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Afeganistão. Morte de milhões de civis por corte de ajuda seria a maior "nódoa" - analista

por Lusa

A potencial morte de milhões de afegãos por falta de ajuda internacional ao país governado pelos talibãs seria a maior "nódoa" do legado da ocupação ocidental do Afeganistão, afirmou hoje o vice-presidente do Internacional Crisis Group (ICG).

"Nesta altura, o foco (...) na saída do Afeganistão é a retirada confusa, a maneira como foi feita. Mas, com o tempo, nos próximos meses, se milhões de afegãos morrerem de fome em grande parte por causa de políticas adotadas nas capitais ocidentais, essa será a nódoa no legado [do presidente dos EUA, Joe] Biden e de outras capitais ocidentais também", afirmou o responsável do ICG, Richard Atwood.

Atwood, que falava num seminário organizado pelo centro de estudos Chatham House sobre um relatório que o ICG publicou sobre os dez principais problemas mundiais a acompanhar em 2022, lembrou que o Afeganistão estava no cimo da lista em 2021 e este ano continua no topo, em terceiro lugar. 

Embora aceite existirem argumentos a favor e contra a retirada no verão de 2021, Atwood lamenta a atual posição internacional de recusar ajuda externa ao regime talibã enquanto estes não fizerem compromissos no respeito dos direitos humanos. 

"Tendo criado nos últimos 20 anos um Estado que é totalmente dependente de ajuda internacional - penso que cerca de 75% do orçamento do governo afegão antes de os talibãs assumirem o poder dependia da ajuda ao desenvolvimento -, não se pode, porque o país foi tomado pelos talibãs, cortar a ajuda toda. De alguma forma, essa transição tem de ser mais bem gerida", defendeu.

O regime talibã afegão acusou esta semana a comunidade internacional de conduzir o Afeganistão a uma das piores crises económicas e humanitárias da sua história e apelou aos países muçulmanos para reconhecerem o poder em Cabul.

Naquela que foi a primeira conferência de imprensa de cariz económico desde que os talibãs chegaram ao poder, em agosto de 2021, o primeiro-ministro interino afegão, Mohammad Hassan Akhund, acusou quarta-feira a comunidade internacional por não ter prestado uma "assistência fundamental" ao país asiático durante as duas últimas décadas de conflito.

Numa visão geral sobre o mundo, Atwood, que trabalhou durante anos no Médio Oriente, África, Sul da Ásia e América Latina para a ONU e outras organizações, considera que "estamos a viver um momento bastante sombrio da História".

Desde a potencial invasão da Rússia à Ucrânia, à hostilidade entre os Estados Unidos e a China, os vários conflitos no Médio-Oriente, as crises na Etiópia, Haiti e Myanmar, ou a presença de grupos terroristas islâmicos em várias regiões de África, o relatório do ICG faz um retrato negativo da situação global. 

"Penso que a teoria de Steven Pinker do mundo cada vez melhor é cada vez mais difícil de defender. Penso que as tendências no momento que sustentam alguns dos conflitos e algumas das tensões geopolíticas são muito, muito profundas e muito difíceis de corrigir", lamentou.

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