Consistência foi a chave do sucesso do campeão Shanghai SIPG, diz Vítor Pereira

por Lusa
Reuters

O treinador português Vítor Pereira apontou hoje a consistência do Shanghai SIPG ao longo da época como fundamental para quebrar com sete anos de hegemonia do "todo-poderoso" Guangzhou Evergrande na Superliga chinesa, ao sagrar-se campeão.

"Fomos consistentes: do ponto de vista ofensivo e defensivo, fomos uma equipa equilibrada", afirmou Vítor Pereira à agência Lusa, poucos dias após se sagrar campeão, no seu primeiro ano na China, um título inédito para o Shanghai SIPG e que pôs fim ao domínio do Guangzhou Evergrande na prova máxima do país.

O técnico observou que "só quem está aqui na China é que entende a dimensão do feito”. “O Guangzhou é, de facto, o todo-poderoso da China, campeões durante sete anos consecutivos, com largos anos de trabalho e jogadores com muita qualidade. Entre os jogadores chineses da minha equipa, nenhum tinha sido campeão”, lembrou.

O técnico português, que em dezembro de 2017 sucedeu ao compatriota André Villas-Boas no comando do Shanghai SIPG, lembrou ainda que a sua equipa conseguiu colmatar algumas carências do plantel recorrendo à polivalência dos jogadores.

"Nunca tivemos muitas soluções em termos de número de jogadores, vivemos muito da polivalência, tive um jogador que jogou nas posições quase todas e foi assim que fomos colmatando esse problema", disse.

A meio da época, o Guangzhou Evergrande ainda se reforçou com Talisca, antigo avançado do Benfica, e o médio Paulinho, oriundo do FC Barcelona, mas a equipa de Vítor Pereira venceu em todos os jogos decisivos, perdendo um único embate na segunda volta, e acabou a prova com cinco pontos de vantagem, após liderar o campeonato durante 29 jornadas.

Vítor Pereira tornou-se o terceiro treinador luso a conquistar o título em três países, juntando-se a Artur Jorge, campeão em Portugal (FC Porto), França (Paris-Saint Germain) e Arábia Saudita (Al-Hilal), e José Mourinho, campeão em Portugal (FC Porto), Espanha (Real Madrid), Inglaterra (Chelsea) e Itália (Inter Milão).

O treinador, natural de Espinho e com 50 anos, disse não estar "nada arrependido" de ter rumado à China, onde o Governo está a impulsionar o futebol, visando elevar a seleção chinesa ao estatuto de grande potência.

"É um campeonato muito mais competitivo do que aquilo que eu imaginei. Tem jogadores de qualidade, cada vez mais, porque a China tem capacidade para investir", afirmou.

O técnico disse ainda ser bem tratado em Xangai, a capital económica do país, onde "não falta nada" e sente que o seu trabalho é valorizado: "Sinto-me bem. Vivo bem. Estou numa cidade onde, como nas grandes cidades europeias, não falta nada, apesar de estar numa cultura diferente.

"Estou interessado em continuar, o clube também está: não esperou pelo fim para manifestar esse interesse. Há dois meses, já tinham manifestado todo o interesse para eu continuar. Isso revela também respeito e consideração", disse.


Vítor Pereira admite “erros estratégicos”, mas diz sentir-se bem na China
O treinador português de futebol Vítor Pereira admitiu hoje à Lusa ter cometido alguns "erros estratégicos" no decurso da carreira, mas observou que tem agora mais maturidade, afirmando que se sente bem na China.

"Cometi alguns erros estratégicos de percurso. Hoje, à distância, entendo", disse o técnico português, poucos dias após se sagrar campeão na China, ao serviço do Shanghai SIPG.

Vítor Pereira, que em dezembro de 2017 sucedeu a André Villas-Boas no comando do Shanghai SIPG, sagrou-se campeão, na semana passada, na época de estreia na equipa de Xangai, tal como tinha acontecido em 2011, no FC Porto, depois de também ter substituído o compatriota.

O técnico natural de Espinho tornou-se o terceiro treinador luso a conquistar o título em três países, juntando-se a Artur Jorge, campão em Portugal (FC Porto), França (Paris-Saint Germain) e Arábia Saudita (Al-Hilal), e José Mourinho, campeão em Portugal (FC Porto), Espanha (Real Madrid), Inglaterra (Chelsea) e Itália (Inter Milão).

O título, inédito para o Shanghai SIPG, pôs ainda fim ao domínio de sete anos do Guangzhou Evergrande na prova máxima da China, e dará um novo impulso à carreira do técnico, após uma passagem pela segunda divisão alemã, onde não evitou a despromoção do TSV 1860 Munique.

"Foi uma experiência muito difícil e um risco muito grande na minha carreira: depois de sair do Fenerbahçe [histórico clube turco], ir para a segunda divisão alemã, para um clube que estava a passar uma fase de muitos problemas", descreveu.

