Marine, a filha de Le Pen que leva a extrema-direita à segunda volta

por Christopher Marques - RTP
Robert Pratta - Reuters

Quinze anos depois, a extrema-direita francesa volta a marcar presença na segunda volta de umas Presidenciais. Marine, filha do histórico Jean-Marie Le Pen, adota muitos dos temas que motivaram as sucessivas campanhas do pai: o combate à imigração e a oposição à União Europeia.

O nome não deixa margem para dúvidas. Marine Le Pen é a candidata da Frente Nacional, o partido da extrema-direita francesa, fundado pelo próprio pai, Jean-Marie Le Pen. A candidata adota muitos dos temas que motivaram as sucessivas campanhas do pai: o combate à imigração, ao que considera ser o sistema e à oposição à União Europeia.

A agora candidata presidencial é advogada, tendo exercido até 1998. É neste ano que se junta aos quadros do partido liderado pelo pai, na altura como responsável jurídica. Vai aos poucos tornando-se uma personagem crucial do partido, candidatando-se pela primeira vez nas legislativas de 2002, onde surpreende com a passagem à segunda volta. Até hoje nunca conseguirá ser eleita numa eleição legislativa, com o partido a ser prejudicado pela não existência de um sistema proporcional.

Se falhou como possível deputada, conseguiu logo em 2004 ser eleita eurodeputada. Ao todo, a Frente Nacional elege oito deputados europeus. Ao ser a única eleição francesa baseada em grandes círculos que elegem vários deputados, é nas eleições europeias que a FN consegue constantemente os melhores resultados. Marine mantém-se até hoje como eurodeputada.

Marine Le Pen assume a liderança da Frente Nacional em 2011. Derrota o candidato Bruno Gollnisch, durante muitos anos vice-presidente de Jean-Marie e visto como seu sucessor natural, antes do crescimento político de Marine. Já sem adversário, é reeleita presidente da FN em 2014.

É responsável por uma forte renovação no partido desde então, vista pelos analistas como uma tentativa de afastar as frequentes associações da FN a movimentos nazis. O ponto mais alto desta estratégia passa pela expulsão do próprio pai, Jean-Marie Le Pen, em 2015.

O partido justifica a decisão com declarações polémicas do fundador da Frente Nacional. O patriarca Le Pen tinha classificado as câmaras de gás como uma mero “detalhe” da Segunda Guerra Mundial e defendido o regime colaboracionista do marechal Pétain. Jean-Marie contestou a decisão do partido nos tribunais franceses. A justiça confirmou a expulsão do fundador mas manteve-lhe o título de “presidente honorário”, como o próprio confirmou recentemente na entrevista à RTP.


A própria campanha tenta deixar para trás o passado da Frente Nacional. A candidata apresenta-se simplesmente como Marine, deixando de fora do material de campanha o nome Le Pen. Também a imagem da Frente Nacional aparece pouco, com a candidata a adotar uma rosa azul como símbolo da candidatura.

Marine Le Pen é durante largos meses a favorita na primeira volta, apesar de todas as sondagens a darem como derrotada na votação decisiva. Sofre agora a concorrência de Emmanuel Macron. A campanha presidencial fica também marcada por diferentes polémicas, com a candidata a ser acusada de financiar o partido com fundos europeus destinados á atividade dos eurodeputados.

Durante a campanha, Marine desresponsabilizou ainda o Governo francês pelo massacre de Vel D’Hiv, um dos mais negros episódios da história da França sob ocupação nazi. Uma declaração que contrasta com o empenhamento em apresentar-se como líder de um partido que terá mudado e deixado para trás o cariz antissemita.
O que promete Le Pen?

A rutura com a Europa é o principal ponto do compromisso político de Marine Le Pen. A candidata já disse que, caso seja eleita, começará desde logo por retomar o controlo das fronteiras francesas. Marine Le Pen quer ver a França fora do Euro, do Espaço Schengen e da União Europeia.

A candidata promete renegociar os tratados europeus e organizar um referendo para que os franceses decidam se querem ou não permanecer no projeto comunitário. O America First de Donald Trump dá lugar à “prioridade nacional” de Le Pen, que a própria quer inscrever na Constituição.

A Frente Nacional mantém a longa oposição à imigração. Quer permitir um saldo migratório de 10 mil entradas por ano, acabar com o direito de solo, dificultar o reagrupamento de famílias estrangeiras e o acesso dos filhos de imigrantes às escolas francesas.

Le Pen defende ainda que todas as eleições devem seguir um sistema proporcional, ao contrário do que existe atualmente, e que tem dificultado a transformação dos votos na Frente Nacional em representação efetiva.

A candidata promete reduzir a idade da reforma para os 60 anos e reduzir o impostos sobre os rendimentos para as classes mais baixas. Os produtos importados serão sujeitos a uma taxa de três por cento e também os salários de cidadãos estrangeiros serão sujeitos a impostos adicionais.

Le Pen cavalga ainda nas questões securitárias. Promete reforça a polícia, o exército francês e expulsar todos os suspeitos estrangeiros de terrorismo. Aposta ainda na construção de mais 40 mil lugares nas cadeias francesas, no reforço do investimento em defesa e na saída da NATO.
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