Os privados "desnataram o SNS de médicos especialistas"

por Antena 1

Antena 1

O diretor-geral da Saúde defende um reforço do setor público da saúde em entrevista à jornalista da Antena 1, Maria Flor Pedroso. Francisco George critica a relação entre a ADSE e o setor privado e acusa também os privados de tirarem especialistas ao Serviço Nacional de Saúde. Uma entrevista para ouvir na íntegra na Antena 1 a partir das 10 da manhã.

Veja aqui toda a entrevista: 


A seis meses de deixar a Direção-Geral da Saúde (DGS) por limite de idade, Francisco George afirma que o setor privado "desnatou o Serviço Nacional de Saúde (SNS) de médicos especialistas". Porque há cada vez mais portugueses "que preferem os seguros de saúde".

O diretor-geral de Saúde discorda, "do ponto de vista pessoal", com o facto de a ADSE pagar a serviços privados, o que acabou "por ter efeitos negativos no SNS. Não faz sentido, mas é a realidade constitucional".

Há doze anos no cargo e há dezassete na DGS, Francisco George estranha que até hoje não se tenha conseguido explicar que o "milionário paga mais no SNS" do que quem ganha o salário mínimo. Porque falta a perceção de que "a diferença de pagamento está nos impostos que se pagam e, portanto, no ato da prestação é aparentemente gratuito para os dois mas efetivamente não é". E desabafa que se trata de um problema que, desde os tempos da fundação do SNS com António Arnaut, "nunca se conseguiu explicar".

Nesta entrevista à rádio pública, Francisco George revela que recebeu críticas de colegas médicos pela decisão que tomou sobre a vacinação contra a Hepatite A. "Até agora as reações não têm sido muito intensas, mas não havia vacinas para todos". Anuncia que os militares da GNR foram protegidos para o Mali. São "uma exceção", constatou.

Um dia depois do pré-aviso da greve dos médicos, marcada para 10 e 11 de maio, o ainda diretor-geral de Saúde não se pronuncia sobre questões sindicais, mas não a percebe, nem gosta: "Não, não, não percebo, não gosto de falar da greve dos médicos, não gosto das greves de médicos, não gosto, mas não posso falar nisso".

Francisco George, médico e epidemiologista, revela nesta entrevista à Antena1 estar disponível para uma vida política mais ativa "apesar de não ser a sua prioridade". Afirma que nunca foi sondado para ser ministro, mas também nunca se posicionou.

Sobre a atual solução governativa afirma sentir-se "representado", com uma "governação mais robusta" do que o esperado, e que "esta legislatura pode ser útil, até ao fim, e que vai traduzir-se em mais importância dos problemas sociais".

Francisco George, que passou por seis ministros da saúde, afirma que todos cumpriram bem a sua função pública. Se não era amigo passou a ser.

Mas destaca, de mote próprio, o primeiro encontro com Paulo Macedo, ministro do governo anterior, quando estava à espera de ser dispensado. Ambos se conheceram na presença do então presidente Jorge Sampaio, quando, um diretor geral dos impostos e, outro da saúde, foram condecorados. 
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