Marcelo considera que "transformações aceleradas" da sociedade levaram aos populismos

por Lusa
Hugo Correia/Reuters

O Presidente da República considerou que o "apelo ao populismo" que a sociedade enfrenta tem origem nas "transformações muito aceleradas" e na "democracia mediática" atual, que aumentaram "os excluídos permeáveis" a "mensagens aparentemente simples".

Em Braga, a participar no I Fórum Missionário, sexta-feira à noite, Marcelo Rebelo de Sousa explicou que na origem dos "fenómenos políticos" a que assistimos hoje, "qualificados de populistas", estão o "somatório de crises, ansiedades e angustias" e falta de motivação e não numa crise de liderança.

O chefe de Estado alertou ser "muito preocupante" quando na Europa "há quem se esqueça" que na origem da cultura europeia está o "cruzamento de civilizações" e reaja a problemas como os refugiados com "egoísmo, racismo e xenofobia", salientando que Portugal é um "exemplo de sociedade ainda pouco egoísta", comparado com outros países europeus.

"Eu não diria que antigamente havia lideres ótimos, que agora não há líderes tão bons quanto os que havia. Há líderes diferentes e em muitos casos com uma determinação fortíssima da democracia mediática, da democracia inorgânica e do apelo a populismos por causa da situação criada por transformações muito aceleradas, verdadeiras revoluções em sociedades ou setores da sociedade", considerou Marcelo Rebelo de Sousa.

Questionado sobre o aparente sucesso de fenómenos populistas, como, por exemplo, a vitória de Donald Trump nas eleições para a presidência norte-americana, o ex-professor de direito alertou para as consequências da evolução científica e social.

"As revoluções científicas, tecnológicas dos nossos dias estão a trucidar a vida de partes da sociedade (...), essas pessoas sentem-se excluídas e são apeladas, chamadas, a posições de contestação, de protesto (...) e, não sabendo o que fazer no presente e para o futuro, são de facto permeáveis aquilo que pareça como sendo mensagens simples", declarou.

Para o Presidente da República, "o somatório de crises, ansiedades, angustias em relação ao presente, ao futuro, levou, sobretudo em sociedades relativistas em que não há motivação clara de valores para encarar a situação critica enfrentando-a, para a querer superar, o que aparecer como mais simples, como mais imediato, tem sucesso".

Marcelo Rebelo de Sousa partilhou ainda as suas preocupações sobre a reação da Europa ao problema dos refugiados e migrantes.

"Quando há na Europa quem esqueça que a sua riqueza foi ser um cruzamento de civilizações, que não há europeus puros (...) e não compreendendo isso, há quem reaja com egoísmo, com racismo, com xenofobia com intolerância, com o fechar de fronteiras, com o negar daquilo que é o património europeu, isso é preocupante, é muito preocupante", realçou.

Em contraponto, o ex-comentador politico considerou que Portugal acaba por ser um modelo.

"Portugal é um exemplo de sociedade ainda pouco egoísta comparado com o que tenho encontrado noutras sociedades europeias, perante os migrantes, perante os refugiados, até porque somos uma nação que sempre emigrou, sempre recebeu, que está espalhada pelo mundo", apontou.

O Presidente, que se define como um "otimista realista", deixou ainda uma mensagem de esperança: "Esta vida não é só um vale de lágrimas, nem pode ser vista assim. Tem que ser uma construção de esperanças".

JYCR // ARA

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