Regresso do FMI a Moçambique dá mais confiança aos investidores - Analista

por Lusa

O economista-chefe da consultora Eaglestone considerou hoje à Lusa que o novo programa do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Moçambique é positivo, não tanto pelo valor, mas pela confiança que incute nos investidores.

"Mais do que o apoio financeiro de cerca de 450 milhões de dólares, é importante Moçambique ter assinado um programa de três anos que visa apoiar a recuperação económica do país e introduzir várias medidas para reduzir a dívida pública e melhorar as vulnerabilidades financeiras do país", disse Tiago Dionísio em declarações à agência Lusa, na semana em que o FMI `voltou` a Moçambique.

O Fundo anunciou na segunda-feira um acordo de financiamento no valor de 470 milhões de dólares (445 milhões de euros) com Moçambique, que foi saudado como "o início de uma nova fase rumo à retoma do crescimento sustentável da nossa economia", nas palavras do ministro da Economia e Finanças de Moçambique, Max Tonela.

No total, 470 milhões de dólares serão desembolsados pelo FMI para a aplicação de um Programa de Financiamento Ampliado (Extended Credit Facility, no original em inglês) até 2025, na ambição de apoiar o país a garantir a sustentabilidade, o crescimento inclusivo e a estabilidade macroeconómica de longo prazo.

"As possibilidades de sucesso [das reformas] aumentam com o FMI, não só pelas questões técnicas, como por exemplo a introdução de um fundo soberano, que é algo que não é propriamente fácil", salientou Tiago Dionísio, que considera que o apoio de Moçambique marca uma nova fase nas relações entre as duas partes.

"O FMI nunca saiu verdadeiramente, mas é o reatar de uma relação formal entre as duas partes e a entrada do Fundo significa a entrada de mais ajuda de outros investidores internacionais", apontou o economista, lembrando as dificuldades no seguimento da divulgação do escândalo das dívidas ocultas.

"Moçambique sempre precisou de ajuda financeira exterior para projetos e para o Orçamento, e depois das dívidas ocultas a torneira fechou, não só do FMI, mas também relativamente a donativos de outras entidade externas, e isto vai permitir a retoma de ajuda externa de que o país precisa", acrescentou o economista-chefe da Eaglestone.

Entre as reformas mais importantes que terão agora a ajuda técnica e política do Fundo, Tiago Dionísio salientou, para além da introdução de um fundo soberano, a redução da dívida pública, que ronda atualmente os 100% do PIB, a gestão das receitas de gás natural nos próximos anos e a implementação de um sistema de metas para a inflação.

O FMI foi um dos vários parceiros internacionais que suspendeu a ajuda financeira na sequência da divulgação de empréstimos de empresas públicas que não tinham sido anunciados nem ao parlamento nem aos doadores internacionais, um processo conhecido como `escândalo das dívidas ocultas` e que envolveu vários governantes do executivo então liderado por Armando Guebuza e no qual o atual Presidente era ministro da Defesa, a área em que operavam as empresas públicas que contratualizaram os empréstimos escondidos.

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