Os políticos não fazem o suficiente para prevenir e ajudar as vítimas de violência sexual em conflitos armados, nem para deter os agressores, diz a enviada especial do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, Angelina Jolie. Representantes de cerca de 70 países reúnem-se hoje e terça-feira em Londres numa Conferência de Prevenção da Violência Sexual em Conflitos, onde vão discutir formas de combater este tipo de crimes.
Passados quase dez anos sobre a declaração de intenções, Angelina Jolie, conhecida atriz e enviada especial do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), vem denunciar a falta de ação dos governos no apoio e defesa das vítimas de violência sexual.
"Profundamente doloroso e frustrante"
Numa década “houve algum progresso” escreve Jolie na publicação britânica The Guardian. Mas “apesar dos compromissos assumidos pelos governos, não vimos uma ação significativa e duradoura em nível global. Isso é profundamente doloroso e frustrante.”
Jolie, que lançou a Iniciativa de Prevenção da Violência Sexual em Conflitos (PSVI) com o então secretário de Relações Exteriores britânico William Hague em 2012, aponta o dedo aos executivos por não haver progresso “suficiente" em levar os perpetradores à justiça, e ajustarem prioridades na ajuda aos sobreviventes.
“Nós reunimo-nos e discutimos esses horrores e concordámos que não deveriam voltar a acontecer. Prometemos traçar – e manter – essa linha” afirmou.
WATCH! Co-Founder of The Preventing Sexual Violence in Conflict Angelina Jolie
— Foreign, Commonwealth & Development Office (@FCDOGovUK) November 28, 2022
“When human beings are physically assaulted in this way, there has to be a decisive global response.”#PSVI #ForSurvivorsWithSurvivors pic.twitter.com/Eom6FQG8D2
Nimco Ali, diretora-executiva da Five Foundation , uma organização que trabalha para mulheres e meninas em todo o mundo, observou que prometer dinheiro não é suficiente.
"Não basta vermos compromissos renovados”, disse Ali. "Está provado que esses compromissos não são suficientes ou confiáveis. O Gabinete de Relações Internacionais, da Commonwealth e de Desenvolvimento precisa incorporar a mudança e atualizar as suas próprias prioridades, colocando os princípios da igualdade de género no centro das suas políticas de ajuda e diplomacia".
Jolie relembra: "Estamos a falar de crimes de extrema brutalidade. Agressões a mulheres e homens na frente das suas famílias. Falamos de violação coletiva de crianças – que foram vítimas em quase metade de todos os casos verificados pela ONU no ano passado".
"A violência sexual em conflitos torna a paz mais difícil de alcançar – e menos estável. Aumenta o risco de violência doméstica. A agressão impulsiona o deslocamento e impede as meninas de irem à escola. Deixa cicatrizes de traumas e estigmas que afetam sociedades inteiras e atravessam gerações" sublinha Angelina Jolie.