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Horizonte da Grécia desenha-se em Bruxelas à mesa do Eurogrupo

por RTP
O ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, cumprimenta o homólogo alemão, Wolfgang Schäuble, à chegada à sua primeira reunião do Eurogrupo Yves Herman, Reuters

Decidir o futuro imediato da Grécia é a tarefa de Hércules que recai esta segunda-feira à tarde sobre a mesa dos ministros das Finanças dos países da moeda única. A partir de Atenas, o encontro do Eurogrupo está a ser encarado como uma “corrida de resistência”. Sobre Bruxelas paira uma nuvem de pessimismo.

É a segunda reunião ministerial em seis dias. A primeira, na passada quarta-feira, roçou o desastre. Poucos arriscam vaticinar um desfecho positivo.

Perto de 20 mil pessoas saíram no domingo às ruas de Atenas em apoio do Governo do Syriza e dos Gregos Independentes. Em Salónica, a norte, foram oito mil. Outras manifestações de solidariedade decorreram em várias cidades europeias, entre as quais Lisboa, Madrid e Paris.

À entrada para o fim de semana, o holandês Jeroen Dijsselbloem, à frente do Eurogrupo, não hesitava em declarar-se “pessimista”. Já em Atenas perspetiva-se um entendimento “no último minuto, ou após o último minuto” – palavras do ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis.

Ou seja, os gregos poderão ficar suspensos de mais uma maratona negocial, a prolongar-se noite dentro.

Em entrevista à revista alemã Stern, no domingo, o primeiro-ministro Alexis Tsipras dizia-se “confiante”, mas admitia estar à espera de “negociações difíceis”. A posição oficial do Governo encabeçado pelo Syriza é agora ostensivamente cautelosa: “Não é certo que haja um acordo esta segunda-feira. É uma corrida de resistência feita de forma prudente e respeitadora da democracia”.
Peça de Fernanda Fernandes e António Nunes, RTP

Tempo é o ativo que o Executivo grego mais reclama de Bruxelas. Isso mesmo foi reforçado por Tsipras, que acenou com a promessa de fazer da Grécia “um outro país em seis meses”. Há, todavia, necessidades prementes de financiamento para os cofres públicos do Estado helénico, que verá o atual programa da troika esgotar-se no final de fevereiro.
Extensão ou alternativa

O Executivo grego já cedeu numa das suas primeiras tomadas de posição após as eleições legislativas antecipadas de 25 de janeiro, ao aceitar discutir a componente técnica do resgate com o triunvirato de credores – Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia. Mas ainda não deixou cair a bandeira da guerra à austeridade.

O Eurogrupo vai também debruçar-se sobre a intenção portuguesa de proceder a um reembolso antecipado de perto de 14 mil milhões de euros ao FMI, ao longo dos próximos dois anos e meio.

O plano do Governo de Pedro Passos Coelho terá ainda de ser discutido em parlamentos de países-membros. Esta segunda-feira, porém, “haverá uma decisão política”, de acordo com um responsável do órgão ministerial citado pela agência Lusa.


Na prática, o que o elenco governativo de Tsipras procura é um acordo que ponha termo ao atual memorando e, consequentemente, permita desapertar o garrote das reformas estruturais, substituindo as medidas de maior impacto social por outras, ao mesmo tempo que se atenuaria o peso de uma dívida pública de 315 mil milhões de euros sobre o Produto Interno Bruto. Este rácio é de 175 por cento.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que esteve ontem ao telefone com o primeiro-ministro grego, expôs as dificuldades colocadas a Atenas, ao enfatizar que quaisquer medidas alternativas terão de produzir um impacto orçamental equivalente.
Pauta alemã

A maioria dos demais 18 ministros das Finanças da Zona Euro inclina-se nesta altura para uma extensão do programa em vigor, embora o cenário grego do ponto final parágrafo não esteja ainda completamente colocado de parte. Foi o que deixou escapar um alto responsável europeu, em declarações repercutidas pela France Presse.


Foto: François Lenoir, Reuters

Mas é preciso persuadir uma chanceler alemã pouco disponível a relaxar o punho de aço. No flanco de Angela Merkel e do seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, com o qual o Governo português tem procurado alinhar-se, a convicção é a de que os 240 mil milhões de euros emprestados desde 2010 à Grécia são argumento suficiente para conservar as contrapartidas mais dolorosas.

De resto, a dar o tom para Bruxelas, o dono da pasta das Finanças no Governo de Merkel manifestou-se já esta segunda-feira “muito cético” quanto aos trabalhos do Eurogrupo, lamentando mesmo que os gregos tenham optado por uma solução governativa “irresponsável”.
“Sinto muito pelos gregos. Elegeram um Governo que de momento se comporta de forma bastante irresponsável”, atirou Schäuble, ouvido por uma rádio alemã.

À falta de acordo, o mais extremo dos cenários – a saída da Grécia da Zona Euro, que poderia ser apenas o primeiro capítulo de uma desagregação do bloco – já tem um nome: Grexit.
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