Aumentos dos preços e atrasos nas entregas são um desafio para os hospitais

por Lusa

O custo de uma tonelada de algodão, um dos materiais mais usados nos hospitais, passou de 60, 70 euros para 230 euros nos últimos meses, agravamento potenciado pelos efeitos da guerra na Ucrânia, mas que já vinha a sentir-se desde 2021.

Este é um dos muitos exemplos do aumento generalizado dos preços que está a colocar desafios aos hospitais, que enfrentam também atrasos nas encomendas, como relataram à agência Lusa os diretores da Unidade de Logística e Stocks, Nuno Loureiro, e do Serviço de Instalações e Equipamentos, Nuno Jorge, do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, que integra os hospitais Santa Maria e Pulido Valente.

O aumento acentuado dos preços começou nos finais de 2021 devido à crise energética e agravou-se com o início da guerra na Ucrânia em 24 de fevereiro.

Apesar da subida dos preços ser transversal, atinge principalmente os consumíveis hospitalares, como seringas, compressas, ligaduras, disse Nuno Loureiro, explicando que este aumento resulta do preço das matérias-primas, mas também do custo do transporte, da armazenagem e distribuição.

Como exemplo, apontou o aumento do preço das seringas que oscila entre os 21% e os 38%.

"O nosso fornecedor de compressas partilhou connosco que comprava uma tonelada de algodão a 60, 70 euros e de repente passou a custar 230, 240 euros (...) e o aluguer de um contentor que rondava pouco mais de 1.000 euros, de repente, passou para 6.000 ou 7.000 euros", contou.

Até à data, disse Nuno Loureiro, não tem havido ruturas no abastecimento deste tipo de materiais, Contudo, tem havido" vários problemas" que obrigam a mudar de fornecedores, o que tem um "impacto muito significativo na procura".

"Se, por exemplo, temos um concurso em que foi adjudicado um determinado produto a um determinado preço, a partir do momento em que o fornecedor nos comunica que não consegue praticar o preço do concurso, obriga-nos a ter que reiniciar todo um processo para encontrar novos fornecedores e isso provoca também graves prejuízos e danos na cadeia", explicou.

Neste momento, vincou, "a imprevisibilidade é tão significativa" que obriga a estar recorrentemente a procurar novas soluções para continuar a satisfazer os serviços e reabastecer o centro hospitalar de todo o material necessário para tratamento, cirurgias, meios complementares de diagnóstico.

"Isso faz com que, quer os serviços de logística, quer os serviços compras, tenham de ter uma agilidade superior para dar resposta a estes desafios e dificuldades que sentimos", sublinhou Nuno Loureiro.

No Serviço de Instalações e Equipamentos também se sentem os constrangimentos da inflação, nomeadamente nas faturas da eletricidade, em que contam pagar "duas a três vezes mais" do que em 2021, e do gás, em que o custo será "três a quatro vezes superior", disse Nuno Jorge.

Os custos também já se fazem sentir na compra de aparelhos, como, por exemplo, um monitor de sinais vitais. "Ainda estamos no início, mas já começa a haver equipamentos com aumentos de 60% devido aos componentes eletrónicos e não há prazo de entrega".

Esta situação deve-se à falta de matérias-primas que atrasa a produção, uma situação que afeta toda a Europa, explicou.

As obras também não ficam fora da equação: "Estamos a presenciar aumentos na ordem dos 40% e começamos a presenciar um elevado número de concursos públicos desertos, uma vez que hoje em dia os preços estão tão voláteis que dificultam os concursos".

Também neste caso, o prazo de entrega dos materiais é uma incógnita. "Logo a seguir à pandemia assistimos a uma desaceleração nas entregas e a guerra veio acentuar isso", lamentou.

Nuno Jorge saudou o facto de a União Europeia já está a tomar medidas para atenuar estes aumentos porque, disse, "não vamos conseguir aguentar muito mais".

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