Depois de o novo Governo da Grécia ter feito marcha atrás na venda do Porto do Pireu, a maior infraestrutura do género no Estado helénico, o regime chinês saiu a público para manifestar inquietação. Declarando-se muito preocupado, o Ministério da Economia de Pequim promete fazer valer os interesses dos conglomerados da China junto do Executivo de Alexis Tsipras, a começar pela Cosco, que já detém dois dos terminais portuários que servem Atenas.
O futuro caminho de Pequim nas relações com Atenas passará, de acordo o mesmo porta-voz, por “exortar o Governo grego a proteger os direitos e os interesses legais das sociedades chinesas na Grécia, incluindo a Cosco”.
E é a China Ocean Shipping Company (Cosco) que terá de começar a fazer contas na sequência de um dos primeiros anúncios do Governo encabeçado pelo Syriza – a suspensão dos processos de privatização dos portos do Pireu, perto da capital, e de Salónica, a norte, um dossier desencadeado pelo anterior Executivo de Antonis Samaras, que aliava conservadores e socialistas.
A postura do Ministério da Economia da China deixa transparecer um endurecimento de posições, em contraste com uma primeira reação em tom moderado por parte do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Na quarta-feira a porta-voz da diplomacia chinesa Hua Chunying lembrava que o grupo Cosco goza desde 2008 de “uma concessão para desenvolver os dois principais terminais de contentores do Porto do Pireu”.
“Este projeto é o exemplo de uma cooperação com ganhos para os dois países e pensamos que os dois governos têm a vontade de prosseguir a cooperação em diferentes sectores, porque isso traz benefícios aos dois povos”, reforçou Chunying.
“O país a avançar”
Foi em 2010 que Atenas assumiu junto dos credores internacionais – Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia – o compromisso de pôr em marcha um programa alargado de privatizações, abarcando equipamentos, propriedades e estruturas empresariais do Estado.
O programa do partido de esquerda que governa a Grécia desde o início da semana, em aliança com os Gregos Independentes, de direita, prescreve um ponto final parágrafo à alienação de ativos públicos.
Foto: Pantelis Saitas, EPA
O novo ministro grego da Economia, Infraestruturas, Marinha Mercante e Turismo, Georges Stathakis, sustentava ontem que o travão às privatizações permitiria capitalizar “importantes oportunidades de crescimento” da economia do país, de forma a resgatá-la a um “ponto crítico”.
Além do decreto para o Pireu, o Governo de Tsipras, pela voz do ministro da Energia, deu já ordem de paragem à privatização da DEI, o principal operador público de energia elétrica. Panayotis Lafazanis propôs-se mesmo “baixar o preço da eletricidade para melhorar a competitividade” e lançar “uma nova DEI produtiva” que ajude “o país a avançar”.
Abrindo uma terceira frente, a Xinhua tratou já esta quinta-feira de afiançar que a Cosco vai manter em mãos a gestão dos cais n.º 2 e n.º 3, concessionados ao grupo chinês por 35 anos.
A agência estatal chinesa atribui ainda a Theodoros Dritsas, o ministro adjunto grego com a tutela da Marinha Mercante, a afirmação de que, embora “a comunidade local” esteja “toda contra a privatização”, o “povo grego está ligado ao povo chinês por laços de amizade e solidariedade”.
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