Costa enaltece Marques e critica política "de helicóptero" do PSD

por RTP
O PS não vai “entrar num concurso de piadinhas nem em campanha suja”, garantiu Costa Miguel A. Lopes - Lusa

António Costa criticou, na noite de terça-feira, quem faz política “a andar de helicóptero” para as televisões, opondo-se ainda aos perfis falsos em redes sociais criados para “denegrir os adversários”. No encerramento de um comício do PS em Faro, o primeiro-ministro pediu a Pedro Marques que seja igual a ele próprio, depois de o cabeça de lista do partido às europeias ter sido acusado por Paulo Rangel de não levar as eleições a sério.

“Pedro Marques sabe que a vida política não se faz a andar de helicóptero, mas com os pés no chão, cara a cara com as pessoas. A vida política não é um espetáculo para as televisões, não são frases engraçadinhas”, sublinhou António Costa.

O secretário-geral do PS referiu-se, deste modo, a Paulo Rangel, que na manhã de terça-feira sobrevoou de helicóptero parte da zona de pinhal do interior de Coimbra e de Leiria.

O primeiro-ministro fez ainda referência ao responsável do PSD que poderá ter estado envolvido num caso de criação de perfis falsos na internet para ataque a adversários socialistas e que entretanto se demitiu.

“Não são campanhas sujas e negras que se vão construindo nas redes sociais, alimentando perfis falsos para atacar e denegrir os adversários. Isso não é política, isso é sujeira, isso não é digno da democracia”, afirmou.
Campanha de “piadinhas”
António Costa aproveitou para pedir a Pedro Marques que se mantenha igual a ele próprio e que recuse uma campanha de “piadinhas”, comparando o perfil político do cabeça de lista do PS com o de Paulo Rangel (PSD) e Nuno Melo (CDS-PP).

“Há uma enorme diferença entre aqueles que escolhem bons candidatos para aparecer na televisão e aqueles que escolhem bons deputados para representar toda a nação. Por isso, Pedro (Marques) sê igual a ti próprio, nós somos iguais a nós próprios”, disse.

De acordo com o líder socialista, o PS não vai “entrar num concurso de piadinhas nem em campanha suja”, mesmo que tal signifique “não agradar aos comentadores” nem às televisões, pois o mais importante é agradar à “própria consciência”.

“Eu não sei se Pedro Marques vai estar dez anos no Parlamento Europeu. Mas há uma coisa que sei: Nem que esteja lá seis meses fará mais do que Rangel e Melo nestes dez anos”, declarou Costa.

Para o secretário-geral do PS, Pedro Marques “tem obra para apresentar e não está há dez anos em Bruxelas sem ser capaz de dizer uma única coisa de útil que tenha feito pelo país, por qualquer português ou qualquer empresa em Portugal”.
“Brincar às eleições”
As declarações do primeiro-ministro surgiram em reação às críticas recentes de Paulo Rangel contra Pedro Marques. Num jantar com militantes em Arganil na noite de terça-feira, Rangel reforçou as acusações, declarando que o cabeça de lista do PS “não leva a sério” as eleições europeias.

"Isto não é altura de brincar às eleições, ou quer mesmo ir ao Parlamento Europeu ou não quer, e se não quer tem de dizer que não quer, não pode viver na ambiguidade, a enganar. Não pode viver a prometer que vai ser deputado para depois deixar de ser", afirmou Paulo Rangel.

O cabeça de lista do PSD às eleições para o Parlamento Europeu defendeu que Pedro Marques revela "ambiguidade" nas respostas que dá na campanha sobre se irá assumir o seu mandato se for eleito ou se "está a fazer um estágio para depois ser nomeado comissário europeu, se disso for o caso".

"Isso revela que o Partido Socialista e o seu cabeça de lista não levam a sério estas eleições porque não estão em condições de dizer se respeitam ou não a escolha do eleitorado", acusou.

Paulo Rangel aproveitou o comício para explicar a razão pela qual escolheu sobrevoar as áreas afetadas pelos incêndios de 2017. “Fizemos uma visita técnica e política (…) que pudesse abranger todos e dar uma visão global da questão dos incêndios”, esclareceu.

O cabeça de lista do PSD às europeias respondeu desta forma às críticas de um autarca social-democrata que o acusou de “discriminar os concelhos” e “explorar o drama humano”.
“Sobrevoar a dor das pessoas”
No comício da última noite do PS em Faro, Pedro Marques também criticou a escolha de Paulo Rangel e acusou-o de oportunismo ao “sobrevoar a dor das pessoas”.

"Na corrida pelo oportunismo político mais lamentável, Rangel ganhou de longe", disse o cabeça de lista do PS, frisando que "a campanha eleitoral foi longe demais", depois de a direita, através do "duo Melo (CDS) - Rangel (PSD)", ter introduzido o tema dos incêndios na campanha.

"Ele (Rangel) escolheu sobrevoar a dor das pessoas e do território. Desiludiu os que lá esperavam, mesmo com dois anos de atraso, uma palavra, um gesto, um momento para ouvir e compreender", lamentou Pedro Marques.

Segundo Pedro Marques, existe "uma grande diferença entre quem enfrenta a dor" e os que "fazem política de longe e depressa para o espetáculo mediático".

"Uns metem as mãos na massa, sujam as mãos. Outros sobrevoam as dificuldades, espreitando cada oportunidade de arrebanhar uns votos que parecem fáceis", salientou.
“Política de esquecimento”
A noite de terça-feira foi também marcada pelo jantar do Bloco de Esquerda, no qual Marisa Matias, cabeça de lista do Bloco, criticou o que disse ser a “política de esquecimento” em relação às vítimas dos incêndios.

Marisa Matias criticou também o esquecimento a que têm sido votadas algumas pessoas que sofreram com os incêndios de Pedrogão Grande e Monchique, considerando que “um país que se leva a sério não deixa ninguém para trás”.

“Não esquecer estas tragédias é também não esquecer as suas causas”, declarou.

O número dois da lista do BE ao Parlamento Europeu, José Gusmão, também esteve presente no jantar e acusou o PS de “nada ter para apresentar a não ser a outra gerigonça”.

Gusmão apontou ainda que "uma das grandes questões" é se os partidos estão nesta campanha para falar da Europa ou para falar do país.

"A direita já resolveu este problema - não fala da Europa e não fala do país. A direita fará uma campanha inteiramente composta de piadinhas e de ataques pessoais, muitas vezes a roçar o insulto e a infantilidade e esta é uma escolha da direita que faz todo o sentido porque não tem trabalho para mostrar e não tem propostas para trabalhar", atirou.

Já o PS, na perspetiva do número dois da lista do BE, "tem uma estratégia diferente" e "apresenta as vitórias dessa solução política, incluindo aquelas que foram impostas pelos partidos à sua esquerda".

c/Lusa
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