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Amnistia Internacional acusa Emirados Árabes de crimes de guerra no Iémen

por Graça Andrade Ramos - RTP
A organização apela a uma investigação e afirma que centenas de homens desapareceram, após serem arbitrariamente detidos pelas forças dos EAU e do Iémen Reuters

Numa declaração publicada esta quinta-feira, a Amnistia Internacional denuncia maus tratos generalizados, incluindo tortura, infligidos a centenas de detidos no Iémen numa rede de prisões secretas, por parte de forças dos Emirados Árabes Unidos (EAU) e de forças iemenitas suas aliadas.

A organização apela a uma investigação e afirma que centenas de homens desapareceram, após serem arbitrariamente detidos pelas forças dos EAU e do Iémen "operando à margem do comando do seu próprio governo" e num clima de absoluta impunidade.Os Emirados estão envolvidos desde 2015 na guerra no Iémen, incluídos numa força internacional liderada pela Arábia Saudita, que procura restituir o poder ao Governo sunita desalojado por forças xiitas apoiadas pelo Irão.

Afirma que estão em causa possíveis crimes de guerra.

Os EAU têm financiado e equipado uma série de forças de segurança locais no sul do Iémen, conhecidas como Cinto de Segurança e Elite e alegadamente implicadas numa série de abusos.

De acordo com a Aministia, as investigações conduzidas entre março de 2016 e maio de 2018 nas províncias do sul, incluindo Aden, Lahj, Abyan, Shabwa e Hadramout, revelaram a utilização generalizada da prática de tortura e de outros abusos e maus tratos nas instituições iemenitas e dos Emirados, incluindo espancamentos, utilização de choques elétricos e violência sexual.
Crimes de guerra
"Os EAU, operando em condições pouco transparentes no sul do Iemen, parecem ter criado uma estrutura de segurança paralela e à margem da lei, onde violações flagrantes prosseguem sem controlo", afirmou Tirana Hassan, diretora da Amnistia Internacional para a resposta a crises.

"No fim de contas, estas violações, que estão a suceder no contexto do conflito armado do Iémen, deveriam ser investigadas como crimes de guerra", acrescentou.

No ano passado, uma investigação por parte da Human Rights Watch e da Associated Press revelou que estas forças estabeleceram uma rede de prisões secretas e informais onde centenas de pessoas estão detidas e submetidas a tortura.

Tanto os EAU como os aliados imenitas negaram as conclusões da investigação, mas agora a Amnistia reforça as denúncias.

Acusa as forças dos Emirados de estarem envolvidas na administração das prisões, além de desaparecimentos forçados, tortura e detenções arbitrárias, num ambiente de absoluta impunidade.
Contradições
Os Emirados, ao negarem as acusações relativas aos centros de detenção secretos, apelaram "ao Governo do Iémen para realizar uma investigação independente ao assunto", comprometendo-se a apoiar as autoridades locais.

Afirmaram ainda que "estes relatórios têm motivações politicas para fragilizar os seus esforços como parte da coligação árabe em apoio do Governo imenita".

O mês passado, a missão dos Emirados em Genebra garantiu que as autoridades iemenitas detêm "o controlo absoluto do governo local e federal, e dos os sistemas judicial e prisional".

Contudo, o ministro do Interior do Governo sediado no sul do país, Ahmed al-Maysari, contradisse esta declaração no início desta semana, ao solicitar aos Emirados para encerrarem ou entregarem as prisões que administrava.

Terça-feira, o mesmo al-Maysari anunciou um acordo com os EAU e afirmou que todas as prisões tinham sido transferidas para a alçada das autoridades iemenitas,

Os EAU são um aliado dos Estados Unidos na região e fazem parte do esforço para desalojar as milícias Houthi apoiadas pelo Irão, que controlam grande parte do norte do Iémen, incluindo a capital Sanaa, desde um golpe de estado que obrigou à fuga do então Presidente, Saleh Ali al-Sammad.

Responsáveis Houthi anunciaram em abril a morte de Saleh num ataque com drones por parte da coligação internacional árabe, uma informação não confirmada independentemente.
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