Em entrevista à TVE, a responsável do Governo espanhol assegurou que uma nova ligação a França através da Catalunha e dos Pirenéus poderá estar operacional nos próximos “oito a nove meses”.
De acordo com a responsável, a nova interligação poderá estar operacional “no lado sul”, ligando a Catalunha e os Pirenéus. No entanto, a colaboração de França será “fundamental” para que o gasoduto chegue ao resto da Europa, sublinhou a ministra. Defendeu ainda que este projeto de grande relevância para a Europa deverá contar com o financiamento de Bruxelas.
A nível energético, Portugal e Espanha foram até agora uma espécie de "ilha", com uma interconexão residual aos restantes países da Europa. Nos últimos anos, a França tem sido a grande opositora às ligações energéticas com a Península Ibérica. O projeto de gasoduto Midcat, que ligaria Espanha e França passando pela Catalunha através dos Pirenéus, acabou por nunca sair do papel.
A ministra espanhola, Teresa Ribera, fez questão de lembrar, nesta entrevista à emissora espanhola, que a ligação entre Espanha e França só ainda não existe devido à oposição de Paris. No entanto, no contexto da invasão russa da Ucrânia, as novas ligações energéticas a Lisboa e Madrid ganham nova urgência, já que permitiriam reduzir a dependência energética da Europa face a Moscovo.
O apelo de Scholz
As declarações da ministra espanhola da Energia surgem na reação ao apelo do chanceler alemão na última quinta-feira. Em conferência de imprensa, Olaf Scholz declarou o seu apoio à construção de um gasoduto de ligação entre Portugal e a Europa Central.
"Esse gasoduto iria aliviar de forma massiva a situação atual do abastecimento", disse Scholz na conferência de imprensa a partir de Berlim, adiantando que tem exercido forte pressão para a execução deste projeto e que até já abordou o assunto em conversas com os líderes de Espanha, Portugal, França e com a presidente da Comissão Europeia.
O chanceler alemão lamentou mesmo que o gasoduto não tenha ainda sido construído. "Faz falta de uma forma dramática", considerou. A Alemanha é, de resto, um dos países mais dependentes de Moscovo no que ao consumo de energia diz respeito.
Em concreto, a proposta espanhola em resposta ao apelo alemão permitiria a ligação ao gasoduto Madgaz, que liga a Argélia ao sul de Espanha, em concreto a Almería.
Teresa Ribera propõe, para além desta solução imediata, a instalação de um “compressor adicional” no País Basco que permitiria um aumento de 20 a 30 por cento do envio de gás para França.
A ministra espanhola sugere ainda a utilização de “navios e portos” para transportar o gás liquefeito de Espanha para outros locais da Europa. Neste ponto, a responsável espera que seja possível “aproveitar melhor” os recursos do porto de Gijón para aumentar o embarque de gás natural para o resto do continente.
Espanha tem acesso ao gás natural produzido no norte de África (Marrocos e Argélia) através dos gasodutos do Magreb e Madgaz, respetivamente. Em Portugal, o gás natural chega sobretudo por mar, através do porto de Sines.
Alemanha “pode contar” com Portugal
Horas após a declaração do chanceler alemão, o primeiro-ministro português demonstrava no Twitter o apoio de Lisboa a Berlim.
“A Alemanha pode contar 100% com o empenho de Portugal para a construção do gasoduto. Hoje para o gás natural, amanhã para o hidrogénio verde. Até lá, o Porto de Sines poderá ser utilizado como plataforma logística para acelerar a distribuição de GNL (gás natural liquefeito) para a Europa”, declarou António Costa.
A insistência por parte do Governo português nesta questão não é nova, mas tem sido cada vez mais insistente desde o início da invasão russa, com o primeiro-ministro a garantir acesso a energia vinda de África ou às importações norte-americanas sobretudo através de Sines.
Logo no primeiro dia do conflito, a 24 de fevereiro de 2022, o primeiro-ministro António Costa lembrou que a interconexão entre a Península Ibérica e o resto da Europa seria essencial para aumentar a segurança energética de um continente que é extremamente dependente dos abastecimentos russos.
"O aumento das interconexões entre Portugal e Espanha e de Espanha com o conjunto da Europa é absolutamente decisivo para aumentar significativamente a segurança energética da Europa. E, por outro lado, a articulação de Portugal com um conjunto de países africanos que são fornecedores de energia, e também com as importações que podem vir dos Estados Unidos da América, onde temos infraestruturas para acolhimento e exportação”, referia então o primeiro-ministro.