Primeira reunião do Eurogrupo para a Grécia termina em impasse

por RTP
Yves Herman, Reuters

"Impasse" é o termo que marca a reunião desta quarta-feira dos 19 membros da Zona Euro. Numa declaração conjunta adiada até ao último minuto, os representantes do grupo apresentaram-se perante os jornalistas para admitir que não haviam sequer chegado a acordo para um texto comum. Em causa terá estado a recusa grega de prolongar o programa em curso, como desejam os credores. A conferência de imprensa acabou abruptamente, face à incapacidade para responder às questões dos jornalistas.

Os 19 ministros das Finanças da Zona Euro reuniram-se em Bruxelas pela primeira vez desde que o Syriza assumiu o poder em Atenas. A delegação grega apresentou o seu plano aos países da moeda única, mas a resistência dos parceiros do Eurogrupo travou qualquer avanço nas negociações. Com um primeiro anúncio, ao início da noite, de que estava a ser preparado um comunicado conjunto, as expectativas acabariam por sair goradas.

À saída da reunião, o próprio chefe do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, admitia o impasse em que se quedaram as negociações, ao declarar que, tendo havido progressos, "é ainda necessário trabalhar um acordo político antes que sejam tratados os pormenores" de uma estratégia para a Grécia.

Perante os jornalistas, foi um contido Yanis Varoufakis que que se limitou a declarar que as conversações da tarde foram "construtivas": "Não estávamos à espera de uma solução. Este Eurogrupo nunca visou chegar a um compromisso. Deram-me as boas-vindas, eu era o novato nestas coisas e foi uma oportunidade de apresentar as nossas visões, as nossas propostas (...) Tivemos uma discussão muito construtiva".

O ministro grego das Finanças, um estreante nas reuniões do Eurogrupo, deixou depois um "até segunda-feira".
Para já sem uma decisão concreta em relação ao cenário grego, a Grécia terá mantido um braço-de-ferro com os restantes parceiros para recusar o prolongamento do memorando de entendimento assinado com a troika, de acordo com fonte do Governo do Syriza e dos Gregos Independentes.

"Este Eurogrupo não chegou a acordo. O prolongamento do memorando não foi aceite", afirmou esta fonte, acrescentando que a negociação vai continuar "com vista a alcançar um acordo mutuamente benéfico" para as duas partes sobre o futuro do financiamento, das reformas e da dívida grega.

Para as atas desta quarta-feira acabam por ficar as declarações dos intervenientes antes do início dos trabalhos, nomeadamente a garantia deixada por Varoufakis de que a Grécia não vai sair do euro.

Esperava-se que da reunião saísse um acordo de entendimento que pudesse recolher a chancela do Conselho Europeu na reunião desta quinta-feira, mas este é um cenário adiado para a próxima semana, na segunda-feira, quando os ministros das Finanças dos países da moeda única voltarem a encontrar-se.
Tudo a tempo de alguns parlamentos nacionais, como o alemão e o finlandês, se poderem pronunciar e o programa entrar em vigor no princípio de março, evitando que a Grécia entre em default.
Tsipras acerta colaboração com a OCDE
Horas antes do início da reunião de ministros das Finanças, o primeiro-ministro Alexis Tsipras fez saber que acordou com Angel Gurría, o secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico), um plano de trabalho entre Atenas e a organização para montarem um novo plano fiscal para a Grécia.O combate à evasão fiscal e a competitividade, a educação e a investigação são vetores que fazem parte da agenda a trabalhar por Atenas com a OCDE.


Num encontro mantido em Atenas, Tsipras explicou ter ficado estabelecida a criação de uma comissão que irá trabalhar um novo plano de para a reforma dos sistemas fiscal e social gregos: "Em breve, irei a Paris para formalizar esta cooperação".

Gurría sublinhou nesta deslocação a Atenas que o papel da OCDE consistirá na assessoria, uma vez que "os gregos sabem melhor do que a organização o que têm que fazer (…) Vocês têm o mandato para governar e nós estamos aqui para dizer-vos o que fazem outros países que têm os mesmos problemas".
Alexis Tsipras anunciou a intenção de acabar com alguns dos maiores problemas estruturais da Grécia horas depois de ter recebido do Parlamento um voto de confiança que lhe concede, para já, alguma margem de manobra, pelo menos a nível interno.Antes de viajar para Bruxelas, para a reunião desta quarta-feira, o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, garantiu ao Parlamento que o "memorando acabou".


