Decisão de descontinuar refinação em Matosinhos é "complexa e difícil"

por Lusa
Reuters

A Galp disse hoje aos trabalhadores que a decisão de descontinuar a refinação em Matosinhos é "complexa e difícil" e ocorreu "depois de muita ponderação", mas torna-se "inevitável em face da ausência de resiliência e sustentabilidade" do atual contexto.

"É uma decisão complexa e difícil que ocorre depois de muita ponderação, mas torna-se inevitável em face da ausência de resiliência e sustentabilidade perante o contexto em que estamos inseridos", refere a Galp numa nota interna aos trabalhadores, a que a agência Lusa teve acesso. 

Segundo a empresa, ao longo dos últimos meses foram desenvolvidos vários estudos e testadas alternativas para o desenvolvimento e a adaptação do aparelho refinador aos desafios regulatórios, incluindo fiscais e parafiscais, de mercado e tecnológicos que emergem do atual contexto.

"Analisadas as diversas opções e ponderados os impactos supervenientes, foi decidido concentrar a atividade de refinação na Refinaria de Sines, dando início ao processo de descontinuação das operações de produção da Refinaria de Matosinhos, mas mantendo a sua atividade enquanto infraestrutura logística", indica. 

"Prosseguiremos com o estudo de utilizações alternativas para a estrutura industrial de Matosinhos assim como concluiremos a avaliação do desenvolvimento de projetos de adaptação de unidades da Refinaria de Sines com vista a aumentar a sua preparação e competitividade futura, incluindo a integração de produção de biocombustíveis avançados", refere.

Segundo a Galp, a decisão de encerrar a refinaria de Matosinhos foi, nas últimas décadas, equacionada em algumas ocasiões.

"No âmbito do plano de implementação daremos naturalmente prioridade a promover as soluções mais adequadas para as pessoas", refere. 

"Continuaremos a trabalhar em conjunto para encontrar outros caminhos, com realismo e com a consciência de que há trabalho pela frente, mantendo-se o propósito de continuarmos a desenvolver uma empresa líder internacional no setor da energia", conclui.

A Galp anunciou hoje, em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) que vai concentrar as suas operações de refinação e desenvolvimentos futuros no complexo de Sines e descontinuar a refinação em Matosinhos a partir do próximo ano.

A Galp refere que "continuará a abastecer o mercado regional mantendo a operação das principais instalações de importação, armazenamento e expedição de produtos existentes em Matosinhos", e que está a "desenvolver soluções adequadas para a necessária redução da força laboral e a avaliar alternativas de utilização para o complexo".

Em comunicado também enviado hoje, o Governo considera que a decisão da Galp de descontinuar a refinação em Matosinhos "levanta preocupações" em relação ao destino dos trabalhadores, mas lembra que as medidas anunciadas se inserem num processo que visa a descarbonização do setor energético.

O Ministério do Ambiente e da Ação Climática manifesta-se disponível para se reunir com a Galp e com as estruturas representativas dos trabalhadores, "exigindo da empresa todo o empenho e sensibilidade social para procurar soluções para o futuro próximo".

Na semana passada, o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente (Site-Norte) já tinha alertado para a "incerteza" quanto ao futuro da refinaria de Matosinhos da Galp, após a suspensão da produção de combustíveis e a desativação da monobóia.

Face a esta situação, o Site-Norte/Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas, Elétricas, Farmacêutica, Celulose e Papel (Fiequimetal) diz ter realizado "várias reuniões com entidades camarárias e governamentais", designadamente a Câmara Municipal da Maia, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), os grupos parlamentares do PCP, PEV, BE e PS e os ministérios do Trabalho, da Economia e do Ambiente.

O sindicato exige "a retoma plena da atividade da fábrica de combustíveis, pois os avultados investimentos que aí foram realizados são o garante do emprego, da criação de riqueza e do desenvolvimento da economia regional e do país".

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