Banca grega reabre em semana de mergulho na austeridade

por Carlos Santos Neves - RTP
Os gregos veem agora os levantamentos limitados a 420 euros por semana Yiannis Kourtoglou - Reuters

É mais uma semana de elevada fasquia política para o Governo de Alexis Tsipras. Os bancos reabrem esta segunda-feira, ainda debaixo do controlo de capitais. Mas os gregos vão começar a encontrar vários bens e serviços mais caros, numa primeira inoculação de austeridade que agrava o IVA em dez pontos. Este é também o dia da escala, em Atenas, de um envelope europeu de sete mil milhões de euros: servirá para reembolsar BCE e FMI.

Alexis Tsipras é o rosto de um Governo e de um partido combalidos. E o jornal Avgi descreve como politicamente crucial a semana que agora se inicia.

As últimas semanas também o foram. A diferença, segundo a publicação tida como próxima do Syriza, é que o primeiro-ministro grego estará disposto a bater com a porta e a levar o país para eleições antecipadas, caso aumentem as dissidências de correligionários.Com o agravamento do IVA, o Governo grego espera obter receitas adicionais de 795 milhões de euros este ano e de aproximadamente 2,4 mil milhões em 2016.


Além do agravamento do imposto sobre o consumo, que passa de 13 para 23 por cento em bens e serviços como os produtos alimentares não perecíveis e a restauração, agora em vigor, os gregos aguardam o desfecho de uma votação parlamentar, na quarta-feira, sobre novas reformas exigidas pelos credores: da legislação bancária e da justiça civil.

Na semana passada, chegado o momento de discutir e votar o roteiro de austeridade determinado pelos diretórios europeus, Tsipras assistiu a uma primeira desagregação da bancada do Syriza. Trinta e nove dos 149 deputados do partido da esquerda dita radical votaram contra o acordo forjado em Bruxelas.

O quadro pode repetir-se. Ou agravar-se, precipitando mesmo a queda de um Executivo entretanto remodelado. O processo, oficialmente apresentado como uma adaptação “à nova realidade”, incidiu sobre dez membros do elenco. Os novos ministros, vice-ministros e ministros adjuntos prestaram juramento no sábado.
Banca aberta, torneira apertada
É neste caldo de tensões que os bancos da Grécia – encerrados desde 29 de junho – voltam a abrir ao público. Haverá algum alívio nas restrições aos levantamentos em dinheiro e às transações com cartões de crédito. Mas o cinto permanece apertado.

Os gregos não poderão levantar mais do que 420 euros por semana. Até aqui estavam impedidos de levantar mais do que 60 euros por dia. Por outro lado, os cartões de crédito podem apenas ser usados entre as fronteiras do país.

Também as transferências para o estrangeiro continuam restringidas. As exceções à regra são os encarregados de educação com filhos a estudar noutros países, que poderão transferir até cinco mil euros por trimestre, e os gregos que tenham de custear tratamentos médicos, aos quais está reservado um teto de dois mil euros.
Troika em Atenas
Esta segunda-feira é ainda o dia da chegada de um empréstimo europeu de emergência de sete mil milhões de euros, aprovado na sexta-feira pela União. Dinheiro que passará por Atenas como uma corrente de ar.

O Governo de Tsipras terá, no imediato, de fazer face a reembolsos de 4,2 mil milhões de euros ao Banco Central Europeu e de cerca de dois mil milhões ao Fundo Monetário Internacional.

Outro dos pontos de pressão no torniquete em redor do Governo helénico é o reinício dos trabalhos dos técnicos do BCE, do FMI e da Comissão Europeia: a troika, laconicamente rebatizada como “as instituições”, regressa a Atenas para tomar o pulso à economia e às finanças gregas.

Quando começa a preparação do terreno para um terceiro resgate de mais de 80 mil milhões de euros, a aplicar em três anos, nem entre os credores há concórdia. Enquanto o FMI se inclina para um haircut da dívida soberana da Grécia, Berlim mantém-se irredutível, apesar de notícias de divergências no Governo de Angela Merkel.

No domingo, a chanceler alemã reiterava a oposição a um perdão “clássico”, admitindo apenas novos “aligeiramentos”, mas só se “o exame do programa for bem-sucedido”.
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