Al Jazeera leva assassínio da jornalista Abu Akleh ao Tribunal Penal Internacional

por Inês Moreira Santos - RTP
Mussa Qawasma - Reuters

O grupo Al Jazeera Media Network apresentou um pedido formal ao Tribunal Penal Internacional (TPI) para que investigue e processe os responsáveis pelo assassínio da jornalista palestino-americana Shireen Abu Akleh. O canal de televisão para o qual a repórter trabalhava adianta que há provas e "imagens de vídeo" que mostram que a equipa foi alvejada por forças de ocupação israelitas, em maio, num campo de refugiados na Cisjordânia ocupada.

“O grupo de media da Al Jazeera apresentará hoje o caso do assassinato de Shireen Abu Akleh pelas forças de ocupação israelitas ao Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia”, informa o grupo detentor da televisão do reino do Catar.

De acordo com a declaração, a equipa jurídica da Al Jazeera “conduziu uma investigação completa e detalhada sobre o caso e descobriu novos factos com base em vários relatos de testemunhas oculares, a análise de várias imagens de vídeo e provas criminais pertinentes ao caso”.

Aos promotores do Tribunal Penal Internacional, o grupo de comunicação social destacou que “as novas provas de testemunhas e as imagens de vídeo mostram claramente que Shireen e os colegas foram alvejados diretamente pelas forças de ocupação israelitas (IOF, na sigla em inglês)” e voltou a frisar que as alegações das autoridades israelitas de que a jornalista foi morta “por engano numa troca de tiros" são totalmente infundadas.

“As provas apresentadas ao Ministério Público confirmam, sem sombra de dúvida, que não houve tiroteios na área onde Shireen estava, sem ser as IOF a dispararem diretamente contra ela”, refere ainda a Al Jazeera, esclarecendo que a equipa de reportagem do canal estava à vista das forças de ocupação “enquanto caminhavam em grupo” e que tinham os “distintivos coletes dos media”.

A empresa de media afirma ainda que as conclusões das autoridades de Israel - de que “não havia suspeita de qualquer crime cometido” - foram refutadas com “as provas disponíveis que agora foram apresentadas” – provas que, segudo a Al Jazeera, demonstram que este “assassínio deliberado fazia parte de uma campanha mais ampla para atingir e silenciar” o canal.

Reconhecendo o “esforço e apoio contínuos da comunidade internacional e das organizações de Direitos Humanos”, ao exigirem que os autores deste crime sejam responsabilizados, a Al Jazeera e a equipa jurídica da empresa reiteram o “compromisso de obter justiça para Shireen e de usar todos os meios para garantir que os perpetradores sejam responsabilizados e levados à justiça”.
Al Jazeera acusa Israel de fugir a responsabilidades

Em comunicado emitido na segunda-feira, antes de anunciar a existência de novas provas apresentadas ao Tribunal Penal Internacional, a Al Jazeera acusou as forças de ocupação israelitas de se recusarem a assumir as responsabilidades no assassinato da jornalista do canal.

"Depois de se recusar a assumir a responsabilidade por mais de 100 dias, as Forças de Ocupação de Israel anunciaram hoje as conclusões da sua investigação de que é muito provável que Shireen Abu Akleh tenha sido acidentalmente morta por um soldado israelita num 'incidente infeliz'".

A Al Jazeera Media Network denuncia "as conclusões desta investigação e enfatiza que esta admissão evasiva nada mais é do que uma tentativa das IOF para fugirem da responsabilidade criminal pelo assassinato de Shireen, o que foi comprovado por inúmeras investigações independentes e internacionais".

Nesse sentido, o grupo condena "a relutância das Forças de Ocupação de Israel em admitir explicitamente o seu crime e as tentativas de evitar o julgamento dos perpetradores". Por isso, a empresa de media do Catar "exige que um órgão internacional independente investigue o assassinato de Shireen Abu Akleh para obter justiça para ela, a sua família e colegas jornalistas em todo o mundo".

Recorde-se que a jornalista e reconhecida repórter da cadeia televisiva do Catar Al Jazeera, equipada como colete à prova de balas e a menção "Press", foi morta com uma bala na cabeça em maio deste ano.

O exército israelita, que ocupa a Cisjordânia desde 1967, reconheceu em setembro, e pela primeira vez, existir "uma forte possibilidade" de que tenha sido morta por um dos seus soldados.
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