Ano quente e seco poderia ter causado o inferno aos bombeiros

A severidade meteorológica é um fator natural que o Instituto de Meteorologia diz ser cada vez mais frequente. O IPMA estuda estes fenómenos e afirma ajudar os bombeiros com muita informação climática no combate aos incêndios, em Portugal.

Severidade de 2015 não ajudou 
Um dos fatores mais apontados pelos vários atores na defesa, conservação, combate e prevenção florestal é o das condições meteorológicas.

Nos últimos dez anos 2005, 2012 e 2015, apresentaram situações pontuais de severidade meteorológica extrema.

Ondas de calor que, em conjunto com a falta de humidade e recursos hídricos, provocaram grandes dores de cabeça aos homens que no terreno tentavam degolar os fortes incêndios registados nesses anos.

Neste campo o Instituto Português do mar e da Atmosfera (IPMA) é uma das entidades que fornece elementos e dados que ajudam a prever e a entender como é que o estado do tempo pode e influencia as condições de ignição e propagação dos incêndios.

Com base no sistema de análise do índice meteorológico de perigo de incêndio - FWI (Fire Weather Index), que tem em conta a temperatura, a humidade relativa, velocidade do vento e a precipitação no espaço de 24 horas, o IPMA consegue fazer uma leitura real das condições atmosféricas para um determinado local, assim como previsões de evolução do estado do tempo.

O FWI é calculado diariamente numa rede de 80 estações meteorológicas considerando os valores observados de vários parâmetros sempre ao meio dia de cada dia, sendo criado um mapa nacional base que depois é trabalhado com outros elementos.

A partir de 2006, o FWI passou a ser combinado com a componente estrutural e conjuntural, de cinco níveis, desenvolvida pelo ISA (Instituto Superior de Agronomia), passando o resultado a designar-se de RCM - Risco Conjuntural e Meteorológico (combinado). 



As classes de risco de incêndio são 5, com a designação: Reduzido, Moderado, Elevado, Muito Elevado e Máximo.

Com base nestes valores o IPMA cria desta forma um mapa nacional com zonas coloridas correspondentes aos riscos conjunturais e meteorológicos existentes, como se pode ver no gráfico.


     

É com base nestas combinações que o IPMA chega aos níveis de avisos meteorológicos para cada distrito que depois a ANPC se vai basear para emitir os alertas de Proteção Civil.
 
Os resultados recolhidos e estudados através do índice RCM vem demonstrando que a variação meteorológica e os riscos associados, ao longo do ano, em Portugal, apresentam uma forte disparidade.

Fator que se revela de extrema importância com vista nas previsões e análises do comportamento climático no território.

Este ano de 2015, segundo o Comandante Operacional Nacional de Proteção Civil, José Manuel Moura, "houve todas as condições para tudo correr mal".

Referia-se mais concretamente às condições apresentadas durante a fase Charlie, entre 01 junho e 30 de setembro em que a de severidade meteorológica atingiu níveis altíssimos de seca hídrica e vagas de calor intensas.

Valores que o IPMA revelou e alertou na altura, e que em alguns do casos se transformou num verdadeiro martírio para combatia os focos de incêndio ativos, principalmente na região a norte do país.  





Apesar do elevado grau de severidade meteorológica, os números de hectares ardidos foi inferior aos registados em anos anteriores com iguais condições climáticas, dai o comandante operacional da ANPC dizer que "apesar de ter sido registado o triplo de área consumida pelas chamas face a 2014, em condições semelhantes de igual severidade meteorológica, este foi um ano bem conseguido."

Nos valores apresentados pelo IPMA podemos verificar que nos últimos dez anos, nos períodos em que as condições de severidade meteorológica se mostraram mais intensas, o ano de 2015 apresentou valores muito abaixo dos verificados em 2005, 2010 e 2013 relativamente à área consumida pelas chamas.



Papel do IPMA nos combates

O sistema de avisos lançados pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera é apenas uma das formas que este serviço têm de dar conhecimento e de alguma maneira, colocar autarquias e Proteção Civil de prevenção e poderem atuar em conformidade, no terreno.

Mas o IPMA com base nos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) que têm ao dispor, imagens de satélite, avaliação por captação e analise do terreno por espectro infravermelho, oferecem dados mais detalhados aos centros de comando, que no teatro de operações necessitam de todas as informações de como o fogo pode ou vai desenvolver nas próximas horas.

Desta forma o IPMA disponibiliza, quando solicitado, um relatório que dá a informação meteorológica (humidade, direção e intensidade do vento, temperatura, precipitação) para um local preciso do incêndio, bem como as previsões horárias para o local do incêndio.


             Relatório fornecido pelo IPMA aos bombeiros e Proteção Civil

Elementos que, combinados com um bom conhecimento geográfico, se torna numa ferramenta essencial para saber como é o desenvolvimento dos incêndios que permite aos comandantes operacionais posterior mobilização e colocação dos meios de combate, no controlo e extinção das frentes de fogo ativas.