Passos nega ter antipatia por Tsipras mas aparta Lisboa de Atenas

por RTP
“O euro não seria o mesmo hoje se Portugal ou a Irlanda tivessem falhado os seus programas”, advogou o primeiro-ministro François Lenoir, Reuters

À carta aberta que lhe foi dirigida por 32 personalidades, em defesa de uma mudança de atitude para com a Grécia, Pedro Passos Coelho responde com a garantia de que não quer alimentar qualquer “preconceito” face ao novo poder político em Atenas. Mas insiste em defender como correto o rumo seguido por Lisboa. E em lembrar que Portugal tem “sido o país mais solidário”. Posições assumidas na última noite após os trabalhos do Conselho Europeu.

A carta aberta conhecida na quinta-feira “parte de um equívoco”, no entender do primeiro-ministro. E o “equívoco” dos signatários, reage Passos Coelho, é o de tomarem por adquirido que o Executivo de PSD e CDS-PP “tem um preconceito”, ou mesmo “antipatia”, para com o novo Governo da Grécia, encabeçado pelo Syriza.
“Não é isso que está em causa”, asseverou o governante português na noite de quinta-feira, ao cair do pano sobre a sessão de trabalhos da cimeira informal da União Europeia.

Trinta e dois signatários, entre os quais políticos, economistas, escritores e académicos, remeteram uma carta aberta ao primeiro-ministro a pedir uma mudança de posição face à Grécia pós-eleições – sem alienar o Estado helénico ou assumir uma postura de vassalagem para com a Alemanha.

Assinam o documento, por exemplo, Freitas do Amaral, Pacheco Pereira, Bagão Félix, Ferro Rodrigues, Octávio Teixeira, Lídia Jorge e Mariana Mortágua.

“Nós, de resto, temos sido o país mais solidário, em termos relativos, no esforço que fazemos. Somos seguramente o país na Europa que mais esforço temos feito”, insistiu o primeiro-ministro, que recusou a ideia de estar “a alimentar qualquer sentimento de desigualdade”. Ainda assim, não deixou de sublinhar que a Grécia “teve soluções únicas e excecionais que outros países não tiveram”.

“Mas aqueles que também fizeram um esforço muito grande sabem que não tiveram condições tão facilitadas, digamos assim, como a Grécia teve, e isso hoje também sai do bolso desses cidadãos, quer dos cidadãos portugueses, quer dos cidadãos irlandeses”, acentuou.

Passos confirmou que os líderes reunidos em Bruxelas puderam ouvir uma intervenção do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras. Ouviram também uma exposição do presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem. Mas não houve um debate formal da situação grega.
“Sendo essa uma matéria que está a ser analisada do ponto de vista técnico, não faria sentido estar a discutir sem ter uma base de discussão”, acrescentou o primeiro-ministro, aludindo ao dossier confiado aos ministros das Finanças da Zona Euro.
“O euro não seria o mesmo”

Passos Coelho voltaria à carga com a afirmação de que foi eleito “com o compromisso de que respeitaria e executaria o programa que tinha sido negociado pelo Governo anterior”, referindo-se assim à negociação do memorando de entendimento com a troika. Um processo, recorde-se, que envolveu também o então conselheiro do PSD Eduardo Catroga.
“Evidentemente, as opções que nós tomámos não as impomos aos outros”, ressalvou Passos Coelho.


“Apesar de saber que ele continha metas que eram pouco realistas, na verdade, a opção que tomei na altura não foi a de pedir a renegociação do programa, mas de procurar cumpri-lo, de maneira a poder conquistar espaço de respeito e confiança suficiente para o poder ajustar”, continuou.

Sempre a distanciar-se de Atenas, o primeiro-ministro foi mesmo ao ponto de sustentar que “o euro não seria o mesmo hoje se Portugal ou a Irlanda tivessem falhado os seus programas, tivessem precisado de fazer reestruturações da dívida, tivessem precisado de um segundo ou terceiro programa”.
Regressando à posição do novo Executivo grego, Passos disse até compreender “o problema” do seu homólogo Alexis Tsipras, que foi eleito “contra um programa”.

“Respeito as eleições que tiveram lugar na Grécia e o primeiro-ministro grego merece todo o meu respeito, como todos os outros chefes de Estado e de governo à volta da mesa do Conselho, e não tenho por maneira de ser tratar com antipatia seja quem for”, repetiria o primeiro-ministro português, para deixar escapar que não privou com Tsipras na reunião de quinta-feira. Ouviu apenas a sua exposição.

“Percebi a dificuldade de alguém que sente que foi eleito contra um programa que está a ser executado e que, no entanto, tem uma execução que é indispensável à observância das regras a que todos estamos obrigados na UE”, notou Passos.

“Percebo portanto o seu problema, de ver como consegue conciliar o respeito pelas regras europeias com o mandato que lhe foi conferido na Grécia, mas esse evidentemente é um problema pelo qual eu tenho simpatia, mas não é um problema que eu possa resolver”, concluiu.
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