Isabel Meireles considera que o resultado das eleições britânicas é surpreendente e é também preocupante para a União Europeia. A especialista em Relações Internacionais sublinha que também o Partido Nacionalista Escocês (SNP) terá uma forte presença no Parlamento britânico, o que também poderá levar a mudanças no Reino Unido. São esperadas exigências de maior autonomia para a Escócia e a própria questão referendária pode voltar à agenda do dia, pelo menos, mais cedo do que se previa.
Com um referendo, o Reino Unido "vai tentar negociar junto de Bruxelas mais vantagens, mais devolução de poder que entretanto alienou. Isto é a velha tradição britânica", sublinha Meireles. A especialista recorda que o Reino Unido é um país eurocético, muito focalizado no mercado mas que não tem anseios de a tornar uma união mais política, muito menos uma Europa federal.
"Embora haja o referendo, não estou certa que David Cameron vá apoiar a saída do Reino Unido", relembra Meireles. Este não seria o primeiro referendo às instituições europeias, sendo esta, aponta Meireles, uma forma "muito musculada" usada por Londres para fazer "alguma chantagem" com Bruxelas.
Os britânicos têm-se mantido sempre mais afastados da construção europeia, estando de fora da União Económica e Monetária e do próprio espaço Schengen.
"A União Europeia é como um carro. Precisa de um travão e de um acelerador. O acelerador tem sido, até há pouco tempo, o eixo franco-alemão. O travão tem sido o Reino Unido", resume.
"A saída do Reino Unido poderia implicar que o carro da União Europeia se estampasse na primeira esquina", alerta.