Onze polícias acusados de agressão a adepto do Boavista remetem-se ao silêncio

por Lusa
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Os 11 efetivos do Corpo de Intervenção da PSP acusados de agressão, em 2014, a um adepto do Boavista em Guimarães, cegando-o de um olho, remeteram-se hoje ao silêncio, no início do julgamento, no tribunal daquela cidade.

Um dos arguidos é Paulo Rodrigues, presidente da direção da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP).

Os arguidos chegaram ao Tribunal de Guimarães em duas carrinhas da Unidade Especial de Polícia e tentaram de tudo para fugir às objetivas dos fotógrafos e às câmaras de televisão.

Já na sala de audiências, e enquanto aguardavam pelo início do julgamento, alguns deles tiveram mesmo "direito" a café, "servido" por um outro polícia de serviço no tribunal.

Ao contrário do que é habitual, a identificação dos arguidos, que acontece sempre no início de um julgamento, decorreu à porta fechada.

Fonte do tribunal explicou que foram os arguidos que pediram exclusão de publicidade dessa parte do julgamento, em que é perguntado nome, filiação e morada.

Acusados de ofensa à integridade física grave qualificada, os arguidos optaram por não prestar declarações sobre os factos de que estão acusados, tendo o tribunal ouvido o adepto agredido.

João Pedro Adrião contou que se deslocou a Guimarães para apoiar o Boavista e que, após sair do autocarro, esperou um pouco pelo irmão, tendo sido de imediato interpelado por um polícia que lhe disse que não podia parar ali e que, "ato contínuo", o empurrou, o projetou ao chão e o agrediu com murros, joelhadas e cotoveladas.

Contou ainda que entretanto se juntaram mais dois polícias, que o agrediram também à bastonada.

Outros agentes terão formado um círculo à sua volta, impedindo que lhe fosse prestado socorro.

Disse que, fruto das agressões que sofreu na cara, ficou sem um olho e que, por causa do que aconteceu, não mais conseguiu exercer a sua profissão de advogado.

Uma versão corroborada pelo irmão da vítima, que também estava no local e que hoje também foi ouvido em tribunal.

"Chegou uma altura em que vi o meu irmão estava morto", referiu.

No entanto, nem a vítima nem o irmão conseguiram identificar qualquer um dos agressores, sendo por aqui que está a ser trabalhada a defesa dos arguidos.

Os factos remontam a 03 de outubro de 2014, aquando do jogo da 7.ª jornada da I Liga entre o Vitória de Guimarães e o Boavista.

A acusação, deduzida pelo Ministério Público, diz que os 11 arguidos tinham sido destacados, enquanto efetivos do Corpo de Intervenção da PSP do Porto, para, em Guimarães, zelar pelas questões de segurança colocadas pelo jogo.

Acrescenta que, à chegada dos autocarros que transportavam os adeptos do Boavista, um dos arguidos abordou um destes adeptos, instando-o a que se movimentasse para determinado local.

Como este não obedeceu de imediato, "derrubou-o ao solo, colocou-lhe um joelho por cima das costas e fê-lo permanecer deitado no solo de cara para baixo", refere.

Diz ainda que, de seguida, ele e outros dois arguidos "bateram no referido adepto, nomeadamente com cotoveladas, pontapés, socos e pancadas de cassetete, enquanto os demais arguidos os integraram no interior de um círculo que formaram e assim impediram que lhe fosse prestado socorro".

Um juiz de instrução criminal do Tribunal de Guimarães tinha ditado o arquivamento dos autos, por considerar que não era possível identificar os agressores.

O Ministério Público e a vítima recorreram, tendo o Tribunal da Relação de Guimarães pronunciado os arguidos pelo crime de ofensa à integridade física grave qualificada.
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