PS disponível para reatar diálogo com Bloco e acusa PSD de lesar reputação do país

por Lusa
José Carlos Carvalho - Lusa

A líder parlamentar do PS acusou hoje o PSD de colocar em causa a reputação internacional do país e manifestou disponibilidade para reatar o diálogo com o Bloco de Esquerda na segunda metade da legislatura.

Estas posições em relação ao PSD e ao Bloco de Esquerda foram transmitidas por Ana Catarina Mendes na sessão de enceramento do debate da proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2021.

Já na parte final da sua intervenção, a presidente do Grupo Parlamentar do PS manteve as suas críticas por o Bloco de Esquerda se posicionar contra a proposta do Governo de Orçamento, saudando em contrapartida "o sentido de convergência" manifestado pelo PCP, PAN, PEV e pelas deputadas não inscritas Cristina Rodrigues e Joacine Katar Moreira, que viabilizaram o diploma do executivo através da abstenção.

"O Bloco repete o erro da sua votação na generalidade deste Orçamento do Estado: Vota contra as suas próprias propostas, e quer abrir o caminho a que Portugal volte à austeridade, desta vez com uma direita de braço dado com a extrema-direita populista", disse.

Numa nota de improviso, a líder parlamentar do PS também respondeu ao teor do discurso minutos antes feito pela coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins.

"Não senhora deputada Catarina Martins, este Orçamento não responde com mínimos, mas com o compromisso do PS, do PCP, do PEV, do PAN e das deputadas não inscritas Cristina Martins e Joacine Katar Moreira para reforçar as áreas sociais", contrapôs.

Para a presidente do Grupo Parlamentar do PS, o Bloco de Esquerda "não contou para a solução mas para a pequena confusão", tendo estado "ausente do debate" orçamental. "Negociou a votação com o PSD na 25ª hora" sobre o Novo Banco e, face ao resultado da votação dessa proposta, "se fosse coerente, o Bloco de Esquerda teria viabilizado o Orçamento".

Apesar desta série de críticas, mais à frente, a presidente do Grupo Parlamentar do PS, abriu a porta a um reatamento do diálogo político entre socialistas e bloquistas, tendo em vista a segunda metade da legislatura.

"A legislatura está a meio e quero crer que voltaremos, sem encenações, estados de alma ou angústias, a convergir no essencial. E digo mais: Quanto mais cedo e depressa o fizermos e o conseguirmos, melhor. O PS, medida a medida, passo a passo, está aberto, como sempre esteve, a este diálogo e tudo faremos para que a separação que hoje aqui se viu entre o Bloco e as forças progressistas se não repita", declarou.

Além desta nota política sobre o Bloco de Esquerda, o discurso de Ana Catarina Mendes foi caracterizado pela crítica cerrada ao PSD por ter apoiado a proposta bloquista no sentido de anular uma transferência de 476 milhões de euros para o Fundo de Resolução destinada ao Novo Banco.

"Em termos políticos, a aprovação deste Orçamento do Estado é uma derrota da direita que mostrou a sua total irresponsabilidade, quando, na 25ª hora, na calada da noite [de quarta-feira], o PSD, sem dizer nada aos portugueses, aprovou uma proposta do Bloco de Esquerda que coloca não só o sistema financeiro em risco, mas também a credibilidade internacional do nosso país. O PSD assume perante os portugueses o risco de Portugal ser considerado um país que não cumpre contratos, com consequências devastadoras e imprevisíveis para todos, com danos irreversíveis para a reputação do nosso país", sustentou a líder da bancada socialista.

De acordo com a presidente do Grupo Parlamentar do PS, "pela primeira vez na história, o PSD rompe também compromissos europeus de consequências imprevisíveis".

"Sabemos bem que a liderança de Rui Rio coloca o PSD a dizer tudo e o seu contrário. Rui Rio disse que nunca aceitaria anular a verba para o Novo Banco. O que fez hoje foi uma cambalhota sem nome de irresponsabilidade", apontou,

Num dia, na perspetiva de Ana Catarina Mendes, o PSD "considera que os contratos do Estado são para cumprir; no outro dia, rasga esses contratos".

"Num dia, jura fidelidade à Europa, no outro dia, aprova decisões que rompem com os compromissos europeus. A bomba atómica que lançou só pode servir um propósito: criar instabilidade política, esquecendo que, com isso, quem sofre e quem paga são os portugueses", considerou.

Ana Catarina Mendes afirmou depois que o atual PSD "hesita entre a sua matriz social democrata e a defesa de um Estado mínimo".

"Um PSD que acusa o Governo, através deste Orçamento, de dar tudo a todos e, ao mesmo tempo, está disposto a aumentar a despesa de forma descontrolada, como tão bem se viu nas votações na especialidade. A votação desta madrugada, à 25ª hora, rompe os compromissos assumidos pelo Estado Português no plano internacional e isso causa um dano reputacional. Para o Dr. Rui Rio decidir é uma brincadeira, ao sabor dos títulos dos jornais, mas não estamos em tempo de brincadeiras, e o povo português não merece tal desrespeito", acusou.

Ainda na mesma lógica de ataque aos sociais-democratas, a líder parlamentar socialista referiu igualmente o acordo alcançado para a viabilização do novo Governo Regional dos Açores, juntando-se "à extrema direita populista".

Uma extrema-direita populista que, na perspetiva da líder da bancada socialista, tem um alvo: "A estigmatização dos pobres, dos mais vulneráveis, como se os pobres fossem pobres por escolha, como se os pobres fossem pobres porque querem", acrescentou.

 

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