Afeganistão. Mais de 60 mortos em ataques anti-eleitorais

por RTP
Familiares de vítimas do ataque deste domingo junto ao hospital de Cabul, no Afeganistão Mohammad Ismail - Reuters

Pelo menos 57 mortos e mais de 100 feridos é o último balanço do atentado terrorista deste domingo em Cabul, capital do Afeganistão. O ataque suicida, que já foi reivindicado pelo autoproclamado Estado Islâmico, aconteceu junto a um centro de recenseamento eleitoral, quando faltam menos de cinco meses para as eleições legislativas, marcadas para o próximo mês de outubro. Outro ataque também este domingo, na província de Baghlan, fez pelo menos seis vítimas mortais.

É um dos mais violentos ataques em Cabul dos últimos meses. Um bombista suicida fez-se explodir este domingo junto a um centro de recenseamento eleitoral na capital afegã e fez pelo menos 57 mortos e 119 feridos, segundo confirmou o Ministério da Saúde. 

A agência Reuters relata que a explosão destruiu vários carros nas redondezas e partiu as janelas de edifícios junto ao local do recenseamento. O número de vítimas poderá vir a ser novamente atualizado. 

Ao início da tarde, o Estado Islâmico reivindicou a autoria deste ataque através da agência Amaq, referindo-se a um atentado contra xiitas “apóstatas” e “politeístas”.  

Também este domingo foi registado outro ataque que ainda não foi reivindicado por nenhum grupo. Ocorreu junto a um centro de recenseamento na cidade de Baghlan's Pul-e-Khumri, província de Baghlan. Morreram seis pessoas, todas da mesma família. Até ao momento não há indícios de qualquer ligação deste incidente com o ataque de Cabul.  

O recenseamento eleitoral começou na semana passada e deverá decorrer nos próximos meses, antecedendo as eleições de outubro. Prevê-se que mais de 10 milhões de eleitores se registem nos mais de sete mil centros de registo em todo o país.  

Os recentes acontecimentos no país estão a ser interpretados como uma investida anti-eleitoral com o propósito de destabilizar o país e de obrigar a um novo adiamento do escrutínio. Estado Islâmico e talibãs opõem-se à realização de eleições democráticas no país

“Estes ataques não nos podem desviar dos nossos objetivos ou enfraquecer o processo democrático nacional”, frisou esta manhã o Presidente do Afeganistão, Asharaf Ghani, através de um comunicado.  

O último grande atentado na capital afegã aconteceu em janeiro deste ano, quando uma explosão numa ambulância armadilhada fez uma centena de mortos e mais de 235 feridos.  

O ataque suicida de Cabul ocorreu na zona de Dasht-e-Barchi, onde a maioria da população faz parte dos Hazaras, minoria xiita de origem mongol, alvos frequentes dos ataques do Estado Islâmico. Entre as vítimas há várias crianças.  

Em declarações à Associated Press, um responsável do Ministério afegão da Saúde, pelo menos cinco crianças pequenas e 21 mulheres foram mortas neste ataque.  
Eleições em perigo?
Estes ataques junto a centros de recenseamento no Afeganistão não são inéditos. Na semana passada, um centro de registo na província de Ghor foi atacado pelos talibãs e resultou no rapto de dois polícias e três elementos da comissão eleitoral independente, que acabaram por ser libertados no dia seguinte.  

Outro ataque, mas em Jalalabad, visou outro centro de recenseamento, quando um grupo de homens armados disparou sobre dois polícias que faziam a vigilância do local.  

Em comunicado, Tadamichi Yamamoto, principal responsável das Nações Unidas no Afeganistão, condenou os ataques e assumiu “um profundo sentimento de repulsa”.  

“A agravar ao enorme desrespeito pelas vidas dos civis, este assassinato parece fazer parte de um esforço totalmente inaceitável dos extremistas para impedir que os cidadãos cumpram o seu direito constitucional de participar nas eleições”, disse o responsável.  

A comunidade internacional, desde logo os principais parceiros do Afeganistão, insistem que as eleições parlamentares - que já se arrastam desde 2015 - se realizem este ano, antes das eleições presidenciais previstas para 2019.  

No entanto, as dificuldades burocráticas e securitárias podem comprometer o escrutínio de outubro. Abdullah Shahood, correspondente da Al Jazeera em Cabul, refere que o Governo pode não conseguir assegurar a segurança de todos os centros de recenseamento.  

“Estas eleições vão realizar-se em muitas áreas sob o controlo dos talibãs. Não há qualquer hipótese de realizar um escrutínio livre nessas zonas, mesmo que o Governo diga que está a tentar impor a lei e a ordem, de forma a permitir que as pessoas exerçam os seus direitos constitucionais”, refere. 
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