Le Pen ataca "frente republicana podre" de apoio a Emmanuel Macron

por Andreia Martins - RTP
Às primeiras horas desta segunda-feira, o primeiro dia de campanha para a segunda volta, Marine Le Pen reagia às declarações de François Fillon e Benoît Hamon Charles Platiau - EPA

Sem tempo a perder e já a pensar na segunda volta das eleições presidenciais, que se realizam a 7 de maio, a candidata da Frente Nacional criticou esta segunda-feira a “coligação” de apoios que o seu adversário reuniu logo depois de terem sido conhecidos os resultados. Le Pen sublinhou ainda que Macron é “fraco” na luta contra o terrorismo islamita.

Ainda não passaram 24 horas desde que os franceses e o mundo ficaram a conhecer os nomes dos dois candidatos que vão estar na segunda volta das eleições presidenciais. Enquanto ainda se finalizam as contas da primeira votação, os dois candidatos apurados para a próxima fase arregaçam as mangas e preparam a votação derradeira. 

Às primeiras horas desta segunda-feira, o primeiro dia de campanha para a segunda volta, Marine Le Pen reagia às declarações de François Fillon e Benoît Hamon, candidatos batidos este domingo e que, nos discursos de derrota, apelaram ao voto em Emmanuel Macron. 

“A velha frente republicana está completamente podre, já ninguém a quer e os franceses negaram-na com uma violência rara, está a coligar-se em torno de Macron. Melhor assim”, exclamou a candidata durante uma ação de campanha, esta manhã em Rouvroy, na região de Pas-de-Calais.

Ainda no domingo, nos discursos em que assumiram as derrotas das respetivas candidaturas, os representantes das forças partidárias tradicionais, afastados da segunda volta pela primeira vez na história moderna de França, pediram aos apoiantes que votassem no líder do movimento En Marche!, que ontem alcançou mais de 23 por cento dos votos. 

François Fillon, candidato do partido Les Républicains, disse que “não havia alternativa senão votar contra a extrema-direita” na segunda volta. Já Benoît Hamon, candidato socialista que encaixou ontem uma pesada derrota, pediu união em torno de Macron e sublinhou que fazia “claras distinções” entre um adversário político e uma “inimiga da República”, em referência à candidata da Frente Nacional.  
 
Quem ainda não apelou ao voto em nenhum dos candidatos na segunda volta foi o rosto do movimento França Insubmissa, ligado à esquerda radical. No discurso após serem conhecidos os primeiros resultados, Benoît Hamon não deixou qualquer instrução de voto, uma vez que pretende consultar os apoiantes antes de se colocar ao lado de um dos candidatos que restam na corrida ao Eliseu.

Segundo os dados mais recentes do Ministério francês do Interior, Macron obteve 23,86 por cento dos votos, enquanto Le Pen conquistou 21,43 por cento. François Fillon contou com 19,94 por cento e Jean-Luc Mélenchon conseguiu 19,62 por cento. Às 11h30 faltava apurar apenas três por cento dos votos.

Segue-se a segunda volta, com data marcada para o próximo dia 7 de maio. Na última sondagem divulgada esta segunda-feira pela Opinionway, Emmanuel Macron conta com 61 por cento nas intencões de voto, levando larga vantagem sobre Marine Le Pen, que conta apenas com 39 por cento.


  “Fraco” na luta contra o terrorismo
Na mesma ação de campanha esta manhã num mercado agrícola de Rouvroy, no norte de França, Marine Le Pen acusou o rival de ser “fraco” na luta contra o terrorismo. 

“Estou no terreno para me encontrar com o povo francês e para chamar à atenção para os assuntos importantes, incluindo a luta contra o terrorismo”, disse a candidata, acrescentando que Emmanuel Macron “não tem nenhum projeto para proteger os franceses perante os perigos islâmicos”. 

A líder da Frente Nacional referiu ainda que não ficou desiludida com o resultado da primeira volta, que a colocou atrás de Macron, e que a campanha que lidera é “competitiva“ e está “repleta de esperança e dinamismo”. Acrescentou que a votação do próximo dia 7 de maio é um “referendo à globalização descontrolada”.  

