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Acordo comercial. Ursula von der Leyen troça de afirmações de Boris Johnson

por RTP
Toby Melville, Reuters

Ursula von der Leyen ficou surpreendida com as alegações de Boris Johnson de estar disposto a aceitar um acordo comercial ao “estilo australiano” com a União Europeia. Von der Leyen lembrou os eurodeputados que esse acordo não existe.

Num discurso no parlamento da UE em Estrasburgo, a presidente da Comissão Europeia falou repetidamente do primeiro-ministro. Em causa estão as contradições na abordagem aos acordos pós-Brexit.

A presidente da Comissão Europeia observou que o "acordo ao estilo do Canadá", referido por Johnson como o seu principal objetivo nas próximas negociações, continha tarifas e limites de cotas para alguns produtos que atravessavam o Atlântico.

Ambos os lados disseram que querem não só evitar estes custos, como também as barreiras ao comércio. Von der Leyen apontou que existiam conjunturas de igualdade para garantir altos padrões nesse acordo.

"Sinceramente, fiquei um pouco surpreendida ao ouvir o primeiro-ministro do Reino Unido falar sobre o modelo australiano”, disse Von der Leyen em resposta à recente alegação de Johnson de estar disposto a fazer uma réplica desse "acordo" comercial.

“A União Europeia não tem um acordo comercial com a Austrália. Atualmente, estamos a negociar os termos da OMC [Organização Mundial de Comércio]. E se esta é a escolha britânica, estamos bem com isso sem qualquer dúvida. Mas, na verdade, achamos que no momento de acordo com a Austrália em que nos encontramos, devemos encerrar essa situação e trabalhar num acordo comercial com eles”, acrescentou.

Prevê-se que as negociações sobre o futuro relacionamento entre o Reino Unido e a União Europeia comecem na primeira semana de março, quando Bruxelas finalizar a sua posição de abertura.

O Reino Unido deixou a União Europeia a 31 de janeiro e irá retirar-se do mercado único e da união aduaneira no final deste ano. A partir desse momento os novos acordos negociados entrarão em vigor.

Uma “declaração política” acordada entre os dois lados no ano passado estabeleceu as bases da negociação. Esta inclui o compromisso de manter os altos padrões em áreas-chave da economia de modo a garantir que nenhum dos lados fique prejudicado.

Johnson expôs recentemente, no entanto, que não havia motivo para o Reino Unido alinhar com a União Europeia em matérias de ambiente e sociais, como fazendo parte de um acordo comercial.

Von der Leyen expressou certa surpresa com a abordagem do primeiro-ministro, citando a afirmação de Johnson num recente discurso em Greenwich de que o Reino Unido seria um "campeão global do livre comércio".

"Francamente, isso é música para os nossos ouvidos", disse a presidente da Comissão Europeia.

A ex-ministra da Defesa alemã insistiu, no entanto, que os acordos de livre comércio que a UE tinha com o Canadá e com o Japão "não estavam apenas a aumentar as trocas bilaterais de bens, serviços, pessoas e ideias", mas também a elevar “os padrões para uma ampla gama de questões, desde os direitos do trabalho aos ambientais”.

“Ao concordar com a declaração política do Reino Unido, ambicionamos relações comerciais de tarifa zero e quota zero para todos os bens. Algo que nunca antes oferecemos a ninguém. Mas é claro que isso vai exigir garantias sobre concorrência leal e proteção dos padrões sociais, ambientais e de consumidor”, explicou.

Von der Leyen disse que "não é o momento" para baixar os padrões na crise climática. Referiu ainda que é preciso haver um acordo formal entre os dois lados para se "desencadear uma dinâmica ascendente de proteção que beneficiaria o Reino Unido e a União Europeia".
E se não houver acordo comercial até então?
Supondo que Boris Johnson não tenha pedido um adiamento até junho e nenhum acordo tenha sido concluído sobre comércio, o Reino Unido voltará aos termos básicos da OMC. Isto iria originar tarifas sobre mercadorias e verificações nas fronteiras.

O acordo de retirada removeu a maioria das complicações legais de uma saída sem acordo. Inversamente, a inexistência de um acordo comercial teria, sem dúvida, consequências logísticas e económicas graves, principalmente para a Grã-Bretanha.
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