Pressão do Executivo de Tsipras abala a troika

por RTP
De acordo com <i>El País</i>, o plano para pôr termo à troika está a ganhar apoios a toda a velocidade ao longo da Europa Kai Pfaffenbach, Reteurs

Os planos da Comissão Europeia para cortar o oxigénio à troika chegaram no início da semana às páginas digitais do diário espanhol El País, mas muitos julgaram tratar-se de uma hipótese remota, já que Berlim insistiu desde logo que não haveria “nenhum motivo para abandonarmos um mecanismo credível”. No entanto, três dias depois a ideia continua de pé e é agora apoiada por Roma e Paris, de acordo com o jornal.

Segundo El País, o plano para pôr termo à troika está a ganhar apoios a toda a velocidade ao longo da Europa e nem os próprios elementos que a compõem – FMI, BCE e Comissão Europeia - se preocupam em defender esse organismo tripartido.

As primeiras pressões surgiram de um país ferido de morte, sem nada a perder: a Grécia. Após a vitória do Syriza de Alexis Tsipras, quem tomou a palavra foi o novo ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, e uma das suas primeiras declarações oficiais consistiu em declarar a troika como persona non grata em Atenas. A dissolução da troika é uma proposta do próprio Jean-Claude Juncker. Segundo o diário económico alemão Handelsblatt, círculos próximos do presidente da Comissão terão já admitido que "temos de encontrar rapidamente uma alternativa".


Recusando-se de ora em diante sentar-se à mesa com os funcionários enviados a cada três meses aos países sob resgate, Varoufakis declarou que a via do diálogo apenas estava aberta para a Europa.

“O nosso país recusa-se a cooperar com a troika (…) Não tencionamos continuar a colaborar com a troika [que é] um organismo podre", afirmou o académico de 53 anos e agora principal responsável pelas Finanças gregas, sustentando que a colaboração com o trio de credores internacionais é algo sem sentido, uma vez que “este programa não permite a reconstrução da economia grega e o nosso objectivo é um acordo que permita à Grécia respirar”.

Esta recusa de Atenas de reconhecer na troika um interlocutor válido obrigou os responsáveis da Comissão Europeia a procurar uma solução para manter vivo o diálogo entre a Europa e os responsáveis do Governo grego.
Uma “fórmula diferente”

Roma e Paris parecem ser para já os mais declarados apoiantes desta solução para um organismo que começa a causar mais incómodo do que benefícios. O Governo francês já se declarou confiante de que é possível desenhar uma “fórmula diferente” e alternativa. O Executivo de Matteo Renzi, que na terça-feira recebeu Tsipras no Palácio Chigi, também fez chegar a Bruxelas a ideia de que vê estes novos planos para a Europa como “uma boa notícia”.
Refere El País que poderá constituir apenas uma compensação por parte da União, que não estará disposta a conceder aos gregos uma reestruturação da dívida tão profunda quanto deseja Atenas.


Estranho poderá parecer que a própria troika não tenha vindo a terreiro para se defender durante esta sucessão de ataques que ameaçam pôr termo à sua existência.

O próprio Banco Central Europeu admitiu já que vários funcionários da instituição têm pedido escusa para não voltar a fazer parte das equipas da troika. Por outro lado, se a Alemanha vier, como está planeado, a adquirir grandes quantidades de dívida grega, ficará automaticamente obrigada a abandonar a equipa formada entre o FMI e as autoridades europeias.
“Mecanismo credível”

A decisão de colocar fim à troika será no entanto mais política do que técnica e esta é uma capitulação que está a ser vista como a primeira vitória do Governo de Tsipras. Fontes da Comissão admitem essa necessidade de encontrar rapidamente uma alternativa, mas esta preocupação de ir ao encontro dos desejos dos gregos estará a ser muito mal recebida em Berlim.

No arranque da semana, um porta-voz de Angela Merkel sublinhava “não haver nenhum motivo para abandonarmos este mecanismo credível” e do Ministério das Finanças de Wolfgang Schäuble lembravam-se os acordos assinados para dar fundamento legal ao Mecanismo Europeu de Estabilização, com críticas á possibilidade de estes acordos poderem ser unilateralmente alterados.

Chegou ainda a ser noticiado que Angela Merkel estaria aberta a disponibilizar 20 mil milhões de euros a Atenas sob condição de a Grécia respeitar as reformas decidido pelo anterior Governo e continuar a aceitar a supervisão da troika. Uma ideia soprada para os jornais após as declarações de Yanis Varoufakis.
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