O debate radiofónico de Passos Coelho e António Costa em seis capítulos

por Christopher Marques - RTP
António Costa e Passos Coelho enfrentaram-se esta quinta-feira no último debate entre os dois antes das legislativas. Tiago Petinga - Lusa

Depois das televisões, as rádios. António Costa e Passos Coelho enfrentaram-se esta quinta-feira no último debate entre os dois antes das legislativas. Um debate mais quente e aceso, em que a troca de galhardetes foi quase constante.

Um debate único e inédito na sua forma, onde as acusações voltaram a ser semelhantes às das últimas semanas. Apesar de tudo, o debate radiofónico mostrou-se mais esclarecedor e produtivo do que tinha sido o televisivo.

A Segurança Social voltou a atacar, mas desta vez acabou por ser António Costa a ter explicações para dar. Passos Coelho mostrou-se disponível para, mesmo que perca, negociar a reforma da Segurança Social.

A cidade de Lisboa fez-se convidada no debate, com António Costa a defender a redução de dívida que levou a cabo na capital. Passos avisa que tal só foi possível porque o Governo comprou os terrenos do aeroporto e acusou Costa de não ter cumprido algumas das suas promessas.

Com mais ou menos soundbytes, uma vez mais, foram poucas as novidades neste debate.


Europa: crise e refugiados


Começou morno o debate. A Europa foi o primeiro tema que os moderadores trouxeram para a mesa. Um primeiro assunto em que, nenhum dos intervenientes trouxe grandes novidades em relação às suas anteriores declarações.

António Costa voltou a salientar que a Europa apresenta hoje uma nova postura, e acusou o Syriza de ter tomado a postura errada para com a Europa. O PS diz privilegiar o diálogo e não o confronto e insiste que a austeridade falhou.

“Não foi a Europa que obrigou Passos Coelho a ter essa política”, frisou. Para Costa, “pior do que a troika é este Governo".

Costa acusou Passos de ser um velho defensor da austeridade, mesmo antes de ter sido nomeado primeiro-ministro.

Veja aqui o segundo frente a frente na íntegra

Pedro Passos Coelho retomou que a Europa condiciona e que “quem governa não pode prometer às pessoas o que a realidade não consente”, tendo exemplificado com as posturas dos socialistas Hollande e Renzi em França e Espanha. Costa garante que os socialistas “assumem todas as suas responsabilidades” e acusa Passos de não conseguir libertar-se do passado.

No Governo “é preciso responder aos problemas”, defendeu o primeiro-ministro.
 
Sem referências a José Sócrates, nome que esteve desta vez ausente do debate, Passos Coelho relembrou o que considera ser o passado socialista.

Para o atual chefe de Governo, o PS conduziu Portugal à pré-bancarrota e as propostas agora apresentadas são “uma aventura em que os portugueses não deveriam sequer ponderar”.

Na resposta, Costa garantiu que os socialistas “assumem todas as suas responsabilidades” e acusou Passos de não conseguir libertar-se do passado.

O tema europeu ficou fechado com a crise de refugiados. Os dois candidatos a primeiro-ministro manifestaram ser importante acolher os refugiados em condições de dignidade.

Passos abre a porta a mais imigração por motivos económicos, de forma a combater o envelhecimento do continente.

Passos Coelho manifestou ainda o deseja que haja um acordo rápido em Bruxelas e defendeu mesmo que a Europa deve mudar a sua política migratória.

Para lá dos refugiados, Passos abriu a porta a mais imigração por motivos económicos, de forma a combater o envelhecimento do continente.

Sobre uma intervenção militar, os dois não a excluem mas pouco mais. Costa admite-a mas em último lugar, Passos não fecha a porta mas diz não acreditar que essa seja a solução.

Início

Défices e Dívidas


Falar de contas públicas é também falar de Europa, algo que ficou bem patente nas intervenções que se seguiram. Passos começou por acusar o PS de fazer “demagogia”, uma vez que o partido ratificou o Tratado Orçamental, que implica responsabilidades aos Estados-membros.Costa acusa Passos de ter “lata”. Passos acusa Costa de ter uma “retórica vazia”.

O secretário-geral socialista acusou Passos Coelho de ser “embirrento”, e voltou a frisar que a Comissão já interpreta o Tratado Orçamental de forma flexível.

Portugal, defende Costa, deve bater-se para uma folga cada vez maior.

