Podence diz que Bruno de Carvalho sabia bem que o plantel "não estava com ele"

por Lusa
EPA

O futebolista Daniel Podence disse hoje em tribunal que o antigo presidente do Sporting Bruno de Carvalho sabia "perfeitamente que o plantel não estava com ele", na altura da invasão à academia do clube, em Alcochete.

Na 12.ª sessão do julgamento da invasão à academia, que decorre no tribunal de Monsanto, o jogador admitiu ter estranhado o tom "cordial" de Bruno de Carvalho durante uma reunião que manteve com o plantel `leonino`, na véspera da invasão, quando sabia "que os jogadores não estavam com ele".

Segundo o futebolista, Bruno de Carvalho, que também reuniu na véspera com a equipa técnica e com o `staff`, em encontros separados, perguntou, num "tom muito cordial", aos jogadores se estavam com ele "acontecesse o que acontecesse" e disse que "não estava a ser nada fácil acalmar os adeptos", depois da derrota no terreno do Marítimo, que afastou os `leões` do segundo lugar da I Liga.

Numa inquirição via Skype, o futebolista contou ter visto o companheiro croata Misic ser agredido na cara com um cinto, durante a invasão ocorrida em 15 de maio de 2018, que descreveu como "uma zona de guerra".

"Eu estava sentado na zona do meu cacifo, ao lado do Misic, e vi darem-lhe com um cinto na cara", explicou o jogador, que, entretanto, rescindiu unilateralmente com o Sporting.

Podence disse que, já fora do balneário, viu "Bas Dost com a cabeça aberta" e o treinador de futebol Jorge Jesus "caído e com lesões físicas", acrescentando que este "estava desnorteado e notava-se bem que tinha sido amassado".

O avançado, que alinha nos gregos do Olympiacos, admitiu que teve "muito receio" e que até pensou em fugir, explicando depois porque não o fez: "Não arrisquei, porque um passo que alguém desse, era mais uma chance para ser cercado, e não sabíamos quem estava lá fora."

Daniel Podence, que quantificou em cerca de 30 as pessoas que entraram no balneário, "uns de cara tapada, outros não", explicou que os jogadores Rui Patrício, William Carvalho, Acuña e Battaglia eram os alvos principais

"Parecia que estavam mais à procura do Rui, do William, do Acuña e do Battaglia, e depois era quem aparecesse no caminho", disse, acrescentando: "Quando entraram, o William foi direto à porta, fizeram uma roda à volta dele e começaram a bater-lhe, eram à volta de uns 30. Deram-lhe socos e pontapés, tudo e mais alguma coisa."

Podence, que disse ter visto Acuña sentado, a tentar proteger-se "das chapadas e socos que lhe estavam a dar", lembra-se de ter visto "um garrafão de água a voar contra o Rui [Patrício]".

O avançado, que se constitui assistente no processo, disse ter sentido medo durante algum tempo depois do ataque, mas assumiu ter recusado a proteção disponibilizada pelo clube: "Passados uns dias, o Sporting ofereceu `uma pessoa para andar connosco, mas, como eu já não queria estar, de maneira nenhuma, ligado ao Sporting, recusei."

Durante a 12.ª sessão do julgamento, que envolve 44 arguidos, entre os quais o antigo presidente Bruno de Carvalho, o coletivo de juízes ouviu também Ricardo Vaz, que à data trabalhava no gabinete de apoio ao jogador.

Ricardo Vaz explicou ter-se apercebido de "algum barulho" e de, já depois do ataque, lhe ter sido pedido que contactasse a portaria para deixar entrar um veículo que iria buscar, entre outros, Fernando Mendes, ex-líder da Juventude Leonina e `Aleluia` [Elton Camará].

"Recebi uma chamada de Bruno Jacinto [à data oficial de ligação aos adeptos do Sporting] a pedir-me se eu poderia avisar a portaria que iria um BMW azul para buscar as pessoas que ainda ali estavam", disse, acrescentando: "Recordo-me de ouvir lá que eles não tinham agredido os jogadores."

O julgamento prossegue na segunda-feira com as inquirições de José António Laranjeira, que integrava o departamento de `scouting`, do futebolista João Palhinha, atualmente emprestado ao Sporting de Braga, e de Gonçalo Rodrigues, do departamento de apoio ao jogador.

O processo, que está a ser julgado no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, tem 44 arguidos, acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.

Bruno de Carvalho, à data presidente do clube, `Mustafá`, líder da Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados, como autores morais, de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.

Os três arguidos respondem ainda por um crime de detenção de arma proibida agravado e `Mustafá` também por um crime de tráfico de estupefacientes.

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