é uma importante fonte de divisas, tal como o dinheiro enviado pelos gambianos que vivem no estrangeiro.

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