Estudo. Cidadãos gastam 70 euros mensais em transportes

por RTP
“Muitos portugueses continuam a fazer uma ginástica financeira brutal para mensalmente pagar as despesas decorrentes dos transportes sejam eles coletivos ou privados” Hugo Correia - Reuters

Um estudo levado a efeito em seis cidades do país permitiu à Deco concluir que “muitos portugueses continuam a fazer uma ginástica financeira brutal” para suportar custos com transportes “coletivos ou privados”. Cerca de 70 euros por mês perfazem a despesa de referência indicada pelos inquiridos. A opção pelo automóvel é justificada com a insuficiência dos serviços públicos.

Em declarações à agência Lusa, Bruno Santos, das Relações Institucionais da Associação para a Defesa do Consumidor, sublinhou que o gasto com transportes “continua a ser uma das despesas com mais peso nas famílias”.

O estudo, conhecido esta terça-feira, teve por finalidade apurar a forma como os portugueses fazem as deslocações quotidianas, desde logo de casa para o trabalho, ou para as escolas. A soma de referência decorrente das respostas dos inquiridos aponta para perto de 70 euros mensais. Todavia, em Lisboa, esta despesa ascende a mais de 100 euros.O estudo da Deco foi realizado de novembro a dezembro do ano passado em Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Lisboa e Setúbal.


Outra das conclusões deste trabalho da Deco prende-se com a prevalência do automóvel, que é ainda “o meio de deslocação preferencial” dos cidadãos. Uma escolha quê os inquiridos justificam com a “falta de uma rede de transportes públicos que supra necessidades reais”.

Bruno Santos destaca o facto de 80 por cento dos cidadãos terem considerado que “as soluções existentes nas suas cidades não respondem de todo às necessidades que têm para se deslocarem diariamente e, portanto, persistem na utilização do transporte próprio”.

Dos 80 por cento que recorrem aos automóveis, perto de 85 por cento estariam dispostos a deixar de o fazer, se pudessem contar com “uma articulação mais fina entre o que são as necessidades dos cidadãos e as soluções de mobilidade”.

“Uma boa parte dos condutores que nos responderam demora mais de 15 minutos, pelo menos uma vez por semana, a encontrar um lugar sem ter de depositar moedas”, escreve no estudo a Defesa do Consumidor, para acrescentar que 20 por cento das pessoas que responderam às questões do estudo “sentem que o seu rendimento mensal condiciona a escolha do transporte”.

No conjunto dos inquiridos, 77 por cento revelaram utilizar um ou dois transportes nas deslocações.
Tempo, custo, conforto

É em Lisboa que os utentes dão a pior nota à pontualidade e ao número de autocarros a circular. Quanto ao metro, “a insatisfação é preponderante e contamina as vertentes analisadas”, registando-se críticas à “frequência com que as carruagens passam, aos atrasos e à falta de conforto”. Por contraste com o Porto, onde, em termos de satisfação, o metro recebe nove pontos numa escala de dez.Pelo menos uma vez por semana, 63 por cento dos inquiridos caminham mais de 500 metros. Por outro lado, “o número de pessoas a utilizarem a bicicleta é residual”.

Nas cidades de Aveiro, Braga, Coimbra, Porto e Setúbal, são mais de metade os inquiridos que gastam, todos os dias, entre dez e 30 minutos em deslocações. Na capital, esta fatia de tempo pode chegar a uma hora.

O estudo aborda também o problema do congestionamento de trânsito. E neste capítulo o destaque vai para Lisboa e Porto, onde 64 e 63 por cento dos inquiridos, respetivamente, diz debater-se com engarrafamentos, no mínimo, uma vez por semana.

A escolha do meio de transporte, aponta a Deco, é influenciada por diferentes fatores, nomeadamente a duração da viagem, o seu custo e o conforto. No caso do automóvel, a opção é ditada pelo tempo, pela flexibilidade, o conforto e o custo, por esta ordem.

Em simultâneo, a subida dos custos com a habitação nas grandes cidades “está a empurrar muitos cidadãos para periferia e estes cidadãos estão a ser obrigados a trazer carros para dentro das cidades quando regressam para os seus trabalhos, para a escola dos seus filhos, etc”.

Bruno Santos sai em defesa da “possibilidade de novas formas de relação laborar, em que os trabalhadores não tenham de estar obrigatoriamente presentes nos escritórios das suas empresas e possam trabalhar a partir de casa ou, no limite, tenham um horário suficientemente flexível que lhes permita fugir às horas de maior pressão do tráfego”.

O inquérito foi igualmente levado a cabo por estruturas congéneres da Deco em Espanha e Itália. Globalmente foram validadas 4.412 respostas – 754 em território português.

c/ Lusa
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