Anexação de territórios na Cisjordânia. Netanyahu desmente versão de Kushner

por RTP
Reuters

O antigo primeiro-ministro israelita vem desmentir o ex-presidente dos EUA e o seu conselheiro sénior ao garantir que agiu em coordenação com a administração Trump para a anexação de partes da Cisjordânia.

A alegação de que o primeiro-ministro Netanyahu surpreendeu Jared Kushner e o [ex] presidente [Donald] Trump ao anunciar a intenção de Israel de aplicar a lei israelita aos 30% da Judeia e da Samaria previstos no plano de Trump como território israelita soberano é completamente falsa”, afirmou um porta-voz de Netanyahu, citado pelo Jerusalem Post.

Em janeiro de 2020, logo após Donald Trump ter apresentado o plano de paz para o Médio Oriente, Netanyahu anunciou a intenção de levar à votação o seu projeto de alargar a soberania de Israel a partes da Cisjordânia.

O então embaixador dos Estados Unidos em Israel declarou aos meios de comunicação social que Israel poderia começar a trabalhar na anexação assim que completasse o seu processo interno.

“Na verdade, Friedman garantiu a Bibi [Netanyahu] que conseguiria que a Casa Branca apoiasse a anexação imediatamente”, escreveu Jared Kusher no livro que vai ser lançado no final do mês “Fazendo história: uma Memória da Casa Branca”. Mas “não me transmitiu isso nem a qualquer elemento da minha equipa”, acrescenta o também genro do então presidente dos Estados Unidos.

No livro Sledgehammer: como romper com o passado trouxe a paz ao Médio Oriente, o embaixador cita as palavras de Jared Kushner quando garante desconhecer que “Bibi ia anexar o raio do Vale do Jordão hoje”. Terá sido durante uma reunião “longa e desagradável”, que Kushner fez saber a Netanyahu que pensava que o processo de identificação de áreas a serem anexadas iria demorar algum tempo. Netanyahu respondeu não ser necessário mapear o Vale do Jordão. “Nunca discutimos isso”, garante agora Kushner.

Por seu lado, o então primeiro-ministro de Israel revelou ter trocado missivas com Donald Trump no dia anterior à cerimónia de apresentação do plano de paz. “A carta do presidente Trump deixou claro que os EUA apoiariam a declaração de soberania de Israel sobre este território, e a carta do primeiro-ministro deixou claro que Israel avançaria com uma declaração sobre soberania ‘nos próximos dias'”, declarou o porta-voz de Netanyahu.

O entendimento sobre quanto tempo seriam estes “próximos dias” poderá variar. Contudo, no discurso de apresentação do plano de paz a soberania de Israel foi admitida por Donald Trump: “Os Estados Unidos reconhecerão a soberania israelita sobre o território que a minha visão fornece para fazer parte do Estado de Israel. Muito importante".

No seu livro, editado este ano, Friedman nota que Netanyahu estava disposto a não se comprometer com nenhuma construção fora das áreas da Cisjordânia que o plano de Trump destinava à soberania israelita. Kushner não menciona esse acordo.

A tensão entre a administração da Casa Branca e o primeiro-ministro de Israel sobre a questão da anexação prolongou-se pelos meses seguintes, diz o antigo conselheiro de Trump, atribuindo o motivo às concessões para os palestinianos de Jerusalém exigidas pelos EUA, e que não se verificaram.

Preocupados com o facto de Netanyahu prosseguir unilateralmente com os seus planos, os americanos disseram ao primeiro-ministro israelita que, se o fizesse, “não havia garantia de que nosso governo bloqueie as sanções internacionais contra Israel que se seguiriam”. 

Netanyahu acabou por suspender a anexação quando os Emirados Árabes Unidos normalizaram as relações com Israel.
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