As contas da TAP

por Sandra Salvado com Sara Piteira
Foto: Pedro A. Pina, RTP

As contas não são fáceis de fazer mas os hoteleiros estimam que 300 milhões de euros de receitas de exportação sejam perdidas com a greve da TAP. Os números foram divulgados pela Associação de Hotelaria de Portugal. Há ainda quem aponte que se a TAP falir vai haver uma perda de 5,5 mil milhões de euros, nos primeiros três anos.

São "prejuízos irreparáveis para o setor e para a economia nacional", disse Luís Veiga, presidente da Associação de Hotelaria de Portugal.

"Uma greve desta envergadura pode levar a perder 325 mil hóspedes, um milhão de dormidas e 300 milhões de euros de receitas turísticas, pela exportação", adiantou o mesmo responsável.

Já a companhia aérea portuguesa estima que os prejuízos diretos da paralisação de dez dias rondem os 70 milhões de euros.

“Se a TAP falhar, alguém vai tomar a sua posição mas não na totalidade, pelo menos, nos primeiros três anos. Se a TAP falir vai haver uma perda de 5,5 mil milhões de euros em três anos”, disse o analista de mercados, Marcos Silva no programa Prós e Contras da RTP.
Aquisição da VEM e gestão ruinosa
Para Marco Silva isto acontece devido à “gestão ruinosa que esta administração tem tido e começou, principalmente, desde a aquisição da Engenharia e Manutenção no Brasil, a VEM (Varig Engenharia e Manutenção), uma aquisição que eu saiba, não foi sequer autorizada pelo Governo, já que a TAP é uma empresa pública”.

O negócio custou à TAP cerca de 500 milhões de euros e iniciou-se em 2007. O analista de mercados disse à RTP que a administração da TAP adquiriu “uma empresa que tinha um capital próprio negativo de 77 milhões de euros. Pagou-se 19 milhões, mais 24 injetados instantaneamente. E começam aqui os grandes prejuízos da TAP. Porque no ano anterior, a empresa tinha um capital próprio de 38 milhões positivos”.





“A TAP tem menos 515 milhões e tinha 38 milhões no início. O transporte aéreo, a engenharia e manutenção portuguesa, o free shop e o catering tinha lucros de 112 milhões.”, salienta.
Presidente da TAP escondeu prejuízo e manipulou contas
Marco Silva diz que, primeiro, o presidente da TAP disse que a maioria da participação da VEM era para vender, “no entanto, e por isso, coloca essa aquisição nas contas de 2007. Isto é muito importante".

"Ele claramente escondeu um prejuízo, manipulou as contas e disse que, como era para vender depressa, não a ia consolidar. O que é certo é que no ano a seguir estava a dizer que era um investimento de longo prazo e consolidou-o”, disse o analista de mercados à RTP.





“O que se está a retirar aos trabalhadores portugueses está a servir para financiar os prejuízos na engenharia e manutenção Brasil”, disse Marco Silva.
O analista de mercados diz que existem responsabilidades judiciais, “nomeadamente, de impostos e laborais no Brasil que ainda falta pagar. Portanto, ele [Fernando Pinto] colocou-se num beco sem saída, num grande buraco financeiro. Desde que a VEM foi adquirida, nunca a VEM facturou mais do que a portuguesa”.





E acrescenta que o presidente da TAP “comprou uma empresa altamente endividada com muito pessoal e que provocava prejuízos. Despediu cerca de 50 por cento das pessoas e quem pagou essa fatura foi a TAP e os trabalhadores da TAP Portugal. Este é o acumulado da VEM de 2007 a 2014”, referiu Marco Silva.
Privatização da TAP
O analista de mercados referiu ainda que esta é uma das razões porque é apologista da privatização da TAP. “A primeira coisa que deveriam fazer era tirar de lá o engenheiro Fernando Pinto ou então retirar a operação no Brasil, que não faz qualquer tipo de sentido, em termos financeiros”.

Já para o antigo presidente da Ground Force, Carlos Paz, o problema principal é que há “uma total incompetência política para fazer coordenação sectorial e para fazer supervisão. Havendo isso, não faz sentido privatizar uma coisa que é muito próxima do monopólio natural. Portanto, quando houver estas condições devemos privatizar a TAP, mas agora não há condições”.
"TAP vale de facto 100 milhões"
De acordo com antigo presidente da Ground Force, a TAP “vale do ponto de vista comercial, no limite máximo, 1,2 mil milhões de euros. Tem uma dívida bruta de 1,1 mil milhões de euros, portanto, a TAP vale de facto 100 milhões”.

“Ou seja, aquilo que alguém tem que por em cima da mesa para pagar a TAP são 100 milhões. Qualquer coisa acima disto é o prémio que estará disposto a pagar para tomar conta da empresa”, salientou Carlos Paz.

São mais de 13 mil os trabalhadores da companhia, sendo que dez mil estão em Portugal. No ano passado voaram na TAP mais de onze milhões de passageiros para 85 cidades.
Reportagem de Paula Martinho da Silva/Marcelo Sá Carvalho, RTP

Também no ano passado, A TAP foi considerada a terceira companhia aérea mais segura da Europa.
TAP alerta passageiros
A TAP já alertou os passageiros para dificuldades provocadas pela greve de pilotos, dizendo que “lamenta todos os transtornos causados aos seus clientes”.

“Os nossos serviços têm trabalhado incessantemente para encontrar soluções que minimizem as consequências mas, numa greve de 10 dias seguidos, é impossível à Companhia resolver parte dos problemas colocados”, referem em comunicado.

As informações relevantes relacionadas com a operação serão atualizadas com regularidade no flytap.com ou na sua página de facebook.

“Com uma média diária nos próximos dias de 296 voos, a TAP tem garantidos os voos de serviços mínimos. Todos os restantes dependerão da adesão dos pilotos à greve. Porém, há já uma lista de voos para os três primeiros dias do período de greve, que é praticamente certo que não serão possíveis efetuar”, salienta a companhia aérea portuguesa em comunicado.
Tópicos
pub