Sobrevivência das empresas vai depender da capacidade de gerir o risco

por Rosário Lira - RTP
Reuters

Empresas precisam de agilidade, resiliência e capacidade de liderança. Parece uma evidência mas a verdade e que nenhuma empresa se preparou para os riscos de uma pandemia.

O ano passado a Aon, consultora da área de risco, realizou um estudo, o Global Risk Management Survey, a mais de 4000 empresas em todo o mundo e pediu aos empresários para indicarem o tipo de risco que mais temiam. Entre os 100 aspetos selecionados, a pandemia aparecia no 60.º lugar. A recessão económica e a reputação ocupavam os lugares cimeiros.

Por isso perante o facto consumado, não estando nenhuma empresa verdadeiramente preparada, quem é que consegue superar este novo desafio? Quem conseguir gerir melhor o risco. Ou seja, como refere Pedro Penalva, CEO da Aon Portugal, “o processo de gestão de risco nesta altura é um fator de sobrevivência”. As empresas que conseguirem isto “vão ficar para aproveitar as oportunidades que vão aparecer”, acrescenta.

Os impactos sentem-se a dois níveis: saúde e bem estar dos trabalhadores; interrupção de atividades associada à capacidade de continuar o negócio e à liquidez.

Nem todas as empresas estão no mesmo patamar mas o CEO da Aon considera que aquelas que mesmo não tendo planos de contingência específicos tinham algum plano, para uma situação de catástrofe ou emergência, vão com mais facilidade conseguir adaptar esses planos sem parar de trabalhar. 

Pedro Penalva dá o exemplo de uma empresa que tem todos os seus serviços concentrados num edifício e que tem um plano de contingência para realizar teletrabalho, caso esse edifício colapse. Essa empresa necessariamente está mais preparada para enfrentar a situação e isso vai fazer toda a diferença. “As empresas com mais maturidade na gestão de risco” são as que vão estar mais habilitadas e ter mais facilidade em gerir o momento atual.

Pedro Penalva destaca como sectores onde se vai sentir mais o impacto da crise, o turismo, a aviação, onde o endividamento era grande e todas as áreas dos bens duradouros, como automóveis e imobiliário.
Chama ainda à atenção para as empresas petrolíferas que para além do colapso no preço motivado pela questão geopolítica terão de lidar nos próximos tempos com a redução da procura.

Adianta Pedo Penalva que o maior ou menor impacto da covid-19 na economia vai depender do tempo que as empresas estiverem paradas. As empresas “são obrigadas a adaptarem-se a uma nova realidade” em que será necessário “utilizar a gestão do risco como vantagem competitiva”, refere o CEO da Aon Portugal.

Considera que para “navegar” numa crise como esta é preciso agilidade, resiliência e capacidade de liderança. As empresas que conseguirem fazer isto são as que terão mais possibilidade de ultrapassar a crise e continuar de portas abertas.

Agilidade, por exemplo, na implementação do teletrabalho ou na alteração do processo produtivo; resiliência financeira e do modelo de negócio porque uma empresa que está dependente apenas de um canal de distribuição vai ter mais dificuldade em ultrapassar essa circunstância e capacidade de liderança para “dar tranquilidade, limpar o que é a espuma do dia e focar-se na sustentabilidade”.

Admite no entanto que o grande problema vai ser a falta de liquidez. “Até posso produzir o que as empresas querem mas será que vou conseguir cobrar?”. Pedro Penalva considera que tudo o que está relacionado com gestão de tesouraria vai ser determinante. “Aliviar a pressão da tesouraria é fundamental” mas com pagamentos de forma imediata, a 30 ou 60 dias “é dramático”.

Numa opinião pessoal, enquanto especialista, Pedro Penalva reforça a ideia de que “as empresas precisam é de cash. Todo o processo de atribuição de crédito vai ser tarde demais”. Lembra em particular o tecido empresarial português, constituído por pequenas e medias empresas para concluir que “um empresário com 10 trabalhadores não vai querer endividar-se. Fecha a empresa”.

Acresce a este facto um duplo choque do lado da oferta e do lado da procura, assente nomeadamente na disrupção das cadeias de abastecimento.

A Aon está presente em 120 países e tem vindo a ajudar os clientes na gestão de risco e na adaptação de uma nova realidade que é o teletrabalho. Pedro Penalva refere que surgem muitas dúvidas ao nível das coberturas dos seguros. Por exemplo, se um trabalhador tem um acidente em casa é um acidente de trabalho? Ou dúvidas relacionadas com a possibilidade de tirar partido de mecanismos digitais e terem canais de distribuição alternativos, porque as lojas estão fechadas.

A Aon está a preparar e a monitorizar a situação a nível mundial numa partilha constante de informação entre os diferentes países para produzir um conjunto de colaterais que possam ajudar as empresas a superar este período e tem vindo a publicar no seu site alguma informação útil. https://www.aon.com/event-response/coronavirus.aspx

Pedro Penalva acredita que as empresas que sobreviverem a este período difícil vão estar em posição privilegiada para tirar partido dos novos desafios que agora surgiram, como o teletrabalho.
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