Ameaças de intervenção do Exército. Chefe do Pentágono demarca-se de Trump

por RTP
Jonatahn Ernst, Reuters

O secretário da Defesa norte-americano, Mark. T. Esper, demarcou-se das ameaças de fazer intervir o Exército contra os protestos pelo assassínio de George Floyd, que o presidente tem emitido com frequência nos últimos dias.

Esper afirmou, concretamente, que a Lei da Insurreição (Insurrection Act) não pode ser invocada neste contexto: "A opção de usar tropas em serviço activo para impor a lei só deveria ser usada como último recurso e só na mais urgente e catastrófica das situações (...) Neste momento não nos encontramos numa dessas situações. Não apoio a invocação da Lei da Insurreição".

O secretário de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany, reagiu entretanto às questões que a declaração de Esper levanta, afirmando que este continua no seu posto, mas deixando aberta a possibilidade de ele vir a ser exonerado. Segundo citação da agência Reuters, o responsável de imprensa disse textualmente: "Neste momento, o secretário Esper continua a ser o secretário Esper e, se o presidente viesse a perder a confiança nele, todos ficaríamos a sabê-lo no futuro".

Esper também tinha manifestado abertamente o seu incómodo quando, na segunda feira, Trump mandou abrir caminho entre os manifestantes, manu militari, para se fazer fotografar de Bíblia em punho na Igreja de S. João. O secretário da Defesa, que acompanhava Trump nesse percurso, declarou à NBC: "Eu não sabia para onde ele ia".

Segundo o Washington Post, fontes do Pentágono tinham admitido que havia uma discussão interna sobre a indicação intervencionista do presidente e que se avaliava se seria de fazer intervir tropas em serviço activo no apoio à Guarda Nacional, para tentar ajudar a controlar as manifestações em curso. A invocação da Lei da Insurreição equivaleria a uma declaração do estado de sítio, atribuindo ao Exército prerrogativas como a de efectuar detenções, que a lei ordinária não lhe reconhece.

Depois de ter ameaçado fazer intervir o Exército, Trump já se vira implicitamente desautorizado por funcionários da Casa Branca, que declararam a sua confiança nos governos estaduais para controlarem a situação. Também algumas figuras destacadas do Partido Republicano tinham manifestado desagrado pela ideia, considerando-a uma violação dos direitos que a Primeira Emenda garante aos manifestantes. Depois desses primeiros revezes, Trump dera, em privado, sinais de querer recuar.

Entretanto, é certo que o Departamento de Defesa tinha elaborado planos de contingência para uma eventual intervenção militar, nomeadamente planos para defender a Casa Branca e outros edifícios federais, se a certa altura a Guarda Nacional se revelasse ultrapassada pelos acontecimentos na capital.

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