Suécia e Finlândia devem considerar preocupações da Turquia na adesão à NATO, diz vice-MNE turco

por Lusa

A Suécia e a Finlândia devem ter em consideração as preocupações da Turquia no processo de adesão à NATO e deixarem de proteger "organizações terroristas", disse hoje o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros turco, numa audiência no Parlamento em Lisboa.

Na sua intervenção inicial durante uma audiência perante a Comissão de Assuntos Europeus do Parlamento português, que se prolongou por cerca de meia hora, Faruk Kaymakci já tinha aludido à necessidade de cooperação na área da defesa entre os países aliados, considerado que "esta guerra da Rússia" fornece a importante lição de que não é possível "tolerar esta falta de coordenação" entre a UE e a NATO.

"O terrorismo é uma questão importante, têm sorte em estar numa parte da Europa que não se confronta com atividades terroristas, mas a Turquia enfrenta três importantes organizações terroristas", recordou o responsável turco perante os deputados da Comissão presidida pelo deputado do PS Luís Capoula Santos, no período de respostas às questões entretanto colocadas.

Entre estas "organizações terroristas", Kaymakci citou o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), o YPG (Unidades de Proteção Popular), na Síria e Iraque, além do grupo `jihadista` Estado Islâmico (EI) e da Al-Qaida, e do grupo de Fethullah Gülen, predicador exilado nos EUA e que Ancara acusa de ser o mentor do fracassado golpe de Estado de julho de 2016.

"Por isso, temos de adotar políticas inteligentes, e dizemos isto aos nossos amigos finlandeses e suecos. Seria possível, digamos, o número dois do EI falar na televisão estatal portuguesa em nome da liberdade de imprensa e de expressão?", interrogou-se, para voltar a questionar o painel de deputados que o enfrentavam.

"Seria possível gente do EI andar pelas ruas de Lisboa com uniformes, armas falsas, e apelar à `jihad`, à vingança contra a Europa, contra nós? É isto que acontece sobretudo na Suécia e também na Finlândia há muitos anos, e dizemos-lhes que isto não é liberdade de expressão, é apoio ao terrorismo do PKK", disse Kaymakci, que também acumula o `dossier` das relações com a UE no ministério de Ancara.

O ministro turco também denunciou o facto de líderes das organizações armadas curdas do Iraque e Síria "poderem reunir-se com ministros da Defesa da Finlândia e Suécia", indicou que no decurso das incursões militares turcas no norte da Síria "foram capturadas armas de origem sueca nas mãos do YPG", e transferiu as eventuais "contradições" de Ancara em termos de política externa para outras latitudes.

"A verdadeira contradição não é connosco, mas com a Suécia e Finlândia. Não se podem impor restrições ao armamento de um aliado [numa alusão às medidas dos dois países nórdicos face a Ancara], e não se pode apoiar uma organização terrorista que é assim reconhecida pela UE", invetivou o ministro, que se fez acompanhar por uma pequena comitiva que incluía a embaixadora, e ao recorrer a um habitual argumento das autoridades de Ancara.

Suécia e Finlândia, adiantou, "têm quase todas as condições para aderir à NATO, mas devem ter em consideração as preocupações de segurança" da Turquia, que "são legítimas e também confirmadas pelo secretário-geral da NATO", que na próxima semana convocou para Bruxelas altos funcionários da Turquia, Suécia e Finlândia, para discutir as objeções da Turquia à adesão plena dos dois países nórdicos.

Kaymakci rejeitou que a Turquia esteja a pedir demais", e voltou a recorrer ao argumento da necessidade de segurança e defesa dos países membros da NATO.

"Não há contradição. Se adotarem essa posição amanhã [face às organizações curdas da Turquia e Síria, com Ancara a pedir a sua ilegalização e extradição de alguns dos seus membros] daremos de imediato o nosso total apoio", concluiu.

Tópicos
pub