Hungria encerra fronteiras com Croácia à meia-noite

por Graça Andrade Ramos - RTP
Guardas fronteiriços húngaros de vigilância a migrantes que aguardam vez de passar a fronteira em Botovo, Croácia, a 16 de outubro de 2015. A Hungria anunciou o encerramento das suas fronteiras com a Croácia a partir das 00h00 de sábado, dia 17. Antonio Bronic - Reuters

Para impedir o fluxo de migrantes vindos da Croácia, a Hungria anunciou o enceramento das fronteiras entre os dois países a partir da meia-noite (22h00 GMT). Croácia e Eslovénia acordaram entretanto um plano para gerir o fluxo de migrantes, caso a Hungria cumpra a ameaça.

"O primeiro-ministro corata, Zoram Milanovic está em contacto com o seu homólogo esloveno, Miro Cerar", revelou um porta-voz do governo croata. "O governo croata já tem um plano formado com a Eslovenia. Caso a Hungria encerre a fronteira, a Croácia começará a implementar esse plano em coordenação com a Eslovénia,«", acrescentou.

Não foram de imediato revelados pormenores do plano croata-esloveno. O ministro do interior da Croácia, Ranko Ostojic, afirmou depois ao início da noite, que os migrantes que até agora se dirigiam à Hungria iam passar a ser encaminhados por um outro 'corredor', em direção à Eslovénia.

O país está ainda a preparar em Slavonski Brod um centro de trânsito para os migrantes que atravessem o país durante os rigorosos meses de inverno.

O centro vai ficar instalado em antigos armazéns da empresa petrolífera INA, onde já existem insfraestruturas e duas linhas de caminho de ferro de ligação ao exterior.

O autarca de Slavonski Brod, Mirko Duspara, afirmou que não são esperadas dificuldades, já que a população local também ajudou pessoas em dificuldades durante a guerra de 1992.

O ministro do interior da Croácia garantiu que os migrantes serão bem acolhidos.

"Vamos ter casas aquecidas fornecidas pela ACNUR, toda a infraestrutura, melhor do que em Opatovac, com armazéns e uma estação de caminhos de ferro", revelou.

As autoridades estão a fazer tudo para que "os residentes de Slavonski Brod não sofram outras consquências além de positivas, como encontrarem empregos em funções públicas, companhias de serviços e outras, ou que pessoas como jornalistas ou os seus colegas se alojem nos hotéis locais, etc", disse Ostojic.
Críticas à Hungria
O ministro croata considerou ainda que a resposta ao problema da migração tem de ser encontrada a montante.

"O problema tem de ser resolvido na Turquia e na Grécia e então cenas como estas não aconteceriam, nem a questão do encerramento das fronteiras."

Para Ostojic, que falava aos jornalistas junto ao campo de Opatovac que acolhe os migrantes que chegam à Croácia, a decisão unilateral por parte da Hungria de encerrar da fronteira está mal explicada.

"Tenho a dizer que os motivos da parte húngara não são claros, porque todas estas pessoas que vieram da zona Schengen, da Grécia, e que transitaram da Croácia para a Hungria - nenhuma delas ficou lá. Por isso não havia necessidade de deixar de as receber, podiam ter continuado a fazê-lo porque a Alemanha e a Áustria não encerraram as suas fronteiras", lembrou.

"Esta é obviamente mais uma das decisões solitárias húngaras que não são aprovadas pela Croácia e outros países europeus e que nos trouxeram a esta situação de termis de alterar as rotas e adaptar a asituação e literalmente torturar pessoas", lamentou Ostojic.Hungria confirma encerramento
A Hungria confirmou esta tarde o encerramento da sua fronteira a sul, com a Croácia e responsabilizou a União Europeia pelo fracasso em conseguir um acordo para a proteção conjunta das fronteiras gregas.

O ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro, Peter Szijarto, considerou em Budapeste que, na reunião ministerial em Bruxelas, ficou claro que os Estados membros do acordo de Schengen mantêm a obrigação de defender as fronteiras externas europeias. Algo que a Grécia não está a fazer, considerou.

"Se a União Europeia quiser encontrar uma resposta comum à pressão migratória, então será necessária uma força europeia conjunta" para proteger as fronteiras gregas, afirmou Szijarto, após uma reunião do conselho nacional de segurança, em Budapeste.

Quanto ao caso da Eslovénia, igualmente membro de Schengen, um eventual encerramento da fronteira comum teria de ser acordada entre ambos os países, referiu o ministro húngaro. Uma possibilidade que ainda não está em cima da mesa, disse Szijarto.

Também a situação da fronteira com a Roménia está a ser monitorizada atentamente mas até agora não há razões para começar a erguer uma barreira entre os dois países, garantiu o ministro.
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