Reestruturação TAP. Propostas de rescisões e licenças não remuneradas avançam nas próximas semanas

por Lusa
Rafael Marchante - Reuters

A TAP vai propor aos trabalhadores um pacote de medidas voluntárias, que incluirá rescisões por mútuo acordo, licenças não remuneradas de longo prazo e trabalho a tempo parcial, e admite cortes salariais transversais e despedimentos. Os sindicatos acrescentam que haverá uma redução de 25 por cento de toda a massa salarial e uma redução da frota para 88 aviões. O plano de reestruturação da TAP tem que ser apresentado à Comissão Europeia até 10 de dezembro.

Numa comunicação aos trabalhadores, a que a Lusa teve acesso, a administração refere que "quanto maior for a adesão, menor será a necessidade de outras medidas a decidir futuramente".

Além de medidas voluntárias que serão apresentadas "nas próximas semanas", o Conselho de Administração adianta que "estão colocados para discussão cenários como a suspensão do pagamento de alguns complementos remuneratórios, cortes salariais transversais, garantindo um valor mínimo que assegure a proteção aos salários mais baixos, e ainda a possibilidade de adequar o número de trabalhadores a uma operação que nos próximos anos será reduzida em 30% a 50%, retrocedendo assim a valores vividos há mais de uma década".

"Só com o contributo de todos poderemos salvar a TAP e manter em atividade uma companhia cujos mais de 75 anos de história nos orgulham. Para assegurar uma TAP relevante no contexto do nosso país e no mundo, apta a voltar a contribuir para o desenvolvimento da economia portuguesa, temos muitos sacrifícios pela frente", lê-se na comunicação enviada na sexta-feira, após a reunião com os sindicatos representativos dos trabalhadores do grupo.

Ao mesmo tempo, refere, "tendo consciência de que a quebra de receitas ao longo dos próximos anos será colossal e estimada em vários milhares de milhões de euros", a TAP implementou "uma vigorosa redução de custos" junto de fornecedores e prestadores de serviços, "que permitirão à TAP ter benefícios financeiros de cerca de 1,5 mil milhões de euros até 2025".Plano vai ser apresentado em Bruxelas

Na nota aos trabalhadores, o presidente do Conselho de Administração, Miguel Frasquilho, e o presidente da Comissão Executiva, Ramiro Sequeira, sublinham que "a empresa precisa de um plano de reestruturação consistente, realista e sólido que assegure a sua sobrevivência" que "só terá êxito se tiver a adesão de todos".

De acordo com a nota, a reunião com os sindicatos serviu "para com eles acertar a versão final e proceder à sua entrega ao Governo, que o fará chegar à Comissão Europeia, com a qual será negociado".

Recordando que setor está a voar a cerca de 30% dos níveis de 2019 e a TAP não é exceção, a administração refere que "a TAP parte em desvantagem face às suas congéneres, em virtude de menores rácios de rentabilidade (margem EBIT), maiores custos unitários (ex- fuel CASK) e maior número de trabalhadores por aeronave".

"Não nos resta, pois, outra alternativa que não a de implementar um plano de reestruturação que abranja um forte e transversal corte de custos e o possível, mas incerto, aumento de receitas, para evitar o fim da TAP", resume a administração.

No final de 2019, a TAP empregava cerca de 10.600 trabalhadores e pagava mais de 750 milhões de euros em salários.

O plano de reestruturação da TAP tem que ser apresentado à Comissão Europeia até 10 de dezembro, sendo uma exigência da Comissão Europeia pela concessão de um empréstimo do Estado de até 1.200 milhões de euros, para fazer face às dificuldades da companhia, decorrentes do impacto da pandemia de covid-19 no setor da aviação. Redução de 25% da massa salarial

Em comunicado aos associados, a que a Lusa teve acesso, a direção do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) disse que saiu da reunião em que foram apresentadas as medidas laborais que integram o plano de reestruturação "com grande preocupação", por serem "absolutamente dramáticas", nomeadamente a "imposição de uma redução de 25% da massa salarial, medida transversal e imposta a todo o grupo TAP".

Tendo em conta que a TAP pagava cerca de 750 milhões de euros em salários aos cerca de 10.600 trabalhadores, trata-se de uma redução em cerca de 187,5 milhões de euros.

No caso dos tripulantes, está previsto o "despedimento de 750 tripulantes efetivos, para além dos mais de 1.000 contratos a termo denunciados, o que perfaz uma extinção permanente de mais de 1800 postos de trabalho", segundo o SNPVAC.

Também o Sindicato Independente de Pilotos de Linhas Aéreas (SIPLA) refere que o plano apresentado pelo presidente executivo interino, Ramiro Sequeira, contempla "uma redução da retribuição em 25%, sendo que apesar da insistência da direção, nunca foi esclarecida de que forma será a sua aplicação".

"Relativamente ao redimensionamento da frota, em 2021 será de 88 aeronaves [face aos atuais 105], estando previsto um ajuste até um máximo de 101 aeronaves até 2025", acrescenta na nota aos seus associados.

Já o Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (SITEMA) recusou transmitir aos associados "os números e cenários apresentados" na reunião: "São números que não acreditamos, e que não batem certo, mas que acima de tudo não podemos aceitar".

"Gostaríamos de vos divulgar os números, mas voltamos a insistir que neste momento os que nos foram apresentados não nos parecem credíveis e servem para pintar o futuro de forma muito cinzenta", acrescenta a estrutura sindical, na comunicação aos seus associados, a que a Lusa teve acesso.

O SITEMA adianta que na próxima quinta-feira se reúne com o ministro da tutela - Pedro Nuno Santos -, na qual, acredita, será discutido mais em detalhe o plano para a TAP.

Na nota aos trabalhadores, o SNPVAC considera ainda que os números que lhes foram apresentados "representam danos incalculáveis nas nossas famílias", tendo transmitido à administração da TAP que "existem soluções alternativas que permitem salvaguardar postos de trabalho, minimizando assim o número total de despedimentos".

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