"A janela está a fechar-se". Secretário da Saúde dos EUA preocupado com o avanço da pandemia

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
O presidente dos EUA, Donald Trump, ao lado do secretário da Saúde, Alex Azar Tom Brenner - Reuters

No momento em que o número total de infetados nos EUA ultrapassa os 2,5 milhões, o secretário da Saúde dos EUA, Alex Azar, alerta que o país está numa corrida contra o tempo para conter o avanço da pandemia.

Durante uma entrevista na NBC, o secretário da Saúde e Serviços Humanos  norte-americano foi questionado sobre a razão pela qual os EUA não estão a conseguir controlar a pandemia da Covid-19, quando outros países parecem estar a ter sucesso. Alex Azar reconheceu que os EUA estão a “observar um aumento do número de casos”, particularmente a sul do país, e apelou ao respeito pelas regras de distanciamento.

“Temos de agir e as pessoas enquanto indivíduos precisam de agir com responsabilidade. Precisamos de manter a distância social e usar as nossas proteções faciais”, solicitou Alex Azar.

O secretário da Saúde dos EUA afirmou de seguida que a maioria dos novos casos são entre pessoas com menos de 35 anos, o que significa que “uma grande parte” dos infetados será assintomática, apresentando um desafio para as autoridades de saúde no controlo dos surtos.

“Esta é uma situação muito séria”, disse Azar, considerando que a “janela" de oportunidade do país para tomar medidas visando conter o avanço do vírus "está a fechar-se”.
Nas últimas 24 horas, os EUA registaram 288 mortos e mais de 38 mil infetados. No total, o país acumula mais de 125 mil óbitos e mais de 2,5 milhões de casos desde o início da pandemia.

O aumento de casos de Covid-19 mais pronunciado nos Estados a sul e oeste do país poderá estar relacionado com o desconfinamento mais precoce e agressivo, apoiado pela Administração Trump, apesar dos avisos das autoridades de saúde para que aguardassem até se observar um declínio constante de novos casos.

Texas e Florida revelaram-se os focos de maior preocupação e foram obrigados a reverter os seus planos de desconfinamento na semana passada, à medida que os casos continuam a aumentar nestes Estados.

No Texas, a média de infeções diárias por Covid-19 mais que duplicou nas últimas semanas e no Estado de Arizona registou-se um aumento do número de casos em 267 por cento, atingindo um número recorde de 3.857 novos casos no domingo.

Azar considera, porém, que os EUA estão numa melhor posição no combate ao novo coronavírus do que há dois meses atrás, na medida em que estão a realizar mais testes e têm disponíveis terapêuticas para tratar a Covid-19. No entanto, o secretário de Estado da Saúde também reconhece que o número de óbitos e de hospitalizações pode aumentar nas próximas semanas porque é um indicador retardatário.
“Presidente deve ser um exemplo”
Desde o início que a Administração Trump tem sido criticada pela sua resposta à pandemia e o presidente norte-americano tem estado em desacordo com as autoridades de saúde sobre as medidas mais adequadas a serem implementadas para conter a propagação do vírus. Em abril, o presidente norte-americano partilhou mesmo um apelo ao despedimento Anthony Fauci, perito em doenças infecciosas e conselheiro de saúde da Casa Branca, depois de este ter tecido críticas à lenta resposta do país à pandemia.

A presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, é uma das vozes mais ativas nas críticas ao presidente norte-americano e no domingo, o tema de discussão foi o uso de máscaras.

Pelosi disse que era “há muito esperado” que o uso de máscara fosse obrigatório em todo o país, mas que a oposição de Donald Trump desempenhou um importante papel no bloqueio a esta medida.

“No meu entender, o Centro de Controlo de Doenças (CDC) recomendou o uso de máscaras, mas não exigiu, porque eles não querem ofender o presidente”, disse a líder da Câmara dos Representantes, sublinhando que o “presidente deve ser um exemplo”.

“Homens a sério usam máscara. Seja um exemplo para o país e use uma máscara. Não se trata de se proteger, mas de proteger os outros e as suas famílias”, defendeu Pelosi.

A utilização de máscara é um tema polémico nos EUA. Apesar de as autoridades de saúde defenderem que a sua utilização ajuda a prevenir a infeção, muitos norte-americanos são contra o seu uso e em maio surgiam, inclusivamente, notícias de lojas que proibiam a entrada de clientes que estivessem a usar máscara.

As diretrizes que recomendavam o uso de máscara nos EUA surgiram em abril e no dia em que foram anunciadas, Donald Trump deixou logo a garantia de que não seguiria os conselhos do CDC e se recusaria a usar qualquer proteção facial.Isso é voluntário. Acho que não o vou fazer”, anunciou o presidente norte-americano na altura.

Perante as acusações de Pelosi, o secretário de Estado da Saúde argumentou que Trump não era obrigado a seguir as recomendações da sua própria Administração porque, enquanto presidente, ele é testado regularmente e está “em circunstâncias muito diferentes do que nós”.
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