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Agente espanhola denuncia caça furtiva e leva processo disciplinar

por RTP
Reuters

É um assunto recorrente há vários anos em Lanzarote e que volta a estar na ribalta. A caça furtiva da pardela, ave marinha protegida da ilha espanhola, tem acontecido com frequência em zonas protegidas e uma sargento, Gloria Moreno, está prestes a ser expulsa do Serviço de Proteção da Natureza, depois de lhe terem sido colocados cinco processos disciplinares em apenas nove meses, após as denúncias de caça furtiva.

Gloria Moreno, uma das responsáveis pelo Serviço de Proteção da Natureza, está no olho do furacão depois de terem sido implementados cinco processos disciplinares nos últimos meses. Em causa estão duas contraordenações leves, duas graves e uma última muito grave, que redundou na cessação de funções de Gloria Moreno.

De acordo com organizações ecológicas, deputados do Parlamento das Canárias e outras instituições, a causa dos processos disciplinares teve origem no lançamento de uma operação contra a caça furtiva na ilha de Lanzarote, em setembro de 2015.

O primeiro incidente aconteceu quando Gloria Moreno se encontrava há menos de um ano em funções. Acompanhada de outros agentes, Moreno surpreendeu 19 homens, em Alegranza, à caça e a cozinhar pardelas. Num local protegido e com acesso limitado, o grupo estava acompanhado de embarcações e uma cozinha portátil.

Pouco tempo depois ficou provado que a ave caçada e cozinhada era a ave protegida. O grupo acabou por ser identificado. Tratava-se de membros proeminentes da sociedade de Lanzarote, onde se incluíam grandes empresários, proprietários de gasolineiras, médicos, um arquiteto e até um polícia.

Depois do sucedido, em setembro de 2015, Moreno chegou à conclusão de que aconteceu um episódio de caça furtiva em massa a ninhos de pardela. Pouco depois, a agente entrou em licença de maternidade e a poucos meses do regresso começaram os processos disciplinares.
Motivos das sanções são ridículos
Os advogados da zona são perentórios sobre o que está a acontecer à agente do Serviço de Proteção da Natureza em Lanzarote. “Gloria, sem saber, atacou um privilégio. Foi o seu batismo de fogo e não a perdoam”.

As queixas foram colocadas pelo Coronel Ricardo Arranz e o Capitão Germán García, hierarquicamente acima de Gloria Moreno. A advogada Irma Ferrer, advogada da Associação da Transparência Urbanística de Lanzarote, afirma que os dois militares nada têm contra a sargento e ridiculariza as razões dos processos disciplinares.

A primeira sanção aconteceu quando, numa reunião, Gloria Moreno questionou o que estava a ser feito em relação à captura de gatos na ilha de La Graciosa. A segunda, um mês depois, aconteceu pelo incentivo da agente a uma cidadã para fazer queixas, que já foram arquivadas, sobre delitos ambientais. O terceiro processo disciplinar foi imposto após Gloria Moreno ter dado seguimento a duas queixas de maus tratosa animais que tinham sido feitas há mais de um ano (enquanto esteve de licença de maternidade) e às quais não foi dada importância.

“Cada sanção tem um motivo ainda mais ridículo que o primeiro. Fazer bem o seu trabalho aqui em Lanzarote trouxe consequências mas a sargento tem coragem e não se enganou. Não têm nada contra ela”, declarou Irma Ferrer.

“Já são mais de 40 os anos que se leva a falar sobre pardelas. É um costume [a caça] da classe mais alta da ilha e, desde que foi proibida, a caça da ave é cada vez mais aliciante”.

O grupo de 19 homens apanhados a caçar ilegalmente a pardela tinham autorização para estar na ilha mas são muitas as fontes que acusam os responsáveis pela autorização de saberem exatamente o que ia acontecer.

Gloria Moreno também foi alvo de um processo após queixas de um veterinário municipal. O mesmo acusa a agente do Serviço de Proteção da Natureza de assédio e de várias denúncias por irregularidades, algo que o Coronel Arranz levou em conta para colocar novo processo a Moreno, pedindo, inclusivamente, desculpa por carta ao veterinário.

María Jesús Díaz Veiga, advogada de defesa de Gloria Moreno, denuncia que a cliente é um alvo fácil e que o relatório de Arranz foi escrito à medida de uma decisão que já está tomada para a afastar.

“Chamou apenas testemunhas que ele [Arranz] sabe que vão confirmar as acusações do veterinário. É evidente que existe uma situação de assédio contra ela ainda que não conheça os contornos dos outros processos disciplinares”.
Caso chegou ao Parlamento das Canárias
A agente Gloria Moreno encontra-se numa situação em que não tem grandes apoios dentro da Guardia Civil, mas o seu caso já chegou ao Parlamento das Canárias, pela mão de Manuel Merrero, do partido Podemos.

Para além das várias questões do deputado sobre o imbróglio da agente do Serviço de Proteção da Natureza espanhola, foi criada uma petição que pede justiça para a agente e reclama uma atuação imediata do Governo espanhol para travar o assédio moral de que está a ser alvo.

Fernando Gómez, da Fundação César Manrique, revelou estar a seguir com preocupação o “questionamento injustificado do profissionalismo da agente” e destaca que a atuação de Moreno tem sido de “dedicação, independência e retidão”, numa ilha que acusa de estar envolta numa história recente de corrupção urbanística, corrupção meio ambiental e de tráfico de drogas.
Antecedentes criminais em Lanzarote
A história de Gloria Moreno não é a única que envolve episódios de caça furtiva nas ilhas. Em 1996, quatro guardas florestais que vigiavam o arquipélago de Chinijo, a norte de Lanzarote, apresentaram a demissão devido à permissividade das autoridades em relação à caça das pardelas.

Trata-se de uma ave marinha que vive nas ilhas espanholas há centenas de anos. É uma espécie muito apetecível por ser uma iguaria culinária para os que vivem em Lanzarote, mesmo sendo uma ave que está protegida por lei.

Pouco tempo antes desse caso, o conselheiro para o meio ambiente de Lanzarote, Higinio Hernández, foi alvo de uma denúncia por caçar pardelas, sendo que, em 1993 foi apanhado em flagrante a depenar a ave em Alegranza. Nessa altura, a pardela já era protegida por lei.
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