A Inteligência Artificial está a ajudar na procura de uma vacina. Mas luta contra um forte adversário

por Alexandre Brito - RTP
O mundo procura a vacina para a Covid-19 Reuters

Tudo neste dias tem sido anormal. A pandemia, que parou o mundo, algo impensável até agora. Hospitais sobrelotados, com falta de ventiladores, e o número de mortes a aumentar diariamente. Por todo o globo, milhões de pessoas estão isoladas, a lutar por um objetivo comum. Acabar com o vírus. No mesmo sentido, também os gigantes da tecnologia estão a ajudar. Colocaram à disposição a enorme capacidade dos seus supercomputadores e inteligência artificial para se encontrar uma vacina para o novo coronavírus. Mas nesse caminho comum estão a encontrar um forte adversário. As grandes farmacêuticas.

A denúncia, se assim se pode dizer, partiu de Ara Darzi, cirurgião e diretor do Instituto de Inovação para a Saúde Global do Imperial College de Londres. Num artigo publicado no The Guardian, Darzi alerta para aquele que pode ser um entrave na busca pelo tesouro mais procurado do momento.

Ao longo dos últimos anos as grandes farmacêuticas têm tido um papel fundamental e crucial para a sociedade, com a criação de vacinas e medicamentos para várias doenças. Um trabalho que, claro está, tem também um enorme retorno financeiro associado.

Habituadas a este controlo, diz Ara Darzi que as farmacêuticas estão agora com alguma dificuldade em libertarem e partilharem toda a informação que têm com as empresas de tecnologia. Não querem perder tesouro.

Logo, apesar do enorme esforço que está a ser feito a nível mundial para se encontrar, o mais rápido possível, uma solução para esta pandemia, esta dificuldade em partilhar informação pode estar a atrasar a criação de uma vacina ou de medicamentos.

A Organização Mundial de Saúde tem afirmado, com persistência, a necessidade de se partilhar informação a nível global sobre este vírus. Em parte isso tem sido feito, mas não será de estranhar que, a cada conferência de imprensa, a OMS insiste nessa necessidade.

Por esta altura existem já dezenas de testes a serem realizados na busca pela vacina, mas também por terapias no combate à Covid - 19. E a melhor forma para identificar drogas que sejam eficazes é com a utlização da inteligência artificial. Isto porque torna-se possível tratar milhões de dados a uma rapidez única e nunca vista até hoje. 

O que Ara Darzi diz, neste artigo no The Guardian, é que algumas das grandes farmacêuticas não estão a partilhar toda a informação das pesquisas que estão a desenvolver. Faz mesmo uma comparação com as milhares de pessoas que correram para o supermercado para comprar papel higiénico. Arrecadam para que outros não possam ter. Ou seja, não partilham toda a informação para que sejam elas a criar a droga certa ou a vacina para a Covid-19.

A verdade é que a inteligência artificial está já a ajudar na busca por uma solução para esta pandemia. Ainda no mês passado, lê-se no artigo, um dos supercomputador mais rápidos do mundo, o Summit da IBM, identificou 77 compostos que são potenciais candidatos no tratamento da doença.

E na semana passada uma plataforma de inteligência artificial, com base em Singapura, identificou seis drogas, já aprovadas para utilização dos humanos para outras situações, que podem ajudar no combate à Covid-19.


No final, e assim termina o texto o cirurgião Ara Darzi, por maior que seja o poder de computação, as máquinas vão estar sempre dependentes da informação que é partilhada. 

E essa está em grande parte com as farmacêuticas.
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