O treinador considerou que “foi uma exceção na carreira”: “Gosto de jogar para ganhar títulos, gosto de qualidade. Na Alemanha tive esse grande problema, esse contraste, entre aquilo que queria e aquilo que eles me podiam dar", acrescentou.

Vítor Pereira começou por treinar nas camadas jovens (Padroense e FC Porto) antes de assumir o primeiro conjunto sénior, o Sanjoanense, em 2005.

Na época seguinte foi para o Sporting de Espinho, antes de voltar à formação dos ‘dragões’ e assumir o comando do Santa Clara, onde se começou a destacar, merecendo de novo a confiança do FC Porto, desta vez para ser adjunto na equipa técnica de André Villas-Boas, em 2010/11.

A saída de Villas-Boas levou o presidente do FC Porto, Pinto da Costa, a apostar em Vítor Pereira para treinador principal e o técnico acabou por se sagrar bicampeão e vencer duas Supertaças portuguesas, entre 2011 e 2013, mas acabou por rumar à Arábia Saudita, para treinar o Al-Ahli.

"Foi uma questão financeira: achei que não podia desperdiçar a oportunidade", contou.

No regresso à Europa, para treinar os gregos do Olympiacos, Vítor Pereira sagrou-se campeão e venceu a Taça da Grécia, antes de rumar ao Fenerbahçe, de onde resolveu sair, na segunda época, devido a "desentendimentos com o ponto de vista do presidente".

Em dezembro de 2017, e já depois da referida passagem pela Alemanha, o treinador, de 50 anos, rumou à China, uma decisão da qual diz "não estar nada arrependido".

"É um campeonato muito competitivo, muito mais competitivo do que aquilo que eu imaginei. Tem jogadores de qualidade, cada vez mais, porque a China tem capacidade para investir", afirmou.

Grandes empresas chinesas, privadas e estatais, investiram nos últimos anos o equivalente a centenas de milhões de euros nos clubes do país, respondendo ao desejo do Governo em converter a China numa potência futebolística à altura do seu poder económico e militar.

O técnico diz ainda sentir que o seu trabalho é valorizado pelo clube.

"Estamos a discutir o futuro, mas eu estou interessado em continuar e o clube também. Não esperou pelo fim, para manifestar o interesse na minha continuidade. Há dois meses, já tinham manifestado todo o interesse para eu continuar e isso mostra também respeito e consideração", descreveu.

Capacidade de adaptação é o “segredo” do treinador português

Vítor Pereira considera a capacidade de adaptação uma qualidade dos portugueses, "fundamental" para vencer na China, onde se sagrou na semana passada campeão pelo Shanghai SIPG.

"Um dos segredos do treinador português é ter essa capacidade: chegamos a qualquer lado e adaptamo-nos", afirmou à agência Lusa, poucos dias após se sagrar campeão, no primeiro ano na China.

Vítor Pereira, que em dezembro de 2017 sucedeu a André Villas-Boas no comando do Shanghai SIPG, sagrou-se campeão logo na época de estreia na equipa de Xangai, tal como tinha acontecido em 2011, no FC Porto, depois de também ter substituído o compatriota.

"Mesmo em circunstâncias muito diferentes daquelas a que estamos habituados, rapidamente conseguimos perceber o meio, o que temos e as condições para atingir o sucesso. E temos visto muitos treinadores portugueses por esse mundo fora a dar cartas", descreveu.

O título conquistado pelo Shanghai SIPG acabou com o domínio absoluto do Guangzhou Evergrande no campeonato chinês nos últimos sete anos.

Vítor Pereira, que se tornou o terceiro treinador luso a conquistar o título em três países, juntando-se a Artur Jorge e José Mourinho, considerou ainda que os portugueses podem dar um contributo para o desenvolvimento da modalidade na China.

"O futebol na China está a desenvolver-se muito depressa, eles querem rapidamente colocar a [seleção chinesa] no Campeonato do Mundo. Há muito trabalho para fazer e penso que podemos ajudar do ponto de vista tático, estratégico, do entendimento do jogo ou cultura tática. Nós portugueses temos uma boa formação”, disse.

O técnico lembrou ainda que "por cada título que se consegue ou cada trabalho bem feito, abrem-se portas" para mais treinadores portugueses.

"Quando se chega a um país e se mostra competência, trabalho, esforço e dedicação, a seguir vão abrir-se mais portas, muitas vezes até para treinadores que têm menos visibilidade, que ninguém conhece, mas que estão a começar a carreira", descreveu.

Quase 100 treinadores portugueses de futebol vivem, atualmente, no país asiático, desde a província de Jilin, na fronteira com a Coreia do Norte, até à ilha tropical de Hainan, no extremo sul do país.

Alguns são contratados por clubes e outros estão integrados no sistema de ensino público, que incluiu em 2015 a modalidade no desporto escolar, parte de um "plano de reforma do futebol" decretado pelo governo, visando elevar a seleção chinesa ao estatuto de grande potência.

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