África "pobre" recebe visita, onde os católicos "estão longe de ser uma maioria"

por Lusa

O padre Tony Neves, do conselho geral dos missionários do Espírito Santo, em Roma, afirmou hoje que o Papa visitará em setembro uma África "muito pobre", mas com "mais estabilidade" e onde os católicos estão longe de ser uma maioria.

A tutelar o departamento de justiça e paz, liberdade da criação e diálogo inter-religioso dos Missionários do Espírito Santo, o padre Tony Neves, experimentado de África, afirmou, em declarações à Lusa que os três países que o líder da igreja Católica visitará entre 4 e 10 de setembro - Moçambique, Madagáscar e Ilhas Maurícias - são estados, que "no plano do desenvolvimento económico continuam muito, muito frágeis", com "sociedades muito pobres".

"Agora, acrescenta-se o facto de Moçambique ter tido o Keneth e o Idai, dois furacões que puseram o país num frangalho. Um país que já era pobre e tinha todos os problemas deste mundo e do outro, com a passagem dos furacões piorou", especificou, ressalvando, porém, que a decisão do Papa de visitar o país foi anterior.

No seu entender, a decisão do líder da Igreja católica de visitar estes três países teve "mais uma vez" por base "uma opção periférica".

"As opções deste Papa em termos de visitas têm sido muito originais, na medida em que tem ido a sítios onde habitualmente não era muito costume ir, sobretudo nos momentos em que este Papa vai", referiu, recordando a visita de Francisco à República Centro-Africana, "abrindo o grande jubileu da misericórdia em Bangui, num momento particularmente crítico, que ainda não foi ultrapassado, naquele país".

De qualquer forma, Tony Neves disse esperar que "o Papa continue a insistir em mais justiça no mundo e num conceito, que é muito dele, de ecologia integral, ligando as alterações climáticas e outras de âmbito ecológico à pobreza, querendo que se combata tudo ao mesmo tempo. Ou seja, defendendo que só resolvendo a pobreza, nós conseguimos resolver os problemas que colocamos por atentados ecológicos".

Além disto, "o Papa visita áreas onde a presença cristã está muito longe de ser uma maioria", acrescentou em declarações à Lusa o pároco dos Missionários do Espírito Santo.

Em Moçambique, "neste momento os muçulmanos são mais numerosos do que os cristãos", apontou.

Por isso, nesta viagem "há também um esforço do Papa que vem complementar aquilo que fez nas visitas a Abu Dabi (capital dos Emirados Árabes Unidos) e que fez também a Marrocos, insistindo muito no diálogo" entre religiões.

Apesar disto, "a Igreja católica continua a ter um impacto enorme em África, mesmo em contextos minoritários", disse, sobretudo em áreas como a saúde e educação, onde é "muito reconhecido o trabalho que faz e o contributo que dá para o desenvolvimento dos estados", mesmo em países como o Senegal - citou como exemplo - onde mais de 95% da população é muçulmana.

"Acho que estes vão ser os elementos muito presentes nesta visita do Papa Francisco a esta parte oriental de África", rematou.

Uma África Oriental na qual defende que "mudou alguma coisa nos últimos anos, sobretudo porque há um bocadinho mais de estabilidade política".

Assim, para Tony Neves, três temas estarão na agenda desta viagem papal: Os efeitos da luta que se fez contra as condições dramáticas à passagem dos ciclones em Moçambique e o acordo de paz neste país, o diálogo entre as religiões e com a sociedade, "um tema de uma atualidade enorme".

E em terceiro lugar "o Papa irá pegar em todas as questões ligadas a uma estruturação do mundo", algo que Francisco "tem chamado de globalização da indiferença, que afeta sobretudo as periferias e margens, que são todas aquelas pessoas que não comem no banquete da globalização" concluiu Tony Neves.

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