Foram 162 os deputados (do Syriza e dos Gregos Independentes) que votaram a favor de um programa de governo que amputou fortemente as medidas de austeridade que vinham sendo aplicadas na Grécia sob a batuta dos parceiros europeus.

"Não vamos recuar, a Grécia não vai voltar ao tempo dos planos de resgate e da submissão", sublinhou o chefe do Governo, que contaria com o voto contra de toda a oposição (138 deputados). A renegociação do acordo de resgate assinado pelos governos anteriores com a troika e o combate à pobreza foram as prioridades assinaladas pelo Executivo Tsipras nas três horas de debate.
Saída da Grécia "não fará vítimas"
Entretanto, um dos protagonistas europeus que segue com particular interesse os encontros de quarta e quinta-feira - há hoje reunião do Conselho Europeu, onde têm assento todos os chefes de Estado e governo da União Europeia – é o primeiro-ministro e chefe do Governo espanhol, Mariano Rajoy.

A pouco mais de meio ano de enfrentar eleições em Espanha, Rajoy espera que as pressões europeias façam recuar as intenções do Governo Tsipras de dar uma volta ao acordo com os credores internacionais, de modo a poder aliviar a austeridade dos gregos, uma das suas principais promessas eleitorais.

Levando a sua avante e vencendo o braço de ferro com Bruxelas e com os parceiros da Zona Euro, ainda que parcialmente, representará um forte trunfo para futuras propostas do partido espanhol Podemos de Pablo Iglésias. Neste cenário, Mariano Rajoy espera que a resistência de Atenas não esteja para durar, e quanto mais cedo for vergada melhor. De qualquer forma, Madrid exclui a proposta grega de uma espécie de moratória até à negociação de um novo acordo com a troika: Atenas pede uma trégua de quatro a seis meses, ou seja, a solução para o país iria arrastar-se até setembro, caindo em cima das eleições espanholas.

Sabe-se, por outro lado, que uma saída de Atenas da Zona Euro é uma variável que não incomoda as agências de notação. Depois de o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, ter avisado para uma queda da organização da moeda única como um baralho de cartas no caso de saída da Grécia, a Standard & Poor's já veio dizer que o cenário do Grexit (saída dos gregos da eurozona) não faz antever grandes riscos.

"Contra o que muitos acreditam, as dívidas não são demasiado elevadas em comparação com a capacidade económica dos credores", defendeu o analista da S&P Moritz Krammer, explicando que Berlim ter-se-á adiantado e destinou mais dinheiro para salvar os bancos de perdas caso Atenas falhe os pagamentos.
Atenas tem Plano B a Leste
Já para a Grécia, avisou Moritz Krammer, as consequências seriam "desastrosas, as pessoas teriam de voltar a fazer todos os sacrifícios que já fizeram". É um cenário que não está fora das conjeturas dos gregos. Ainda na terça-feira o ministro da Defesa, Panos Kammenos, falava da necessidade de a Grécia ter na manga um Plano B.Governo chinês: "Estamos prontos a concertar esforços com o novo governo grego para elevar a cooperação bilateral em varias áreas, na base do respeito mútuo".

"O que queremos é um acordo (com a zona euro), mas se não houver acordo e se virmos que a Alemanha continua intransigente e que quer rebentar com a Europa, então teremos a obrigação de passar para o Plano B", declarou Kammenos, para apontar uma solução que poderá chegar de Pequim.

"Podemos estar a falar dos Estados Unidos da América, ou pode ser a Rússia, a China ou outros países", sugeriu Panos Kammenos.

De Pequim, assinalando apenas não conhecer esse Plano B, uma porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros sublinhava que "os laços políticos entre a China e a Grécia são fortes. Sempre considerámos a Grécia um parceiro e um muito bom amigo dentro da União Europeia".
No que respeita à opção russa, sabe-se já que o Governo de Moscovo se mostrou disposto a avaliar qualquer pedido de ajuda financeira que lhe chegue de Atenas.
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