Antissemitismo. Partido Trabalhista britânico arrisca perder fundos do sindicato

por RTP
Simon Dawson/Reuters

O líder sindical da Unite the Union, Len McCluskey, ameaçou rever as doações ao Partido Trabalhista depois de o partido anunciar uma indemnização a ex-funcionários que, alegadamente, foram acusados de serem denunciantes de "antissemitismo".

O líder sindical e principal "benfeitor" do Partido Trabalhista classificou a decisão do partido, de pagar uma indemnização a sete ex-funcionários que acusaram o partido de não ter posto fim ao "antissemitismo", de "grande erro de cálculo".

O Partido Trabalhista pediu desculpas e concordou em pagar indemnização a sete denunciantes que processaram o partido por difamação depois de terem sido acusados de denunciar ao Panorama da BBC casos de antisemitismo no partido, apesar da pressão do ex-líder do partido Jeremy Corbyn para combater a situação.

"Antes da transmissão do programa, o Partido Trabalhista emitiu um comunicado de imprensa que continha alegações difamatórias e falsas sobre esses denunciantes", dizia o pedido de desculpas do partido. "Reconhecemos os muitos anos de serviço dedicado e comprometido que os denunciantes prestaram ao Partido Trabalhista como membros e como funcionários. Agradecemos a sua valiosa contribuição a todos os níveis. Retiramos sem reservas todas as alegações de má fé, malícia e mentira".

O partido acrescentou ainda que pretendia "pedir desculpas sem reservas pela angústia, constrangimento e sofrimento causados ​​pela sua publicação", tendo decidido "pagar-lhes uma indemnização".

Len McCluskey, cujo sindicato cedeu ao Partido Trabalhista cerca de sete milhões de libras desde janeiro de 2019, disse no sábado ao Observer que estas indemnizações foram um "abuso do dinheiro dos seus membros".

"Muito disso é dinheiro da Unite e já estou a ser solicitado a todos os tipos de perguntas pelo meu executivo. É como se um enorme cartaz tivesse sido colocado do lado de fora do Partido Trabalhista com 'faça fila aqui com o seu pedido e receba o seu pagamento'", disse à publicação o sindicalista britânico, alertando o novo líder do partido, Keir Starmer, para não considerar o apoio financeiro do sindicato "como garantido".

Para McCluskey é claro que o objetivo é por fim ao antissemitismo no partido, mas é preciso "equilibrar as coisas".

"Quanto mais rápido o último antissemita no Partido Trabalhista for expulso, melhor para todos nós", acrescentou.

No entanto, "houve muitas reclamações e acusações sobre o Partido Trabalhista ser institucionalmente antissemita", o que o líder do Unite "rejeita".

McClucksey afirmou ainda, na entrevista, que vai tentar combater qualquer manobra de política de direita de Keir Starmer, que garante estar empenhado em erradicar o antissemitismo no partido.

"Teremos que esperar para ver como a situação se desenrola. O Unite é financeiramente uma união muito poderosa e forte. Temos um fundo político que é o maior de toda a Europa. Então, é claro, os meus membros esperam que tenhamos influência nesse aspecto", disse McCluskey.

Certo é que as finanças do Partido Trabalhista estão no centro das atenções, com mais nove ex-funcionários a ameaçar reivindicar por alegada violação de dados, quando um relatório foi indevidamente publicado e divulgou mensagens privadas do WhatsApp.

O relatório de 800 páginas, revelado em abril, mostrava ainda que Corbyn teria tentado impedir as investigações sobre antissemitismo no partido, sugerindo que tais alegações foram feitas para enfraquecer a sua posição.
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