Investigadora brasileira alerta para risco de país militarizado com Bolsonaro

por Lusa

Lisboa, 23 out (Lusa) - A professora da Universidade de Brasília, Cláudia Maia, defendeu hoje, em Lisboa, que se o candidato da extrema-direita Jair Bolsonaro vencer as presidenciais de 28 de outubro, o Brasil será "um país militarizado".

Cláudia Maia, que é também historiadora, trabalhando diretamente com a história das mulheres e o estudo do género, falou à Lusa à margem da participação na conferência com o tema "Conservadorismo e Ideologia de Género no Brasil de Hoje", que decorre esta terça-feira na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

"Creio que fica muito evidente, quando ele [Jair Bolsonaro] diz que um ministro da Educação vai ser um militar, que um ministro da Segurança vai ser militar, que `um vice` vai ser um militar", que o Brasil "será um país militarizado".

"E não podemos esquecer um número muito grande de deputados e senadores militares que foram eleitos na primeira volta [a 07 de outubro]", lembrou a professora e historiadora brasileira, considerando este facto como "preocupante".

Ora, "este é um momento mais do que propício para falar de conservadorismo, porque estamos à beira das eleições no Brasil e de um retorno de ideologias pela fala de um dos candidatos", considerou, referindo-se ao tema que aborda na conferência de hoje e às posições de Jair Bolsonaro, apontado como favorito nas sondagens à vitória na segunda volta das presidenciais, no próximo sábado.

Na opinião da professora universitária, "as chances do candidato do PT [Partido dos Trabalhadores"], Fernando Haddad, ganhar são muito poucas" e mesmo que ganhe também "será muito difícil governar", se não houver uma ampla aliança, não só de esquerda, mas, afirma, pela democracia.

Mesmo o apoio que recebeu mais recentemente de Marina Silva, da Rede, ou mesmo uma posição crítica do ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso em relação ao Bolsonaro, não são, na opinião de Cláudia Maia, suficientes para Haddad vencer no próximo domingo.

"Os apoios até agora declarados são ainda muito tímidos, são apoios com muitas restrições e sem participação na campanha. Esperávamos que o Ciro [Gomes, candidato do PDT na primeira volta], não só declarasse apoio, mas entrasse também na campanha e isso não aconteceu até agora", afirma.

Ainda, assim acredita que pode haver, a poucos dias das eleições, um volte-face, no caso de ser formada "uma aliança de todos os que se preocupam com a democracia".

"Sabe-se pouco sobre o que vai mudar no Brasil porque ele [Jair Bolsonaro] pouco veio a público para dizer qual é o seu projeto, porque ele nem sequer participa dos debates. Mas com base nas suas declarações é possível ver que é completamente contrário às políticas sociais, às políticas de quotas universitárias e ao ensino público e gratuito, à saúde pública", afirmou a investigadora.

A outra questão "altamente preocupante", diz, é a de acabar com o estatuto do desarmamento e implementar a liberalização da posse de armas.

"Retirando, assim, ao Estado, a obrigatoriedade da função de segurança", com o incitamento à violência, defendeu a professora.

Tópicos
pub