Antes, Passos Coelho já tinha defendido que o futuro de Portugal seria diferente após conseguir um défice inferior a três por cento, o que o executivo prevê venha acontecer já em 2015.

Costa relembrou que nenhuma previsão internacional estima que o défice de este ano permita sair do Procedimento por Défice Excessivo. Passos Coelho riu, e um novo momento quente gera-se entre os dois. Aliás, foram vários ao longo do debate.

“Também lhe devem ter dito para rir”, atiçou Costa. “Penso pela minha cabeça”, replicou Passos. “O senhor recebeu três mil milhões de euros e o que lhe fez? Eu não sei, mas a dívida não amortizou”


É sabido que o défice gera dívida, e foi por aí que seguiu o debate. António Costa acusou Passos de ter aumentado a dívida em 30 mil milhões de euros.

Para Costa, não fica bem a Passos “apresentar-se como um gestor exemplar da dívida”.

Costa defendeu o seu trabalho na autarquia de Lisboa, voltando a referir que reduziu a dívida da capital em 40 por cento. Depois da dívida pública, passava-se a discutir a dívida de Lisboa.

Passos respondeu que o Governo ajudou a reduzir a dívida alfacinha, com a compra dos terrenos do aeroporto à autarquia, requerimento necessário à venda da ANA. Costa acusou Passos de ter “lata”. Passos acusou Costa de ter uma “retórica vazia”.

Sem esta operação, “o senhor não teria conseguido reduzir a dívida ao nível que reduziu Loures, Sintra e outras câmaras do país”, acusou o primeiro-ministro.
Passos ainda frisou as promessas que Costa não cumpriu em Lisboa, referindo a terceira travessia do Tejo e a questão do Parque Mayer.

Para Costa, foi Lisboa que fez um “favor” ao Governo e não o contrário, por ter dado as condições ao executivo para privatizar a ANA.

“O senhor recebeu três mil milhões de euros e o que lhe fez? Eu não sei, mas a dívida não amortizou”, acusou o ex-presidente da autarquia.

Passos ainda frisou as promessas que Costa não cumpriu em Lisboa, referindo a terceira travessia do Tejo e a questão do Parque Mayer. “Nenhum dos dois é candidato à presidência da câmara de Lisboa”, relembrou a jornalista Maria Flor Pedroso.

O debate podia então avançar para o ponto seguinte.

Início

Impostos


Dois ritmos para acabar com a sobretaxa. António Costa promete acabar com a sobretaxa em dois anos, mas mantém que não avança com um calendário e um número para a modificação dos escalões do IRS.Costa acusa o Governo de prejudicar as famílias monoparentais, no que diz ser uma intenção de “penalizar quem recorreu ao divórcio”.

Uma forma, refere Costa, de não se encontrar no futuro no lugar de Passos que “promete tudo em campanha eleitoral”, mas que acaba por não cumprir.

O PS mantém a vontade de acabar com o quociente familiar em percentagem. Costa quer substituí-lo por um valor fixo, uma vez que “as crianças são todas iguais”.

O ex-presidente da autarquia lisboeta acusa ainda o Governo de prejudicar as famílias monoparentais, no que diz ser uma intenção de “penalizar quem recorreu ao divórcio”.

Passos também diz querer reduzir a carga fiscal, comprometendo-se a eliminar a sobretaxa do IRS mas em quatro anos.

Reportagem de Sandra Machado Soares, António Antunes, Miguel Teixeira - RTP

“Não vamos fazer como outros governos fizeram no passado”, referiu, para defender o ritmo mais lento do que o definido pelo PS. Pedro Passos Coelho referia-se assim ao aumento de salários e à redução de IVA que o Governo de José Sócrates prosseguiu em 2009. Uma nova referência mas, uma vez mais, sem referir diretamente o nome do seu antecessor.

Tempo houve ainda para o primeiro-ministro se congratular com o trabalho feito no combate à evasão fiscal, nomeadamente através do e-fatura e da atribuição de mais deduções à classe média que têm beneficiado “muita gente”. “Não fique nervoso nesta matéria, já que não explicou o que está no seu programa”

Costa não perde a oportunidade e segue-se uma nova troca de galhardetes.

“Devem ser só amigos do senhor”, replica Costa. “Não fique nervoso nesta matéria, já que não explicou o que está no seu programa”, atirou Passos Coelho.

O primeiro-ministro retomava assim um dos pontos que marcou o frente a frente: a segurança social e as condições de recurso para aceder a prestações sociais.