Também esta manhã, Florian Philippot, vice-presidente da Frente Nacional, atacou o passado de Emmanuel Macron como ex-banqueiro e relembrou que o adversário de Le Pen foi ministro da Economia do Governo de François Hollande, que abandona no próximo mês a Presidência de França com taxas de popularidade a atingirem mínimos históricos. 

“Emmanuel não é um patriota. Ele vendeu empresas nacionais. Ele foi crítico em relação à cultura francesa. No discurso de ontem, foi arrogante e falou como se já tivesse vencido as eleições. Foi desdenhoso para com o povo francês”, criticou o responsável, em entrevista à BFM TV.
Macron em silêncio
Do lado da campanha de Emmanuel Macron, o silêncio e discrição um dia após a primeira volta dá espaço aos vários apoios, nacionais e internacionais, que foram chegando desde o anúncio dos primeiros resultados. 

Além dos derrotados François Fillon e Benoît Hamon, o primeiro-ministro francês Bernard Cazeneuve já declarou apoio a Emmanuel Macron. 

“Apelo solenemente a um voto em Emmanuel Macron na segunda volta da eleição, de forma a combater a Frente Nacional e derrotar o seu projeto funesto de regressão da França e de divisão dos franceses”, declarou ontem o governante. 

François Hollande ainda não fez qualquer declaração aos franceses, mas soube-se ontem que o atual Presidente francês deu os parabéns a Macron logo na noite de domingo. O diário francês Le Monde avançava esta manhã que o Chefe de Estado deverá apelar “rapidamente” ao voto no seu antigo ministro da Economia. 

Ainda a nível nacional, o ex-primeiro-ministro Manuel Valls considerou que o resultado de ontem, em particular a derrota do Partido Socialista, marca o fim de um ciclo. “Estamos numa fase de decomposição, demolição, desconstrução”, completou.

Contra o candidato do próprio partido, o antigo líder do Governo já tinha declarado apoio a Emmanuel Macron em detrimento de Benoît Hamon, muito antes da noite eleitoral de domingo. 
Apoios internacionais
A reação é repercutida pelo Partido Socialista Europeu (PSE), que reagiu esta manhã aos resultados, lamentando o resultado conseguido por Hamon. 

Sergei Stanishev, presidente do PSE, preferiu no entanto focar-se na luta da segunda volta e apelou à mobilização dos eleitores contra a extrema-direita. “Um voto contra Le Pen é um voto pela França e pela Europa”, acrescentou em comunicado.

Também o comissário europeu dos Assuntos Económicos, o francês Pierre Moscovici, lamenta a crise vivida no seio do Partido Socialista francês, que ontem alcançou “um resultado historicamente fraco”, mas apelou ao voto no líder do movimento Em Marcha!

“Emmanuel Macron é o candidato de todos os democratas e pró-europeus. Dia 7 eu voto em Macron, pela Europa e contra a Frente Nacional”, declarou.

No Kremlin, onde Marine Le Pen foi recebida por Vladimir Putin no final do mês de março, a posição é de respeito perante os resultados obtidos na noite eleitoral. 

“Respeitamos a escolha dos franceses. Somos partidários da existência de boas relações, mutuamente benéficas”, declarou o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, citado pela agência Ria Novosti.
 
Ainda no domingo, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, desejou “boa sorte” através de um porta-voz.

Também no Twitter, a responsável máxima pela diplomacia europeia, Federica Mogherini, sublinhou que o resultado de Emmanuel Macron é "a esperança e o futuro da nossa geração".

Através de um porta-voz, a chanceler Angela Merkel desejou “boa sorte” a Emmanuel Macron, esperando que o candidato tenha sucesso, dada a sua posição “por uma União Europeia mais forte e uma economia social de mercado”.

Sigmar Gabriel, ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, revelou em resposta aos jornalistas que "acredita" na vitória de Macron. "Parabéns a Emmanuel Macron. Viva a França! Viva a Europa!", escreveu pouco depois no Twitter. 

Já o partido nacionalista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) elogiou o desempenho de Marine Le Pen e desejou boa sorte à Frente Nacional para a segunda volta, numa declaração aos jornalistas em Dresden. 

Segundo o partido, a eleição mostra que a França, tal como a Alemanha, procura alternativas e “recusa claramente a situação atual, em consequência da estagnação e dos excessos do politicamente correto”.  
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