Polícias húngaros tratam refugiados "como animais" e repórter desculpa-se com ataque de pânico

por RTP
Laszlo Balogh, Reuters

A repórter de imagem húngara conotada com a extrema-direita desculpou-se pelas imagens que a apanharam a pontapear refugiados. Petra Lazlo, de 40 anos, diz que foi tomada por um ataque de pânico. Não explica no entanto por que pontapeou refugiados em duas alturas diferentes. Mas a Hungria volta a ficar mal neste retrato da situação dos refugiados: um vídeo divulgado por um trabalhador humanitário mostra polícias húngaros a alimentarem as pessoas como animais numa cerca.

Apesar das directivas emanadas de Bruxelas, por vezes pouco explícitas, é verdade, a Hungria está a lidar com a questão dos refugiados de forma muito rígida.

Em ambas as situações há um pormenor comum e eventualmente insignificante: à semelhança da maioria dos polícias, também a repórter de imagem uma máscara de proteção para a boca e nariz. Entre todos os câmaras que entram na imagem, Petra Lazlo é a única que filma com essa máscara de proteção.O Governo de Viktor Orban ergueu uma cerca – uma espécie de muro, para já 175 km de arame farpado na fronteira com a Sérvia - que faz lembrar maus exemplos de outras latitudes ou simplesmente remete para as piores memórias da Europa. É com esse muro que Orbán pretende enfrentar a questão migratória, não com a edificação de uma solução concertada entre os 28.

E é por esta e por outras razões que a Hungria tem sido alvo de censura, mesmo até entre os restantes Estados-membros.

E os motivos acumulam-se: no início da semana foram as imagens de uma repórter de imagem da televisão conotada com a extrema-direita a pontapear velhos e crianças num campo de refugiados sírios, no final da semana é um vídeo de polícias húngaros a alimentar os refugiados como se se tratassem de animais num jardim zoológico.
Alimentados como animais
As imagens de elementos da polícia húngara a alimentar os refugiados foram captadas por um casal de voluntários austríacos que na altura visitavam o campo de refugiados de Roszke, na fronteira com a Sérvia.

As imagens mostram centena e meia de refugiados empilhados uns em cima dos outros a tentar apanhar os sacos com comida que lhes é atirado pelos polícias, protegidos com máscaras faciais.

Alexander Spritzendorfer, o marido, lamentou a actuação dos polícias, assinalando que se comportavam como se estivessem a “alimentar animais numa cerca”.





“Era como ver animais a serem alimentados numa cerca. Era uma Guantánamo na Europa”, explicou Alexander Spritzendorfer, deixando a referência à prisão norte-americana, sobre a qual recai a acusação de torturar os prisioneiros.

O casal viajou desde Viena, capital austríaca, para levar roupa a medicamentos aos refugiados que se encontram encurralados na Hungria, explicou Alexander Spritzendorfer, um vereador do Partido Ecologista.

Terá sido na quarta-feira, numa altura em que falava com um trabalhador da Cruz Vermelha, que a sua mulher se afastou e decidiu fazer estas imagens: “Foi inumano e as imagens são um testemunho que abona a favor destas pessoas que, apesar de estarem esfomeadas, não lutaram entre si pela comida”, explicou Michaela Spritzendorfer.

Não é a primeira vez que Roszke é alvo de críticas. Já esta semana a ACNUR, a agência das Nações Unidas para os refugiados, se referira às condições extremas do campo. Apesar de tudo, e apesar das críticas de outros membros da União, Budapeste prepara-se para endurecer o tratamento contra os refugiados.

Já no início da próxima semana deverá ser aprovada legislação que enviará para a prisão estrangeiros que trespassem as suas fronteiras.
Jornalista explica pontapés com ataque de pânico

Entretanto, esta sexta-feira ficámos a conhecer as razões invocadas por Petra Lazlo para o ataque a pontapé contra os refugiados sírios junto à fronteira sul com a Sérvia, como se viu nas imagens divulgadas no início da semana por um repórter alemão.

Logo depois da divulgação das imagens, a “câmara” foi despedida quase de imediato pelo canal de televisão N1TV, que tem ligações ao partido Jobbik (extrema-direita austríaca). A polícia de Budapeste acabaria também por interrogar a jornalista, que está acusada de vandalismo.

“Sinto muito pelo que se passou. Estou em estado de choque pelo que fiz e pelo que estão a fazer comigo”, declara numa carta publicada na imprensa local.

Petra Lázló argumentou que na altura em que fazia imagens centenas de refugiados começaram a correr, o que a assustou: “É difícil tomar decisões corretas quando se está em pânico. Não consegui fazê-lo”.
Não um mas dois ataques de pânico
Há no entanto um pormenor que não é explicado pela repórter de imagem: Petra Lazlo foi filmada em duas alturas diferentes. Primeiro, a agredir um homem e a pontapear uma menina que corria; depois, já numa sequência diferente, a pontapear e rasteirar um homem de idade que corria com uma criança ao colo, o que provocou uma queda violenta a ambos.O canal N1TV considerou este “comportamento inaceitável”.

 
“Estava em pânico e agora vejo-me nas gravações como se não fosse eu (…) estou arrependida com o que aconteceu [e vou] assumir a responsabilidade”, declara Petra Lazlo, para acrescentar que não merece contudo ser alvo de uma “caça às bruxas política” ou das ameaças de morte que diz ter recebido.

“Não sou uma jornalista racista. Sou apenas uma mulher, uma mãe agora sem trabalho que numa situação de pânico tomou uma decisão errada”.
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