Angola avisa que acusação a Manuel Vicente ameaça relações com Portugal

por Carlos Santos Neves - RTP
Luanda fala de um “sério ataque à República de Angola” Carlo Allegri - Reuters

“Inamistosa e despropositada”. O Governo de Luanda avaliou assim, esta sexta-feira, a forma como foi divulgada, em Portugal, a acusação do Ministério Público ao vice-presidente angolano. Manuel Vicente está acusado de corrupção ativa, branqueamento de capitais e falsificação de documento no âmbito da Operação Fizz. O regime considera mesmo estar em causa o relacionamento bilateral.

É numa nota com o selo do Ministério das Relações Exteriores que Luanda lavra um protesto contra a justiça portuguesa, quer contra as acusações do Ministério Público, quer contra a forma como estas foram conhecidas.

O Governo angolano vem agora queixar-se de um “aproveitamento” por parte de “forças interessadas em perturbar ou mesmo destruir as relações amistosas existentes entre os dois Estados”.

O Ministério das Relações Exteriores de Angola sublinha que as autoridades do país viram “com bastante preocupação, através dos órgãos de comunicação social portugueses”, a acusação “por supostos factos criminais imputados ao senhor engenheiro Manuel Vicente”.

No entender do Governo angolano, a forma como a notícia chegou aos meios de comunicação social traduz mesmo “um sério ataque à República de Angola, suscetível de perturbar as relações existentes entre os dois Estados”.

“Não deixa de ser evidente que, sempre que estas relações estabilizam e alcançam novos patamares, se criem pseudo-factos prejudiciais aos verdadeiros interesses dos dois países, atingindo a soberania de Angola ou altas entidades do país por calúnia ou difamação”, afirma-se na nota, citada pela agência Lusa.
Visita adiada
Ainda segundo o texto das Relações Exteriores, Angola entende que os dois países deveriam focar-se “nas relações mutuamente vantajosas, criando sinergias e premissas para o aprofundamento da cooperação económica, cultural, política, diplomática e social, como meio de satisfação dos interesses fundamentais dos seus povos”.

Recorde-se que na passada terça-feira foi protelada sine die a visita de 72 horas a Angola que a ministra portuguesa da Justiça deveria encetar no dia seguinte. Num breve comunicado, o Ministério de Francisca Van Dunem limitou-se a anunciar que a deslocação “foi adiada, a pedido das autoridades angolanas, aguardando-se o seu reagendamento”.

Luís Filipe Fonseca, Paula Meira - RTP (23 de fevereiro de 2017)

A visita da ministra estava confirmada desde 10 de fevereiro, quando o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, esteve em Luanda para preparar a deslocação oficial do primeiro-ministro, António Costa, a Angola.
A acusação
Foi precisamente há uma semana que a Procuradoria-Geral da República anunciou as acusações para o procurador Orlando Figueira, o ex-presidente da Sonangol e atual vice-presidente de Angola Manuel Vicente, o advogado Paulo Blanco e Armindo Pires no âmbito da Operação Fizz, que investiga alegados crimes de corrupção e branqueamento de capitais.

Segundo a nota então divulgada pelo gabinete de Joana Marques Vidal, Orlando Figueira, magistrado do Ministério Público de setembro de 1990 a setembro de 2012, foi acusado de um crime de corrupção passiva, um de branqueamento (em coautoria com os outros três arguidos), um de violação de segredo de justiça e outro de falsificação de documento, também em coautoria.

Manuel Vicente, à data dos factos presidente da petrolífera angolana, está acusado de um crime de corrupção ativa (em coautoria com os arguidos Paulo Blanco e Armindo Pires), um de branqueamento (em coautoria com os demais arguidos) e um crime de falsificação de documento, em coautoria.

O advogado Paulo Blanco responde por alegados crimes de corrupção ativa (em coautoria com os arguidos Manuel Vicente e Armindo Perpétuo Pires), branqueamento de capitais (em coautoria com os restantes arguidos), violação de segredo de justiça e falsificação de documento, também em coautoria com os restantes arguidos.

Armindo Pires, representante em Portugal de Manuel Vicente, foi acusado de corrupção ativa (em coautoria com Paulo Blanco e o vice-presidente de Angola), branqueamento de capitais (em coautoria com os restantes arguidos) e falsificação de documento (em coautoria com os demais).

c/ Lusa
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