Marcelo e Maria de Belém trocam acusações de incoerência e intriga

por RTP

Os candidatos presidenciais Marcelo Rebelo de Sousa e Maria de Belém Roseira trocaram hoje acusações de intriga, malícia e incoerência, num debate com sucessivas críticas pessoais em que recorreram a episódios das décadas de 80 e 90.

Neste frente a frente na RTP, Marcelo Rebelo de Sousa confrontou Maria de Belém com a falta de apoio do PS e o silêncio de António Costa sobre a sua candidatura, o que a socialista considerou normal por o partido ter decidido não apoiar ninguém.

O candidato falou ainda do dia em que Maria de Belém anunciou a candidatura, ao mesmo tempo que o líder do PS estava numa entrevista televisiva. "E diz que eu crio factos políticos e que não intriga", argumentou.

A socialista desvalorizou o momento desse anúncio, alegando que tinha previamente informado António Costa.

A antiga presidente do PS procurou demonstrar que o social-democrata não é fiável.

Citou Passos Coelho, que no Congresso do PSD “referiu-se a Marcelo como 'catavento político'” e relembrou o debate da véspera com Sampaio da Nóvoa para dizer que o candidato revela uma dualidade que não corresponde à necessidade de um Presidente da República que dê confiança e maturidade para garantir estabilidade. A candidata disse preferir ver Marcelo como comentador do que como Presidente.

Maria de Belém acusou Marcelo Rebelo de Sousa de “distorção sistemática” e considerou que a “relação com a sua área política natural é de um certo antagonismo em termos de apoio", realçando que nem Passos nem Portas se juntaram à campanha do adversário.

Marcelo respondeu: “Gostaria a senhora, que tenta intrigar todos os dias. Tenta receber uns votinhos à direita (…) Tenta obter à direita aquilo que não consegue à esquerda”. Maria de Belém contra argumentou, dizendo que "intriguista nunca fui. Se perguntar aos portugueses quem é o campeão nessa matéria, não sou eu".

Marcelo recorreu ao eurodeputado do PCP João Ferreira para definir a sua oponente como "uma pessoa ziguezagueante, com duas caras, que por um lado faz um discurso de esquerda, por outro lado tenta charmar à direita".

Neste debate, a socialista veio dizer que considera Marcelo o seu principal adversário. Rebelo de Sousa, em contrapartida, diz que os adversários não são os outros candidatos, mas sim os problemas de Portugal.

Um frente a frente marcado pelas críticas pessoais e ainda pela troca de acusações sobre questões de saúde, sendo Maria de Belém antiga ministra da pasta. A candidata criticou o que chamou de “oportunismo político” na ida de Marcelo ao hospital de S. José depois da morte de um doente com aneurisma, acusação que o candidato refutou.

O professor afirmou que falou com o ministro da Saúde, Adalberto Fernandes, antes e depois dessa visita e que terá um comportamento semelhante se for chefe de Estado.

Maria de Belém acusou também o social-democrata de ter apoiado um projeto de revisão constitucional para "distorcer" o Serviço Nacional de Saúde em 1982 - um tema lançado por Sampaio da Nóvoa na quinta-feira.

O ex-comentador televisivo procurou apresentar-se como um referencial de estabilidade, dando como exemplo a viabilização de três orçamentos quando liderava o PSD na oposição e o PS estava no Governo nos anos 90. Graças a isso, "pôde ser ministra da Saúde, pôde ser ministra da Igualdade", disse para Maria de Belém.

A meio da discussão, Marcelo acusou a sua concorrente de ser "muito hábil em tentar com alguma malícia dar a volta à situação".

Em resposta, ouviu: "Não, eu não sou maliciosa. Aliás, é muito risível que diga que eu sou maliciosa. Se há pessoa maliciosa, vou aqui já venho. Não se lembra do que chamou ao doutor Francisco Pinto Balsemão num Governo a que pertencia juntamente com ele?"

A antiga ministra da Saúde referiu que Marcelo, em tempos, chamou "lelé da cuca" ao fundador do PSD Francisco Pinto Balsemão, quando este era primeiro-ministro.

"Isso é mentira", reagiu o antigo presidente do PSD. Marcelo contrapôs que se tratou de um "texto humorístico" de 1978 e salientou que Balsemão esteve na chefia do Governo mais tarde, entre 1981 e 1983: "Só para ver como mente em termos de datas. É assim: mente sistematicamente, fingindo que não mente", acusou.

"Chamou ou não chamou? É por isso que Balsemão está zangado consigo e que não confia em si", atirou Maria de Belém. "Não, não está zangado", contestou Marcelo.

(com Lusa)
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