Agricultores indianos intensificam protesto e marcham com tratores em Nova Deli

por Cristina Sambado - RTP
Adnan Abidi - Reuters

Milhares de agricultores indianos levaram os tratores até à capital, Nova Deli, em protesto contra as leis que liberalizaram o setor. A manifestação, que corre no Dia da República, foi enfrentada pela polícia, que usou gás lacrimogéneo e jatos de água.

Apesar de os líderes do protesto terem apelado a ações pacíficas, pedindo aos manifestantes para respeitarem a rota definida pelas forças de segurança, alguns grupos removeram barricadas de betão com a ajuda de tratores, enquanto a polícia de choque disparava canhões de água e lançava gás lacrimogéneo.

O objetivo da marcha é pressionar o Governo de Narendra Modi a revogar três leis que liberalizam o setor agrícola. Os organizadores esperavam uma participação de 250 mil tratores e veículos e mais de um milhão de agricultores.


Na rede social Twitter um dos líderes do protesto, Yogendra Yadav, colocou um vídeo em que são visíveis os distúrbios entre a polícia e os manifestantes.

Muitos enfeitaram os tratores com bandeiras coloridas, incluindo a da Índia. Há mais de dois meses que vários estão acampados nos arredores da capital a aguardar pelo Dia da República. Outros, incluindo jovens agricultores dos Estados do norte de Haryana, Uttar Pradesh, Punjab e Rajasthan, reuniram-se na fronteira de Nova Deli nos últimos dias para participarem na marcha.

A rota prevista pelas autoridades policiais deveria contornar Nova Deli. No entanto, os manifestantes desviaram-se em algumas zonas da cidade, levando a confrontos com a polícia de choque.

Foto: Adnan Abidi - Reuters

Os organizadores da marcha tinham apelado aos manifestantes para que mostrassem um comportamento exemplar, de forma a que nada "manchasse" um momento "histórico".

"A nossa vitória depende de o desfile decorrer pacificamente, sem quaisquer acontecimentos indesejados. Lembrem-se que o nosso objetivo não é conquistar Deli, mas conquistar os corações do povo deste país", sublinharam.

O Dia da República é feriado nacional e marca a primeira Constituição da Índia, que entrou em vigor em 1950, após a independência do domínio colonial britânico. É celebrado anualmente com um grande desfile militar em Nova Deli.

Foto: Adnan Abidi - Reuters

Os agricultores planearam a marcha de tratores de forma a coincidir com o desfile do Governo, que este ano foi mais reduzido devido à pandemia de Covid-19.

Para controlar a multidão, a polícia de trânsito de Nova Deli criou desvios ao longo das várias vias principais de circulação na cidade, e o metro fechou pelo menos 15 estações próximas dos locais de protesto.

A marcha na capital foi ser apoiada por milhares de manifestações em toda o país, após dois meses de protestos contra o Governo do primeiro-ministro indiano Narendra Modi, exigindo que revogue leis que liberalizam tanto os preços de venda como a quantidade de algumas colheitas vendidas
.

A situação obriga os agricultores a negociarem os preços com grandes empresas da cadeia de distribuição.

O Governo indiano, que chegou a propor uma moratória de 18 meses na aplicação das leis, rejeitada pelos sindicatos, defendeu, no entanto, a reforma, afirmando que permitirá aos agricultores negociar nos seus próprios termos.

Os agricultores dizem, no entanto, que os diplomas os deixam indefesos e nas mãos das grandes empresas.
Protestos começaram há vários meses
A agricultura é a principal fonte de sustento para cerca de 58 por cento dos 1,3 mil milhões de indianos. Há anos que os agricultores exigem que os preços mínimos garantidos aumentem.

Mais de 100 mil pessoas protestaram contra as novas leis impostas pelo Governo de Modi desde novembro.

Houve manifestações que duraram vários dias em cada uma das três fronteiras da capital indiana. Os agricultores de vários Estados bloquearam estradas e montaram acampamentos improvisados.

O Governo realizou 11 rondas de negociações com os representantes de mais de 30 sindicatos de agricultores. Negociações que não deram em nada.

No início do mês, o Supremo Tribunal indiano colocou três das leis mais conflituosas em suspenso e ordenou a formação de um comité de mediação para ajudar o Governo e os sindicatos a chegarem a um consenso. Mas os líderes sindicais rejeitaram.

Os sindicatos dos agricultores estão agora a planear uma marcha até ao parlamento, a 1 de fevereiro dia em que será votado o orçamento.

c/ agências
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