Início

Segurança Social


O tema volta a marcar mas, desta vez, falou-se pouco sobre as sugestões de “plafonamento”. Costa ficou sob o fogo de Passos e da moderação por ter defendido que algumas prestações sociais passem a estar sujeitas a condição de recursos. No entanto, o PS não especifica as prestações sociais a que se refere.

Passos insistiu, defendendo que uma redução de “mil milhões de euros” é um valor elevado para não ser esclarecido. O primeiro-ministro voltaria a insistir, tal como a moderação, mas a pergunta ficou mesmo sem resposta.Passos diz concordar com a necessidade de diversificar o financiamento e admite concordar com algumas das propostas socialistas neste domínio.

O secretário-geral socialista defendeu o congelamento das pensões acima das mínimas, mas rejeita o corte de 600 milhões de euros que, acusa, o Governo quer fazer.

Deixou, no entanto, por esclarecer quais são as pensões que ficam de fora do congelamento. “As pensões mínimas são as pensões mínimas”, respondeu apenas.

Mas também houve espaço para concordância. António Costa voltou a defender a diversificação do financiamento da Segurança Social, que passaria também a beneficiar de uma percentagem sobre os lucros das empresas.

Passos diz concordar com a necessidade de diversificar o financiamento e admite apoiar algumas das propostas socialistas neste domínio.

Reportagem de Tiago Contreiras, António Antunes, António Nunes - RTP

O primeiro-ministro vai mais longe e diz mesmo que, caso perca as eleições, está disponível para discutir a reforma da Segurança Social com António Costa.

Questionado por Passos, António Costa não responde se está disponível, garantindo, no entanto, que não participará num corte de 600 milhões de euros nas pensões. Passos nega esta intenção.

Início

Emprego


Costa defendeu o novo regime de despedimento que o PS propõe. O secretário-geral socialista insistiu que o mecanismo conciliatório pretende ser uma alternativa ao litigioso mas que não obriga o trabalhador a recorrer a ele.

O secretário-geral socialista aposta ainda no combate ao desemprego como a “causa das causas”. Uma aposta que poderá passar por mais reabilitação urbana, pela redução do IVA na restauração e pelo apoio à criação de “emprego digno”.


Por sua vez, Passos Coelho quis mostrar que as políticas de criação de emprego do Governo têm resultado.

O primeiro-ministro insiste que dois terços dos jovens que beneficiam dos estágios-emprego arranjam trabalho. O primeiro-ministro defende ainda que o novo emprego tem sido menos precário, apontando para três contratos a tempo incerto por cada contrato a prazo.

Início

Educação e declarações finais


Face ao prolongamento das respostas nos restantes temas, falou-se pouco de educação no Museu da Eletricidade. “Se os senhores quiserem discutir educação, nós também”, chegou mesmo a lamentar o jornalista Paulo Baldaia.

Chegada, finalmente, a hora, Passos Coelho admitiu problemas no arranque do ano letivo passado, mas defendeu que tudo corre com “normalidade” este ano. Costa defende que o PS se apresenta “renovado” e com “contas feitas”

António Costa acusou o Governo de ter reduzido os recursos para ajudar crianças com necessidades educativas especiais. Segundo Costa, a coligação defende uma escola que “examina para eliminar” e não uma escola inclusiva.

O debate chegou ao fim com as habituais declarações dos líderes partidários. Costa defendeu que o PS se apresenta “renovado” e com “contas feitas”. António Costa procurou diferenciar-se da coligação e prometeu uma atitude “menos passiva” em Bruxelas.

Coube a Passos Coelho terminar o debate. O primeiro-ministro acredita que outros partidos, no seu lugar, não teriam feito muito diferente do que fez no Governo e defendeu que é necessário dar estabilidade e confiança para o futuro.O primeiro-ministro diz querer dar aos portugueses a capacidade para “sonhar com os pés no chão”.

O primeiro-ministro disse querer dar aos portugueses a capacidade para “sonhar com os pés no chão”.

Assim acabou o debate, sem antes Costa e Passos voltarem a trocar alguns galhardetes entre si: Passos a pedir esclarecimentos sobre as prestações da segurança social, Costa a solicitar “uma ideiazinha para o futuro”.

A campanha segue dentro de momentos, nomeadamente com a entrevista que Pedro Passos Coelho dá esta noite à RTP.

Início

pub